This is not the end, but...

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Gravei cada um dos traços de Kim Jiwoo, que se mantinha deitada tranquilamente sobre minha barriga, segundos antes de vê-la se erguer para deitar mais próxima a mim, quase em cima. Seus lábios entreabertos e o cabelo avermelhado caindo sob seus olhos, faziam-me pensar em como havíamos chegado até aquele local, ou em como cheguei até o ponto de estar adormecendo mais em seus braços, no que na minha própria cama. Sua respiração, calma e serena, também entregavam quase que de imediato, o fato de que talvez ela estivesse pensando nas mesmas coisas que eu.

A luz do sol lhe cobria quase que inteiramente enquanto nos mantínhamos deitadas e em silêncio sobre a cama de Kim Jungeun, apenas curtindo a presença uma da outra. E enquanto eu passava a mão sobre sua bochecha, traçando caminhos imaginários sob suas pintas, escutava seus batimentos cardíacos, não muito silenciosos, sobre meu corpo.

Eu queria perguntar-lhe sobre tudo o que tinha dúvida, mas sempre que tinha a oportunidade de vê-la e de ficar sozinha na sua presença, usufruía do tempo para beijá-la ou para admirá-la. E tinha certeza que jamais me cansaria disso. Ou seja, nunca dialogávamos de fato.

Jiwoo havia criado uma forte ligação com Jungeun graças a mim, e em decorrência disso, vivíamos em sua casa. Jungeun sempre conseguia convencer a mãe de Jiwoo a deixá-la ir para lá. E tudo bem que, às vezes, Jungeun se sentia um pouco desconfortável na nossa presença, pois quase sempre tinha o desprazer de pegar-nos se beijando. Mas era coisa momentânea, e ela sempre nos recebia de braços abertos.

Naquele dia em específico, Jungeun não estava, nem mesmo sua mãe. Ela havia ido para casa Yeojin, mas disponibilizou seu quarto para que pudéssemos ficar sozinhas. E nós não recusamos ou fizemos pouco caso de sua bondade. Tínhamos coisas para resolver, mesmo que no fundo, soubéssemos que jamais as resolveriamos, então decidimos ir para lá. Jurei à Jungeun não mexer em nenhuma de suas coisas, mesmo sendo sua melhor amiga de longa data, e assim mantive minha promessa. Tocando apenas em sua cama.

Jiwoo adorava manter nossas pernas entrelaçadas sempre que nos deitavamos, então já era de se esperar que ela fosse fazer isso em algum momento. E tendo ciência disso, aproveitei o momento para abraçá-la com mais força, repousando sua cabeça na altura do meu pescoço.

— Por que é que estamos aqui, Ketchup? — Perguntei num sussurro quase inaudível. Referia-me a tudo, não só àquele momento em específico. Gostaria muito de saber o que se passava em sua cabeça ao meu respeito, e a respeito da nossa não concretizada relação. Nunca havia lhe feito aquela pergunta, mas agora queria saber.

— Porque você faz com que eu m-me sinta especial. — Disse ela, de modo conciso e óbvio.

— Mas o que seria te fazer especial..? — Dessa vez, levantei levemente seu rosto através de seu maxilar, forçando-a à me olhar.

— Durante toda minha vida, eu tive v-vontade de me esconder.. — Começou ela, olhando-me diretamente nos olhos. — Sempre soube da m-minha condição, então nunca quis de fato, encarar o mundo. Era como se eu fosse só mais uma escória para minha mãe, e c-conseq-quentemente, para o mundo.

Eu escutava atentamente cada uma de suas palavras, por mais que algumas ainda lhe fossem de difícil pronunciar gravando cada detalhe de seu depoimento. 

— Eu só queria ficar ali, quieta. Nada t-transcendia as paredes do meu quarto.. — Nesse momento, Jiwoo colocou-se de barriga para baixo, apoiando-se sobre os cotovelos. — Mas foi só você chegar..

Eu suspirei ansiosa. Temia que ela dissesse algo que me fizesse ficar com a consciência pesada. Já que se tratando dela, eu sempre deveria ser cautelosa, e eu quase nunca era.

Feel SpecialOnde histórias criam vida. Descubra agora