Prólogo

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Após passar por cinco abortos nos últimos anos, Vitória não conseguia explicar a sensação de segurar sua única filha pela primeira vez. A gravidez foi intensa, quanto mais o tempo passava maior o medo de perder outro filho, medo de se apegar demais, ter esperanças para no final tudo ruir e uma nova onda de depressão afogá-la em um poço obscuro do qual já não tinha certeza se seria capaz de sair.

Além é claro da pressão e do sentimento de obrigação que era gerar um herdeiro ao trono de Cortana.

Seu marido George Aldama, sentado na cama a seu lado parecia extasiado com a visão da nova princesa, havia fascínio em seus lindo olhos verdes, os mesmos que a bebê herdara.

_ Virão atrás dela, eles irão machucá-la _ disse ele quase em um sussurro

_ Eu sei _ respondeu a esposa, a voz embargada de exaustão após horas de trabalho de parto _ temos que seguir com o plano, até que a guerra acabe.

Ambos ficaram em silêncio, apenas observando enquanto uma das mãozinhas da criança segurava com afinco uma mecha de cabelo da rainha.

_ Perdão _ ele disse depois de o silêncio se estender pelo que pareciam horas _ estou falhando como pai e marido, deveria ter encontrado alguma forma de encerrar a guerra a muito tempo. O problema é que os valorianos estão decididos a conquistar nossos territórios e isso nos faria parecer fracos perante o resto do mundo, incapazes de nos defender, o que acarretaria em novos ataques_ ele gesticulava sem parar.

_ George, você é o rei, tem deveres, milhões de vidas dependem de você.

_ Isso não muda o fato de que estamos prestes a abdicar de nossa filha.

_ Isso também me machuca _ respondeu a mulher com severidade e sem desviar os olhos prosseguiu_ mas ao menos ela estará por perto. Mary é minha dama de companhia, minha melhor amiga, fará sentido para toda Corte se eu for carinhosa e protetora com a menina, se sempre estiver por perto, as pessoas verão isso como um sentimento materno que nunca tive a chance de expressar.

_  Exatamente,  tentamos ter filhos a 13 anos e agora que finalmente temos uma, teremos de esconder isso, criar toda uma história ridícula para que ela não seja alvo desses monstros.

_ George, estou a sete meses longe do Palácio com a desculpa de ajudar minha melhor amiga grávida e doente, tudo que desejo é voltar para casa, mas nós dois sabemos que no momento em que anunciarmos ao mundo sobre a existência dela, nossa menininha se tornará nosso ponto fraco, onde inimigos tentaram atingir. E por mais doloroso que seja, prefiro ouvi-la chamar outra mulher de mãe e ainda assim poder acompanhar seu crescimento a perdê-la para sempre por estar morta.

O rei respirou fundo, raiva e tristeza o assolavam, o sentimento de incapacidade de mudar a situação, de proteger a própria filha, ele sabia que a mulher estava certa, de modo que não tentou argumentar mais, apenas tentou aproveitar ao máximo aquele momento de felicidade com sua família.
     

                     

Duas semanas depois voltavam para o Palácio alguns guardas,  o rei, a rainha e sua dama de companhia agora com uma pequena bebê nos braços.
                        
Tempos foram se passando e ninguém na corte ou fora desta estranhava a ternura com a qual a rainha tratava a menina, nem percebiam que sempre que esta chorava de fome e era levada para seus aposentos a monarca convenientemente encontrava algum lugar para ir, ou que rei ia visitá-la todas as noites para segurá-la nos braços e lhe dar um beijo.

E durante alguns anos a garota ficou conhecida como Bella, a garotinha de cabelos pretos como a noite, os olhos verdes com um brilho genuíno, a filha da melhor amiga da rainha, aquela que era mimada e paparicada, que jantava junto a líderes de estado, recebia a melhor educação e usava roupas refinadas, tudo por simples bondade da rainha e do rei.

O que ninguém sabia entretanto é que não se tratava de gentileza, era amor, puro e intenso, capaz de mudar o mundo e a garota era na verdade Isabella Aldama a única e legítima herdeira de Cortana, aquela que quando crescesse se tornaria uma lenda.

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