O Jogo de Cartas

4 0 0
                                    

Entrou na porta e olhou ao redor. O corvo estava em um galho de uma árvore, olhando para Maya.

- Olá, Maya - disse ele.

- Olá. Sentiu saudades?

- Senti, sim.

O céu estava nublado, assim como estava na manhã em que a garota se perdeu.

- Corvo, eu preciso da sua ajuda. Nós vamos jogar cartas com um Bobo-da-corte. Eu não sei como funciona, ou se você já acompanhou alguém até aqui.

- Não me lembro de ter acompanhado ninguém- disse o corvo.

A menina estava muito nervosa. Sentia tanta falta de seu gato amassando pãozinho e das patas geladas de puddles em suas mãos. Agora ela não sabia se conseguiria ir para casa.

- Prometa pra mim que vai tentar resistir? - pergunta a garota, com esperança.

- Eu não gosto de promessas porque não consigo cumpri-las na maior parte das vezes- responde o corvo - mas vou me esforçar.

Foram andando pelo campo de girassóis, que apontavam para baixo. Era uma tarde sem sol, e repleta de dúvidas.

Como estavam andando no caminho contrário, o mundo começou a se despedaçar. Tudo começava a se tornar cinzas.

- O que esta acontecendo?

- Parece que chegamos no fim deste mundo.

- E o que acontece se nós continuarmos andando?

- Vamos dar a volta nele.

O mundo começou a voltar ao normal, mas não era o mesmo lugar em que estavam antes. Eles viram uma mesa, longe dali.

- Eu vou conseguir voltar para casa?

- Vai sim.

Foram então de encontro à uma mesa com duas cadeiras. Não era uma mesa com toalha e com um jogo de chá ou guloseimas, mas uma mesa com um baralho. Maya já sabia o que iria acontecer.

Assim que sentou na cadeira, olhou para frente e viu o bobo-da-corte. Ele tinha a cara pintada de branco, com lágrimas pretas em seus olhos e uma sobrancelha de cada cor.

- É um prazer te ter aqui, Maya - cumprimenta

- vejo que trouxe um animal com você.

O corvo olhou tímido para o bobo.

- Como eu posso voltar para casa? - pergunta a garota.

-Como deves saber, eu terei que deixar você entrar na porta. Você não vai simplesmente ganhar uma chave, mas eu tenho uma. E só te darei se você ganhar um jogo.

A menina engoliu seco. Ela estava com medo de perder.

- O corvo poderá jogar também - adicionou - O que você gosta de jogar? Sabonete, pife, rouba-monte? Tem que ser um jogo rápido, não se preocupe. Seu sapinho não vai precisar esperar muito.

- Pode ser pife - disse Maya - E o que acontece se o corvo ganhar?

- Se o corvo ganhar, ele escolhe o seu destino. Mas as regras mudam com o tempo, sabe como é.

Agora, por favor, não se apressem. Podem conversar ou fazer o que quiserem.

Maya achou melhor começar o jogo logo.

- Sábia escolha - disse o bobo - vamos começar.

O bobo embaralhou as cartas e distribuiu. O jogo foi curto, e Maya estava em dúvida: Deixava de fazer um trio com o dois ou Fazia uma sequência sem o dois?

A menina estava sem saber o que fazer. Deixou uma de suas outras cartas na mesa e o corvo gritou:

- Pife!

O corvo havia ganhado a partida.

O bobo suspirou. Depois, começou a rir.

"não, não, não..." dizia, baixinho.

- Eu ganhei - disse o corvo - Agora nos deixe sair.

- Oh, mas pense bem... Eu sei do que você gosta. Posso arranjar qualquer coisa. Desde carniça até um filé mignon para você.

O corvo estava sem saber o que dizer. Maya olhou de canto para o animal, e ele entendeu.

- Sinto muito. Mas Maya precisa ir para casa. Eu recuso a oferta.

- Como assim recusa? Você sabe o que irá perder? Eu posso te oferecer coisas que nunca vai encontrar em sua vidinha de dez anos!

- Eu recuso. Por favor, nos leve para o resto do campo.

O bobo-da-corte foi diminuindo de tamanho, com uma cara triste. começou a chorar. Ele se transformou, assim como nas outras provas, em borboletas. Uma chave estava no lugar dele.

Eles haviam terminado a jornada. Nesse instante, a coelha chamou pelo nome da menina, no espelho.

-Corvo, muito obrigada por me ajudar, desde o momento em que me perdi. Eu não estaria aqui se não fosse pela sua preocupação e responsabilidade por mim.

- Disponha- devolveu a ave - muito obrigado por ensinar a mim e meus amigos. A generosidade para o guaxinim, a bravura para o raposo, a autoconfiança para o gambá e a humildade para Jade. Você que nos guiou neste percurso inteiro.

Assim que entraram pela porta, todos os animais estavam esperando Maya.

-Maya! - gritou o guaxinim - que bom que você está bem!

- Estamos muito felizes em saber que você conseguiu! - disse Jade.

- Muito obrigado por me ensinar a me amar assim como amo os outros - agradeceu o gambá.

- Sem você, eu seria o mesmo raposo medroso que eu costumava ser. Você me tornou um cavaleiro corajoso!

- Eu agradeço por terem me guiado até aqui. Vocês conseguiram tudo isso não por causa de mim, mas por acreditarem em si mesmos. Só se muda quando se permite mudar; deixa de lado quem costumava ser e passa a ser quem realmente é.

- Maya! - Grita a coelha, correndo - que bom que está bem!

Com amor, MayaOnde histórias criam vida. Descubra agora