Aquela era mais uma das noites comuns e repetitivas que venho tendo desde um incidente em específico. Perco as contas de quantas vezes reviro pela cama enorme, fria e vazia. Buscando e caçando como um desesperado, o descanso que a muito tempo perdi.
Entro em contradições e dilemas internos enquanto encaro o teto. Desejo, por uns segundos, fechar os olhos e sumir, entregando-me totalmente para a escuridão e incertezas que a dormência carrega consigo. Mas, ao mesmo tempo que anseio por isso, outra parte de mim torce para que não venha a acontecer, porque sei o que seguirá.
Devo esquecer você.
Tirar sua maldita presença invisível, que como uma sombra, insiste em acompanhar-me e surgir todas as vezes que sinto a solidão, insistente como uma visita indesejada, bater em minha porta. E não são poucas.
Porque, a cada momento que encosto minha cabeça, confusa e agitada, no travesseiro, sou agraciado à provar do bendito fruto proibido do sono, e é aí que automaticamente sentencio o início de minhas sessões de sofrimento.
Nem em meus mais profundos sonhos ou pesadelos, consigo quebrar as amarras desse maldito elo, que com garras invisíveis, permanece fortemente fincado em meu coração.
Tudo passa como um flashback por minha cabeça, como um filme sendo exibido, onde sou um mero espectador, obrigado à assistir e reviver os mínimos detalhes de todas aquelas memórias e recordações.
Sempre voltando para nossa última briga, quando já cansado e desgastado com tudo, me lançou um sorriso triste e melancólico. Como se o destino ou você previssem e soubessem que aquele gesto seria uma despedida. Dando as costas e saindo pela porta, por mais que, agora eu implore e insisto como uma criança, para que não vá, você nunca permanece.
Acordo gritando seu nome por entre meus lábios ressecados, que insistem em pronunciá-lo, acompanhados de um choro abafado, preso no fundo da garganta. Como em um impulso repentino, direciono os olhos para o lado direito da cama, buscando o formato e calor que exalavam de seu corpo.
Mais uma vez meu cérebro brinca, e todas essas vezes em que penso que estará ali, a realidade confronta quando vejo que o vazio permanece marcado e inalterado.
Porque depois daquele dia em que te machuquei com minhas palavras, intolerância e egoísmo, deixei você ir. Mais tarde, horas depois de sua partida, na madrugada solitária que seguia, recebi aquele telefonema do acidente de carro e a confirmação de que jamais voltaria.
É idiotice pensar que toda essa dor e amargura seria algo passageiro. Que o arrependimento deixaria de consumir e queimar minha carne com o tempo.
Tempo.
Sempre escuto o mesmo, que preciso desse maldito "tempo" para curar tudo e me fazer esquecer as recordações ainda mornas em meus pensamentos. Tudo é idiotice, e para o buraco e vazio que deixou, nada apaziguará isso. Não importa a passagem dos anos, seguirei com essa sombra a me acompanhar, da falta que você me faz.
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【Insomnia】(ブパ可)
Short Story" Escrevendo para aliviar o peso de palavras, sentimentos e coisas não ditas. Transformando ideias e pensamentos intrusivos em arte. Achando uma jeito de mostrar que existe uma forma rara de beleza no caos das ideias guardadas e algumas noites de in...