Capitulo II - Perdidos em memorias

90 7 10
                                    

Já haviam se passado três semanas desde que a primavera chegara, a neve derreteu e em seu lugar, o verde floresceu. As flores antes secas, agora vibravam em cores e vida, o ar frio e gélido fora embora, em lugar agora reside a brisa fresca de primavera. Mesmo assim, a estação que trazia esperança e alegria, não conseguiu afugentar o ar soturno e desesperançador que assolava a galáxia.

O campo da primavera era um dos lugares mais bonitos de Statera, todo seu território era pintado por flores das mais diversas cores — azul, amarelo, violeta... —, seu mato havia crescido até a altura dos joelhos, e fazia cócegas ao caminhar pelo lugar. Os quatro sóis do planeta estavam em seu auge, iluminando totalmente aquela parte do planeta. Mesmo com toda essa gloriosa imagem, a guerra ainda a afetava.

Statera era um planeta neutro, todos os clãs haviam decidido isso logo no início, não podíamos nos envolver com uma guerra, sendo que mal podíamos manter nossos clãs em paz. No começo, pareceu funcionar, outras centenas de planetas também eram neutros, mas agora, 2 anos seguidos de uma guerra sem sentido, sobraram apenas algumas dezenas de planetas neutros, e todos os dias mais e mais tomavam partida em um lado da guerra.

Suspirei profundamente e me sentei no chão, sendo engolida por todo aquele mato. Abracei minhas pernas e deixei com que meus pensamentos fluíssem enquanto eu observava a paisagem. Mesmo com meu planeta sendo neutro, Statera já havia se afetado com a guerra.

Os animais, que antes enchiam o campo, agora estavam escondidos, como se inverno nunca tivesse acabado. As grandes famílias de pássaros, que antes decoravam o céu com suas cores e cantos, hoje também se escondiam, como se pressentissem o perigo. Apenas algumas aves solitárias e perdidas voavam sem rumo acima, apenas esperando seu fim. Statera estava sendo pressionada a tomar um lado e adentrar a guerra, e a natureza sentia isso.

— Você deveria parar de pensar tanto, minha irmã. — Yorek atravessava o campo, com certa pressa, até mim. — Um dia ainda vai morrer de tanto pensar. — Disse ele, sentando-se ao meu lado.

— E você deveria pensar mais, logo vai se tornar rei e ainda acha que tudo se resolve sozinho. — Respondi, com um sorriso no rosto.

— Minha querida irmã, eu penso bastante, só não deixo ser consumido por eles. — Yorek sorriu, mas sua expressão divertida sumiu tão rápido quanto surgiu, sendo substituída por preocupação. — Ayslum...

— Não. — O interrompi, desviando o olhar. — Seja o que for, pode esperar, aprecie nosso planeta por um minuto, irmão. — Ele abriu a boca para responder, porém desistiu e resolveu me obedecer.

Meu coração doía de preocupação, eu sabia que algo ruim havia acontecido, e sabia que tinha haver com a guerra, eu não podia fugir disso para sempre, mas gostaria de aproveitar pelo menos um último minuto.

Eu suspirei, deixando o limpo ar de Statera adentrar meu corpo, deixei sua essência fundir com o meu sangue, deixei com que fluísse para cada membro meu, diluindo meus pensamentos, diluindo minha preocupação.

— O que aconteceu? —Perguntei, quando senti meu coração se acalmando, mesmo que não estivesse totalmente pronta parara a resposta.

Yorek se virou para mim e me encarou em silêncio.

Ele tinha mais traços de nossa mãe, enquanto eu, tinha mais traços de nosso pai. Ele era alto e pálido como eu, com o corpo magro, porém com músculos definidos, sua pele era decorada por símbolos desenhados em um azul extremamente escuro, quase preto. Seu cabelo era curto, da mesma cor dos símbolos, uma barba rala decorava seu rosto, e seus olhos eram da cor de esmeralda, olhos que sempre traziam arrogância, confiança e alegria, mas que agora estavam sombrios, assombrados pela preocupação e confusão.

Obi Wan | Redenção Onde histórias criam vida. Descubra agora