3. Confissões

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1.181 palavras

Rose observava o céu com o pensamento longe, o vento brincava com os fios de seu cabelo, os deixando levemente esvoaçantes. Distraída, não percebeu quando o garoto loiro centímetros mais alto do que ela se aproximou. Os olhos dele estavam vermelhos e levemente inchados, como os de quem havia chorado por um tempo prolongado. A distração da garota foi interrompida quando as mãos do garoto tocaram seus ombros.

— Alvo disse que você queria falar comigo…

Ela se virou e o encarou com carinho. O silêncio predominou por algum tempo antes que ela formulasse o que gostaria de dizer:

— Bom, na verdade, eu achei que talvez você queira falar comigo.

Scorpius sentiu os olhos lacrimejarem e cerrou os lábios para não voltar a chorar, afinal as lágrimas estavam surgindo com facilidade. Ele deu um longo suspiro e abraçou a melhor amiga. Ele sabia que poderia confiar nela e, principalmente, sabia que ali teriam todo o tempo do mundo para conversar sem que ninguém os interrompesse — e isso incluía Alvo Potter, que era a pessoa que ele mais tinha medo que ouvisse algo daquela conversa. Além do mais, ele estava realmente precisando falar com alguém. Já tinha lidado sozinho com tudo o que estava sentindo há tempo demais.

De início, Scorpius não sabia por onde começar. Era tanta coisa em seu peito, tanta confusão, tanto medo, tanta agonia. Ele se sentia perdido numa bagunça interior. Era como se sua alma estivesse bagunçada.

Aí ele chorou.

Era o que ele mais tinha feito nos últimos dias. E parecia a forma ideal de deixar transbordar tudo, sem apelar para a outra forma, que soava como uma explosão. Apesar de tudo, ele não gostaria de pedacinhos de Scorpius voando por aí.

Scorpius chorou e Rose esperou. Afinal de contas, ela era boa nisso. Boa em ouvir, em esperar, em estar presente e mostrar que se importava. A garota sabia esperar o tempo em que a outra pessoa estivesse pronta para começar a falar.

No entanto, Rose não entendia bem o que poderia estar acontecendo. Nunca tinha visto Scorpius assim antes. Ele parecia com extrema dificuldade em lidar consigo mesmo. Ainda enquanto ela pensava, a voz rouca e baixa soou no ambiente:

— Eu tô apaixonado pelo Alvo, Rose…

Sem querer, Rose arregalou um pouco os olhos. Então era isso. A vontade foi dizer que isso não era problema algum, até porque era uma paixão recíproca. Mas ela não se sentia no direito de falar isso. Era algo que precisava ser confessado pelos dois, de um para o outro. Então ela sorriu e passou o polegar pelas bochechas do loiro, secando as lágrimas que estavam ali.

— Sabe, Scorp, eu sei que parece algo absurdo e comparado com o fim do mundo pra você, mas eu tô aqui pra te ajudar a lidar. Eu tô surpresa sim, porque não imaginava isso. Você esconde bem o que sente. Mas, me diz, como tá se sentindo com isso?

E Scorpius apenas falou, falou, falou. Desabafar com Rose era fácil. Ela não fazia julgamentos, não menosprezava seus receios, não desaprovava seus argumentos… Ela apenas ouvia com atenção.

Ele confessou que se sentia errado por estar apaixonado por um garoto, primeiramente. Ele achava que seus pais não lidariam bem com isso, afinal não sabia de nenhum Malfoy ou Greengrass que fosse casado ou tivesse um relacionamento com alguém do mesmo gênero.

Depois, ele disse como se sentia ainda pior por ser apaixonado por um garoto que era seu melhor amigo. Ele tinha medo de confessar o que sentia e Alvo não corresponder, ou pior: se afastar dele. Ele morria de medo de estragar a amizade deles, ainda mais do que de decepcionar sua família.

E para finalizar, ele ainda se sentia culpado, porque no meio de toda essa confusão de sentimentos, ele próprio estava se afastando de Alvo, o evitando, com medo de o encarar. Com medo de que o melhor amigo percebesse por suas atitudes, por seus gestos, por seus olhares, o quão apaixonado ele estava por si.

Então ele contou como passou dias e dias fugindo para a biblioteca tentando encontrar algum método de fazer uma paixão desaparecer e, quando finalmente tinha encontrado uma poção, Alvo tinha o pego no flagra durante o preparo. Tudo tinha dado errado e tudo estava sendo incrivelmente difícil de lidar nas últimas semanas.

Rose esperou que ele falasse e só então começou a falar. Seu impulso era dar uma de cupido, mas ela se colocou no lugar dos dois e pensou em como seria difícil se ela percebesse estar apaixonada por um deles. É, seria realmente complicado.

Ela tentou mostrar para o amigo que estar apaixonado por alguém do mesmo gênero não era nada errado e que os pais dele o amavam. Eles iriam aceitar quem ele escolhesse para desfrutar a felicidade ao seu lado. Talvez no início eles achassem algo diferente e fizessem alguns questionamentos, mas ela tinha certeza que eles aceitariam bem. “Tia” Astoria era um amor de pessoa e o “tio” Draco tinha aprendido muito com a guerra e com a esposa.

Em relação a Alvo, ela fez questão de lembrar como os três tinham sido desde sempre um apoio um para o outro. Por mais que ele não tivesse o mesmo sentimento que ele — e quem garantiria que não? Como ele escondeu bem, Alvo também poderia ter escondido —, ele não iria apenas o excluir de sua vida.

— Vocês precisam conversar, sabe? Uma conversa franca, de coração aberto, Scorp. Por mais difícil e assustador que isso possa parecer. Assim como você acabou de conversar comigo, precisa conversar com ele. Eu tenho certeza que ele vai te ouvir e te dar todo o apoio do mundo. Você precisa se permitir isso, pra se livrar de todo esse peso que tá carregando. Tá sendo ruim pra você e pra ele também. Você não sabe como ele tá triste por ver você se afastando mais a cada dia…

Scorpius assentiu, sem dizer nada, porque no fim das contas ele sabia que a garota estava certa. Era uma situação que gritava com urgência por uma conversa franca. Mais um pouco de silêncio se espalhou pelo ar.

— Não prometo chamar ele pra conversar, mas prometo não fugir se ele fizer isso, ok? — A voz de Scorpius era um pouco receosa a respeito de sua própria promessa.

— Assim que se fala, Scorpius Malfoy. Assim que se fala. — Rose riu e o abraçou, beijando sua bochecha.

— Agora vou voltar pro dormitório. E tomara que Alvo já tenha dormido.

Rose cerrou os olhos em desaprovação, mas não conseguiu conter a risada. No fim das contas o clima já estava bem mais leve entre eles, ela sabia. Depois de se despedirem, ela começou a pensar em como poderia interferir para aquela conversa acontecer, porque bem sabia que os dois fugiriam muito disso, mesmo que por motivos diferentes. Não poderia mandar uma coruja agora, porque Scorpius veria, mas no dia seguinte ela encontraria uma maneira de conversar com Alvo e o convencer a conversar com Scorpius. Ah, se encontraria...

Sentimentos - Scorbus - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora