Acontece que além de gritar sozinho nas montanhas, cantar ou às vezes só escutar as melodias que saíam do toca discos, O Garoto Peculiar também gostava de ir para esse lugar para adimirar o mar. Às vezes, ele ficava se perguntando se os dias eram menos chuvosos e nublados além do horizonte do mar, pelo menos até onde seus olhos conseguiam enxergar. Em Eroda, pouco se via a luz do sol. Ele se perguntava como deveria ser sentir os raios do sol esquentando cada célula da sua pele. Se perguntava que se talvez o sol existisse em Eroda, ninguém iria se assustar com o brilho do seu sorriso, pois aquele resplandecer definitivamente não se compararia ao do sol.
Além disso, ele gostava de estudar arco-íris. Todos diziam que não poderia ser uma profissão normal, ninguém faz isso, mas O Garoto conseguia ver tão mais além do que aquelas cores no céu. Ele conseguia ver um espírito precioso e diferente em cada arco-íris que aparecia para ele. Um dia ele se perguntou se pessoas poderiam virar arco-íris em alguma das suas encarnações. Se sim, ele definitivamente queria ser um. "Ninguém olharia ele com desprezo se ele estivesse lá no alto", era o que ele pensava.
Então, um dia, enquanto andava pelas ruas, desajeitado, com seu grande capacete de mergulho, ele quase foi atropelado por uma criança andando de bicicleta. A criança caiu quando freiou e derrubou tudo que guardava em sua mochila transparente. O Garoto foi ajudar a criança a recolher tudo, sorrindo para ela, mas ela não via seu sorriso.
— Por que você usa isso na cabeça? — Perguntou a criança, deveria ter uns cinco anos no máximo.
— Para não assustar ninguém com minha verdadeira face. — Respondeu O Garoto, pegando um dos livros que a criança trazia e ficando analisando ele, interessado.
— Por que as pessoas se assustariam com a verdade? Ela é feia?
— Não! Mas ela é rara em Eroda. Não quero machucar ninguém.
— Você gostou? — Perguntou a criança sobre o livro que ainda estava nas mãos do Garoto.
— Parece interessante.
— Pode ficar com ele. Minha mãe não deixa eu ler ele.
— Por que?
— Não sei. Pelo o que você falou, deve ser porque tem verdades demais. — Concluiu a criança, terminando de recolher tudo, deixando o livro com O Garoto e logo depois indo embora em sua bicicleta.
Naquele fim de tarde, O Garoto foi correndo desengonçado para casa, com seu novo livro na mão. Sua casinha era composta apenas por dois cômodos, o quarto adorável dele e o banheiro. O quarto tinha paredes da cor azul clarinho, piso de madeira, cama de solteiro, de madeira também, com colchas de cama sempre em tons pastéis, paredes com alguns quadros com desenhos de roupas, uma cômoda ao lado da cama, onde ficava uma pequena TV velha, na parede oposta a cômoda, uma velha máquina de costura onde ele costumizava suas roupas e do outro lado da cama, uma grande janela de onde dava para enxergar a lua.
Ele ficou tão interessado no livro, que nem lembrou de ligar a TV ou de ir buscar alguma comida na lanchonete. Foi rápido para o banheiro, tomou banho, vestiu seu pijama listrado e deitou na cama para ler seu novo livro. O nome do livro era Louis The Fish do autor Arthur Yorinks. Ele se encantou logo nas primeiras páginas. Louis era um rapaz insatisfeito com sua vida. Logo ele entendeu porque a mãe da criança proibiu ele de ler. Ninguém em Eroda poderia ser insatisfeito com a vida. Eles deveriam agradecer sempre a tudo que Eroda lhes dava. Continuando, ele logo chegou na parte que o Louis virou um peixe e finalmente encontrou sua felicidade. Aquilo lembrava O Garoto do sonho dele de virar um arco-íris. Louis e ele tinham o mesmo sonho: ser feliz, ser aceito e compreendido.
O Garoto viu que Louis conseguiu sua felicidade de uma forma inusitada, mas isso fez O Garoto questionar se algum dia ele conseguiria encontrar a felicidade dele também, pois nada inusitado acontecia em Eroda. Assim, com esses pensamentos, O Garoto adormeceu e naquela noite ele teve um sonho em que ele estava nadando no mar de Eroda e encontrava Louis na forma de um peixe. Ele era um peixe dourado lindo, com olhos incrivelmente azuis. O brilho de suas escamas parecia o sol. O sol que O Garoto tanto sonhava em encontrar. Os dois tentavam nadar um até o outro, mas antes que pudessem se alcançar, O Garoto acordou.
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Era Uma Vez Em Eroda
FanfictionExiste um lugar entre a Ilha dos Sonhos e a Ilha da Liberdade. Esse lugar é também uma ilha, a mais remota e pequena. Ela se chama Eroda. Por mais que esteja entre esses dois pontos, ela é afastada de tudo e ninguém garante que se você passar por um...