Durante quase toda minha vida, eu vivi com a constante e impertinente sensação de que era atropelada. Obviamente, não em seu sentido literal, tendo meus ossos e corpo dilacerado – isso seria bem angustiante, na verdade – mas sim, em seu sentido figurado. Era como se as emoções de todos os outros fossem capazes de sobressaírem às minhas e eu ficasse para trás. Onde todos eram obras incrivelmente perfeitas, e eu um rascunho mal projetado, sem a pretensão de ser aperfeiçoado.Eu não era memorável, especial ou diferente. Não era aquela pessoa notável no ônibus, cuja qual as pessoas morriam de amores, nem aquela que se destacava o suficiente para ser levada à sério. Não era dona de uma aparência extraordinária, nem possuía apetrechos chamativos no corpo, como piercings ou brincos. Minhas tatuagens eram pequenas e quase ninguém percebia. Eu não tinha um corte de cabelo maneiro, nem usava roupas extravagantes. Eu era só mais uma jovem comum, que muito facilmente, lhe passaria despercebido caso nos esbarrassemos por aí. Era aquela que não faria diferença estar ou não estar, e todos pareciam fazer questão de me deixar isso claro.
Eu era um verdadeiro projeto mal realizado. Uma lâmpada apagada..
No entanto, apagada até ela aparecer..
Afinal, desde o momento em que coloquei meus lábios sobre os lábios de Jiwoo naquele dia, senti como se fosse capaz de iluminar uma cidade inteira com a intensidade dos meus sentimentos.
Eu, definitivamente, nunca mais seria uma projeção mal feita após aquilo. Ela havia me acendido. Estava nítido.
O beijo não foi nada majestoso, à princípio. Na minha percepção, Jiwoo nunca havia beijado ninguém antes, então eu tinha de ser paciente com ela. Mas, a partir do instante em que ela colocou a mão sobre minha nuca, puxando-me para mais perto, cheguei a duas conclusões. A primeira, era de que talvez, aquele não fosse o seu primeiro beijo. E a segunda, era de que já estava tornando-se perceptível o fato de que eu não conseguiria me controlar durante muito tempo. Ou a gente se soltava, ou eu não me conteria mais.
— Jiwoo-ya.. — Sussurrei, desvencilhando-me de seus braços. Ainda mantínhamos uma aproximação considerável, mas achei mais confiável soltá-la.
— Huh? — Respondeu no mesmo tom, mantendo seus olhinhos fechados, regulando sua respiração.
— Eu ach-
E eu não tive a chance de concluir a fala. Talvez Jiwoo tenha notado que eu, muito provavelmente, falaria alguma besteira após o beijo, então estava impedindo de dizê-la, selando nossos lábios outra vez. Fôra somente um selinho, singelo e delicado, mas que serviu de aviso para que eu ficasse quieta na minha, sem buscar contradições para o que tínhamos acabado de fazer. E eu devo lhes dizer, fôra uma ação extremamente interessante para mim.
Jiwoo não se dava muito bem com as palavras, mas usufruía da linguagem corporal muito bem, deixando à mostra todas as suas emoções, mesmo que não dissesse. E isso era bastante peculiar.
— Vamos? — Perguntei, vendo que já estávamos no chão outra vez. Jiwoo apenas assentiu, fazendo um coque mal feito em seu cabelo. Evitando qualquer tipo de contato visual comigo.
Yeojin já nos aguardava do lado de fora com os braços cruzados e uma expressão avaliativa, ao lado de Jungeun, Jinsoul e Chaewon, que conversavam algo entre si. Tais coisas levaram-me a crer que havíamos dado duas voltas sem perceber.
— Pensei que não fossem sair mais! — Alegou a morena, semicerrando os olhos.
— É, mas saímos. — Retruquei, pedindo através do contato visual, para que ela parasse de analisar Jiwoo de cima a baixo.
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Feel Special
FanficOnde Kim Jiwoo possuí TEA (Transtorno do Espectro Autista) e Ha Sooyoung, uma adolescente ordinária que não sabe que rumo dar para a própria vida, é a única pessoa que tem acesso ao seu mundinho particular. autora original: @wonggukie