Abro os olhos lentamente para me acostumar à claridade, que ainda era pouca, que vinha dos estores e pego no telemóvel que estava na mesa de cabeceira. Ao virar-me na cama sinto o braço dele sobre a minha cintura. Olho para trás e vejo o seu rosto descontraído e relaxado. Já com o telemóvel na mão, carrego num botão de modo a acender o ecrã para ver as horas. Eram 8:26 e hoje era sábado.
Ethan e eu somos namorados já lá vão uns três anos. Como ele já faz parte da família, não é problema dormir cá em casa.
Tirei o seu braço de cima da minha cintura, com todo o cuidado possível, e fui até à casa de banho. Lavei a cara e penteei um pouco o cabelo, pois estava demasiado despenteada. Saí do quarto e fui até à cozinha preparar algo para o meu pequeno-almoço. Cereais era o ideal para uma manhã de sábado.
Sentei-me no sofá a ver televisão e a comer os cereais até que alguém toca à campainha. Levanto-me e vou até à porta para ver quem era."Quem é?" - pergunto
"Correio, menina."
Abro a porta e lá estava o carteiro do costume com os seus cabelos grisalhos e com a sua simpatia de sempre.
"Correio ao Sábado, senhor John?"
"Entrega especial menina Annie..."
"Para quem?"
"Não sei, menina. Assine aqui por favor."
Assinei o que o senhor John me tinha pedido e depois de lhe desejar um bom dia fui para o sofá novamente com a caixa nas mãos. Tinha um bilhete pendurado, abri-o e li o seu conteúdo.
"Bom dia querida, sei que não estou aí ao teu lado mas eu não me esqueceria do teu aniversário! Muitos parabéns meu amor, logo à tarde ligo para falar contigo e com a Annie. Beijos, amo-te muito.
Ass: Mathew "O meu pai estava fora, em trabalho, e por isso é que mandou esta encomenda no aniversário da minha mãe. Ela vai ficar radiante quando vir!
Fui ao quarto dela e esta encontrava-se a dormir. Abanei o seu corpo levemente e esta não reagiu."Mãe, acorda!" - digo com algum gozo na voz
Nada, ela estava quieta. Normalmente até se levanta mais cedo que toda a gente.
"Mãe, para com a brincadeira porque não tem piada. Quanto mais velha pior, sinceramente!"
Levanto os estores e volto para junto dela. A sua cara estava pálida e os seus lábios roxos. Mexi-lhe na mão e esta estava completamente gelada. Abanei-a mais uma vez e o seu corpo parecia gelatina.
"Ethan! Vem cá rápido!" - grito
"Que foi Annie?" - aparece ao meu lado com a respiração alterada
"A minha mãe não acorda, Ethan..." - começo a chorar - "A minha mãe não acorda..."
"Senhora Ella?" - Ethan agarra no seu pulso - "Não tem pulso, chama uma ambulância Annie."
A minha mãe não pode ter morrido, não assim, não agora! Pego no telefone fixo e faço a chamada para o 112. Rapidamente atendem. Conto o que se passou e ao fim de dar a minha morada, disseram que em 6 minutos estavam aqui. Preparei um copo de água com açúcar pois estava muito nervosa. Não sabia o que fazer, isto ainda é um pouco surreal. Ontem à noite quando ela se foi deitar estava tão bem, estava bem-disposta por fazer anos e tudo... O que é que se passou?
Fui ao quarto novamente e lá estava Ethan a destapar a minha mãe e a arranjar-lhe a camisa do dormir. Ele tinha os olhos vermelhos de chorar e as suas mãos tremiam imenso. A minha mãe era como uma mãe para ele. Ethan cresceu só, até que uma família decidiu adotá-lo. Mas nem aí ele teve sorte, a família adotiva dele tratava-o mal e exploravam-no. Punham-no a fazer tudo em casa e eles viajavam e deixavam-no sozinho. Aos 18 saiu de casa e veio viver comigo durante uns tempos enquanto arranjava dinheiro para comprar a sua própria casa. Hoje, já tem a sua casa e a sua independência.
A campainha soa por toda a casa e rapidamente vou abrir a porta. Os paramédicos entraram e foram ao quarto com as minhas indicações. Entraram e olharam para a minha mãe. Um deles agarrou no seu pulso e fez exatamente o que Ethan tinha feito à momentos atrás. O paramédico olha para o outro e abana a cabeça negativamente. Chegam mais dois paramédicos com uma maca e os que já se encontravam no quarto pegaram na minha mãe e deitaram-na na maca. Taparam-lhe o corpo e um dos paramédicos dirigiu-se a nós enquanto os outros levavam a minha mãe para a ambulância."Lamento imenso o que aconteceu. Será feita a autópsia e depois saberemos o que causou a morte da sua mãe, agradecemos que venham até ao hospital para termos os dados da sua mãe e fazer o registo."
"Iremos atrás de vocês." - diz Ethan enquanto me abraça pela cintura. - "Tem calma Annie, não chores, princesa."
Nada disse. Agarrei-me a ele a chorar cada vez mais. Os meus pensamentos estavam todos confusos, não sabia o que pensar ou o que fazer. A minha mãe morreu e eu não pude fazer nada para o impedir! Sou tão fraca, eu não presto como filha. Como não reparei que algo estava mal? A culpa é minha.
"Annie temos de nos ir vestir, anda." - pega-me ao colo e leva-me até ao quarto.
Tiro uma roupa ao calhas e visto-me rapidamente. Ethan já estava pronto. Saímos de casa e fomos para o carro de Ethan. Seguimos a ambulância e em dez minutos estávamos no hospital. O nosso carro teve de ir para o estacionamento normal e o combinado era encontrarmo-nos com o paramédico na receção do hospital. Quando o paramédico chegou ao pé de nós, deu-nos uns papéis para assinarmos. Eu não sabia o que era aquilo tudo, nunca tinha passado por algo assim.
"Tratem-me por Liam, vou-vos ajudar a tratar disto pois já percebi que estão sozinhos agora." - diz o paramédico
"O pai dela está fora em trabalho e ainda não o avisámos, quando formos para casa ligamos-lhe."
"Annie, preciso que me dês os teus dados..." - Liam fala para mim
"Annie Clark, 20 anos e nasci em Bradford." - digo sem emoção
"Annie, estás na universidade?"
"Segundo ano de psicologia."
Depois de lhe ter dado mais uns dados tanto meus como da minha mãe, eu e Ethan fomos para casa. Ethan foi tirar a roupa da cama da minha mãe e pô-la para lavar. Enquanto isso eu ganhava coragem para contar ao meu pai que a minha mãe morreu.
"Estou sim?" - diz o meu pai
"Pai..." - começo a chorar
"Annie! O que se passa querida? Porque estás a chorar?"
"Pai... A mãe..." - não consegui dizer mais nada pois comecei a chorar. Ethan pegou no telefone e falou
"Mathew, é o Ethan..." "A sua mulher faleceu hoje de manhã, lamento imenso." "No hospital." "Depois irão ligar-nos com as informações." "Claro nós avisamos." "Eu digo." "Tudo bem, adeus."
Desliga o telefone e abraça-me.
"O teu pai vem hoje mas só deve chegar amanhã princesa. Ele disse para seres forte e que tudo vai passar."
"A culpa é minha Ethan. Eu não pude salvá-la! A culpa é minha!"
"Annie não digas isso! A culpa não é tua! Anda, vamos para o quarto descansar."
Pegou-me na mão e levou-me para o quarto. Deitei-me em cima do seu peito enquanto chorava e ele fazia-me festas no cabelo.
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Espero que gostem deste início, votem e comentem por favor! ❤️
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Lonely
Teen FictionUma história cheia de emoções fortes e mistérios... #766 in Ficção adolescente --> 04/09/2015