defeitos

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quando tentam escapar entre as cortinas, desligo as luzes, cancelo o espetáculo e a casa cheia se esvazia. completamente só. então choro, me despedaço por não gostar de ser inteira sozinha e todas as minhas palavras se confundem até virar pó. preciso tanto que alinhem o sol nos meus cabelos, que sussurrem enredos antigos e me carreguem no colo. mas não há maneira de entender meus desejos se, a qualquer menção de afeto espontâneo, arranco o coração do peito e o devoro até esquecer como cheguei aqui.
caso seja eu quem os encontre, os destruo até não existir mais qualquer rastro. não penso, não choro, não minto, não sinto a dor de cada primeira sensação roubada pelo compasso mal calculado do destino. e por mais que repita todas as promessas já feitas entre nossos dedos, basta um momento de incerteza pra que outras mãos pareçam encaixar melhor na sua, mesmo que insista em me envolver com o corpo inteiro. enterro cada pedaço dessa mágoa sem sentido, intercedendo para que tudo vá embora assim que fechar os olhos.

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