A NOITE SE ABRIU DIANTE DELE, recebendo-o com uma lufada de ar gelado que o faria tremer. Naquele momento, porém, o vento era um beijo suave e refrescante. Ele se deixou cair de joelhos, ainda à procura dos lobos. Quando não viu nem ouviu qualquer sinal deles, caiu de costas sobre a terra.
– Espere! Espere por mim!
Sven ergueu os olhos, sobressaltado,
– É você – arfou quando Sabine se aproximou. Estava tão cansado que já não sentia mais o próprio corpo.
Ela pousou de joelhos sobre o peito dele, sentindo-o subir e descer com a respiração.
– É claro que sou eu – disse. – Irei com você a partir agora!
– Comigo?! Para onde?!
– Não sei – disse ela, batendo as asas e descrevendo um círculo no ar. – Isso não faz parte da aventura? Não saber onde ela termina?
Ele se sentou sobre a grama. Ao longe, colinas verdejantes e escurecidas pela noite se estendiam até desaparecer por entre bosques e rios. Aqui e ali havia um pontinho luminoso que indicava uma cidade.
– Aventura – disse ele. A palavra tinha um sabor engraçado, provocava uma coceira na língua. Então ele desatou a rir, e riu até perder o que lhe restava de fôlego. Em uma única noite Sven escapara de ser esfaqueado, morto e esquecido, ou devorado por lobos em uma floresta onde ninguém encontraria seus ossos. Estivera próxima da morte antes, mas nunca daquela forma, e nunca tantas vezes de uma vez só. – Uma aventura! É claro!
Sabine descreveu um círculo no ar. Então Sven se lembrou da maçã em sua mão e sentiu o estômago roncar. Cravou os dentes na fruta, apenas para sentir o interior duro como uma pedra.
– Que diabos?! – praguejou após quase quebrar os dentes. Destroçou o exterior da maçã com as unhas, revelando o interior vermelho e brilhante. Um rubi do tamanho do punho fechado de uma criança. – Isso… isso vale uma fortuna!
– Mesmo?! – exclamou Sabine. Nada sabia do valor do dinheiro, mas estava empolgada.
Sven se levantou, olhando as luas no céu através do rubi. As coisas que poderia fazer com aquele dinheiro: uma farra digna de lendas, contratar mercenários para se vingar dos que o haviam traído, ou…
– Começar uma vida nova.
Ele lançou o rubi ao alto e o apanhou no ar, guardando-o logo em seguida.
– Para onde vamos? – perguntou Sabine, sentando-se no ombro dele quando ele começou a caminhar. Pesava menos que um passarinho. Ele próprio se sentia leve como um.
Ele deu de ombros.
– Quem sabe para onde iremos, senão para onde a aventura nos levar?
Ele caminhou de cabeça erguida, olhando adiante com um sorriso no rosto. Havia um brilho novo em seu olhar, um que a fada ainda não conhecia.
– Você parece feliz – riu Sabine. – Tem certeza de que está se sentindo bem?
Sven ponderou por um momento sobre como se sentia.
– Sinto-me vivo – disse ele. – Livre.
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Sven & Sabine
Fantasy"Sven e Sabine", uma aventura anterior a "Os Doze Guardiões da Luz" (http://www.novostalentosdaliteratura.com.br/?p=4736). Todos os direitos da obra registrados e protegidos pela Fundação Biblioteca Nacional, escritório de direitos autorais do Minis...