Capítulo 3

26 7 0
                                    

– ACORDE! ACORDE, SEU PREGUIÇOSO!

Ela tentou empurrá-lo, sem sucesso. Puxou a boca dele, puxou as narinas e tentou abrir suas pálpebras, mas ele não despertou. Então, ela voou até uma árvore e arrancou a maior folha que conseguiu. Encheu-a de água em uma poça de chuva próxima, voando com dificuldade até acima dele e despejando o conteúdo da folha em seu rosto.

– Quem?! O quê?!

Sven acordou  sobressaltado. Tentou  se levantar, mas se enrolou  nas próprias pernas e caiu de costas no chão.

– Finalmente! – protestou a fada, voando ao redor dele. Por apenas um momento ele viu um pássaro falante, quando então a verdadeira forma dela surgiu diante de seus olhos.

– É você – disse Sven. – A fada. Na gaiola. – Ele olhou ao redor, vendo apenas a floresta. – Onde estou? Estava andando, procurando a saída quando de repente…

– O canto das fadas pode fazer um mortal dormir – disse ela, didática. Voava despreocupadamente,   descrevendo   círculos  no   ar. – Também   pode   atraí-lo   ou enlouquecê-lo, fazê-lo se esquecer de quem é e muitas coisas mais.

– Achei que sereias fizessem esse tipo de coisa, não fadas – respondeu  Sven, sentando-se no chão. A tontura passava aos poucos.

– As sereias descendem das fadas, você não sabia? – Ela descreveu um círculo no ar e pousou de joelhos sobre as palmas das mãos em concha dele. Suspirou longamente, e ele se espantou ao perceber o quanto ela parecia triste. – Eu estava explorando os arredores da floresta quando aqueles homens maus me capturaram. Um deles, o gordo, havia caído do cavalo e estava gritando por socorro. Quando me aproximei para ajudar, ele enlouqueceu. Achou que eu era um pássaro falante e me colocou em uma gaiola.

– Eles pareciam certos de que você era um pássaro. Também vi você dessa forma, a princípio. Por que eu consigo ver a verdade e eles não?

Ela deu de ombros, como se não fosse importante.

– Apenas aqueles que acreditam nas fadas conseguem nos ver como realmente somos. Os outros veem apenas ilusões. – Ela torcia os dedos, cabisbaixa. – As crianças nos veem porque acreditam na magia. Mas então elas crescem, tornam-se adultos tristes e se esquecem da magia e de seus sonhos. E de nós.

Até então, mesmo com o calor da pequena criatura em contato com as mãos dele, ela ainda parecia irreal, fruto de um sonho louco que se sonha acordado. Suas palavras, no entanto, tocaram o coração de Sven, algo que ele não sentia há muito tempo. Foi como abrir uma caixa e encontrar um objeto precioso de sua infância, algo querido e há muito esquecido.

– Qual é seu nome, pequenina?

– Sabine – disse ela, esfregando uma lágrima. – Meu nome é Sabine.

Ele se levantou e ela pairou diante dele, batendo as asas para permanecer no ar.

– Algo me diz que você me salvou de uma enrascada enquanto eu dormia. A propósito,  meu nome  é  Sven. –  Sabine riu encabulada, e havia algo de bonito e reconfortante em seu riso. – Enfim, detesto dizer isso, mas acho que estou perdido. Poderia me indicar o caminho para fora da floresta?

Ela hesitou. Voou ao redor, procurando a melhor forma de colocar o que tinha a dizer.

– À noite, principalmente quando as luas estão cheias, a fronteira entre Gaia e Arcadia se torna mais estreita na Grande Floresta. Reparou como as estrelas aqui são outras? – disse, fazendo Sven olhar para o céu. – Você entrou no país das fadas e nem percebeu!

– E imagino não seja uma boa ideia permanecer aqui por mais tempo. – Uma sensação de  urgência crescia dentro  dele.  Precisava encontrar  a  saída. –  Mostre  o caminho!

Sven & SabineOnde histórias criam vida. Descubra agora