Capitulo 4

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**Annie**

"Ethan, o que é que se passou?" - pergunto enquanto tento perceber onde estou.

"Annie..." - aperta-me a mão - "Tiveste um esgotamento, princesa... Mas está tudo bem!" - sorri

"Eu só me lembro de estar a discutir contigo... Desculpa-me, eu não --"

"Shh já passou..." - interrompe-me

"A minha mãe? Posso vê-la?"

"Annie, estás numa cama de hospital. Pensa um pouco... O médico receitou-te calmantes! Tens de ter calma com tudo isto. Sim, é difícil assimilar tudo o que aconteceu mas tu és forte e vais ter calma. Não piores o teu estado, não é disso que precisas agora."

"Tens razão... Desculpa."

Sim, ele tem mesmo razão. Eu não posso estar assim, não agora que precisam de mim. O meu pai quando chegar vai precisar de mim e eu vou ter de o pôr bem. Estas coisas não se programam, nem se adivinham. Acontecem porque têm de acontecer e tudo o que acontece não é por acaso.

Depois de umas longas horas na cama de hospital com Ethan ao meu lado, o médico deixou-me ir para casa. Afinal de contas, já era de noite. Este dia foi um daqueles para esquecer. Nunca pensei que podia perder alguém que amo tanto. Óbvio que sabemos que tudo tem um fim mas o que fazemos é afastar a ideia da nossa mente. Como se tivéssemos uma tira de papel onde a nossa vida estivesse desenhada, onde poríamos as coisas más? No final da nossa vida? Ou no início, quando não percebemos ainda o que nos rodeia? Óbvio que a ideia que mantemos dos nossos pais é que eles são eternos. Por muito maus, injustos e cruéis que sejam, eles serão sempre os nossos pais e admitindo ou não, sabemos que a ideia de os perder nos afeta imenso.
Hoje eu senti algo inexplicável, senti uma dor que não desejo a ninguém. A dor que anuncia a perda daquele alguém que tanto amas, daquele alguém que te apoiou quando todos os outros te viraram as costas. A minha mãe era e é a minha melhor amiga, nunca deixará de o ser mesmo depois de ter partido. Foi e será com ela que eu vou contar para tomar decisões. Seja uma decisão difícil que condicione a minha vida ou seja a decisão de que cor hei-de colocar os atacadores nos ténis.

"Estás bem?" - pergunta Ethan assim que nos deitámos na cama

"Estou, apenas estou a ver o meu dia interiormente."

"Como assim interiormente?"

"Estou a ver como me senti ao longo do dia. Fase da felicidade, da negação, da angústia, da culpa, da tristeza, da fragilidade, séria e por fim, a fase mais importante... Aquela em que aceito tudo e que me apercebo que tenho motivos para sorrir pois as lembranças que ela deixou foram as melhores da minha vida."

"Lembra-te, na imensa escuridão irás sempre encontrar uma luz..."

Foram aquelas as palavras de Ethan antes de me desejar boa noite e adormecer. E ele tem razão, na escuridão haverá sempre uma luz. Nem que seja o subconsciente a criá-la, mas ela existe. É essa luz que eu encontrei. A luz que me irá colocar um sorriso na cara ao lembrar-me dela contando as suas piadas e fazendo palhaçadas. Lembrar-me dela como ela sempre foi, feliz.

***

"Annie, filha..." - o meu corpo é abanado ligeiramente

"Pai?"

"Acabei de chegar..." - os seus olhos estavam vermelhos

"Pai..." - abraço-o

"Porquê a ela, Annie?" - diz enquanto chora

"Pai... Não vale a pena ficares assim, lembra-te como a mãe era e como ela ia gostar que nós estivéssemos bem!"

"Sabes que isso é impossível." - responde enquanto nos dirigimos para a sala

Na parede estava um relógio que marcava pouco mais que as seis da manhã.

"Pai, o Ethan fez-me ver que as coisas não podem ser assim tão más como aparentam. Temos de ser fortes e temos de aguentar isto. Não podemos escolher em que altura é que as coisas podem acontecer e se aconteceu agora, então iremos ultrapassar isto agora. Vai descansar um pouco para o quarto de hóspedes, ao menos lá não te deitas naquela cama."

"Eu vou fazer isso, acorda-me quando forem para o hospital está bem?"

"Claro, vá... Tu és forte." - beijo-lhe a bochecha.

Vou até à cozinha e preparo uma caneca com fruta e um iogurte, apetecia-me algo fresco pois estava calor. Depois de ter preparado o meu pequeno-almoço, dirigi-me para sala e liguei a televisão.

"Já acordada a minha leoa?" - Ethan aparece atrás de mim beijando-me o pescoço.

****Flashback****
"Sabes, tu és uma leoa..."
"Uma leoa? Porquê?"
"O teu cabelo cacheado... É como se fosse a juba do leão... Mas como és a minha Annie, és a minha leoa"
**** ****

Já à imenso tempo que ele não me chamava assim... Fez-me lembrar de quando estávamos no início da nossa relação, foi aí que ele me deu esta alcunha. Na altura não tinha achado muita piada mas agora, até que acho incrivelmente adorável.

"Parece que sim..." - sorri

"Mas, estás bem?"

"Sim Ethan, estou bem... Não te preocupes!"

"Eu vou sempre preocupar-me..." - beija-me - "O teu pai já chegou?"

"Está no quarto de hóspedes a descansar..."

"Como é que ele está?"

"Muito mal Ethan... Pior do que eu pensava..."

"Estamos aqui os dois para não o deixar ir abaixo certo?"

"Certo." - sorri

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