Capítulo I

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Logo quando saí da sala de interrogatório me deparei com um corredor onde as paredes eram cinzas e o chão preenchido com cerâmica branca. Da janela dava pra ver o presídio que eu estava. O muro deveria ter uns 15 metros de altura e também havia cerca elétrica no topo. A probabilidade de fugir não passa de 1%. O lugar é muito seguro e, para piorar, após o muro há apenas vegetação que dificulta qualquer fuga.

–  Onde eu estou? – insisti, perguntando ao homem com a fantasia de coelho. – E como faço...

Tenho certeza que Melani te disse – ele cortou minha fala.

Ela só disse que eu estava em Ges-Gesch-Geschrik.

Geschrik – ele repetiu com o tom de voz firme.

E onde isso fica, exatamente? – perguntei um pouco aflita.

Se você sair daqui talvez você saberá – pelo tom de sua voz eu pude notar que ele não estava muito animado em ter qualquer conversa comigo. Mas não me importei, continuei mesmo assim.

Se? EU VOU SAIR! –aumentei meu tom de voz mais que o necessário – Melani disse que ficarei apenas um ano!

Eu ainda estava digerindo a notícia de ficar um ano distante de tudo. Aumentar o tempo me faria surtar de vez.

Ela quis ser legal. A expectativa é que você passe um ano. Para isso acontecer você tem de ter um bom comportamento e desempenho. O que percebo que você não terá.

Respirei profundamente antes de continuar a conversa. Eu tinha que sair daquele lugar de loucos.

Eu acredito que deve haver algum engano. Eu não deveria estar aqui. – disse calmamente e torci para que ele dissesse que isso era apenas uma pegadinha sem graça. Tinha de ser.

Ele me ignorou completamente e começou a andar em direção ao final do corredor.

Ei, eu estou falando com você! –apressei o passo para acompanhá-lo.

Eu sou pago apenas para te guiar na instituição. E você agora irá para seu quarto. Lá terá um telefone para ligar pros seus pais.

Havia uma porta enorme em nossa frente. Ele apertou um botão e ela se abriu. Eu pensei em fazer um escândalo, mas decidi segui-lo. Eu iria falar com Ester e ela iria me tirar daquela prisão.

Após passarmos da porta havia uma recepção com uma japonesa lendo uma revista. Ela me encarou brevemente e voltou a folhear a revista. O homem virou no sentido oposto ao que ela estava. Fomos em direção a outra porta onde havia dois seguranças, um de cada lado. Eles apertaram um botão e a porta se abriu. Fomos direto a uma passarela que havia outra porta igual. Eu acho que passamos por mais 2 portas dessa. Em quase todas havia dois seguranças vigiando. A última porta se abriu e ele parou de andar. Tirou uma chave do bolso e me disse:

Vá em frente, vire à esquerda e procure pelo último quarto, o 110. Nesse quarto há todos os seus pertences e às 20h você poderá fazer a ligação que tanto deseja.

Ele me deu a chave e fechou a porta, me deixando sozinha.

Com medo e sem ter mais o que fazer eu segui suas ordens. Me deparei num corredor largo em que havia várias salas sem portas.

A primeira tinha uma TV enorme, seu piso era coberto por um tapete preto macio e também havia almofadas coloridas espalhadas por todo o chão em diversos tamanhos e formatos. A segunda parecia ser uma sala de jogos e era a maior. Havia sinuca, boliche, videogame, um sofá enorme, uma TV grande e seis computadores iguais. Fiquei em estado de choque. A terceira era ainda melhor. Estava entupida de livros. As estantes de livro ocupavam todas as paredes e no centro havia três sofás formando um triângulo, além de uma mesa de madeira grande que tinha seis cadeiras. O medo praticamente evaporou e eu fiquei tentando processar tudo aquilo. Minha mãe adotiva era rica e sempre me dava tudo o que eu quisesse, mas como eu não estava acostumada com esses mimos eu nunca pedi nada exagerado. Será que eu morri e estou no paraíso? Dei mais alguns passos e vi, do outro lado, uma cozinha. Tinha geladeira, fogão, máquina de lavar louça, micro-ondas, máquina de café, liquidificador e duas mesas de granito que ficavam sustentadas na parede, uma de cada lado. Elas eram altas e tinham aqueles bancos que você encontra num bar, só que esses pareciam ser muito mais confortáveis. Todos os eletrodomésticos eram pretos e as mesas também. O que coloria eram as cadeiras que estavam nos mais diversos e chamativos tons. Ao lado da cozinha também havia outra sala que parecia ser uma despensa de comida. Havia uma grande quantidade de salgados, doces e uma geladeira com a porta de vidro cheia de refrigerante, suco e sabe-se lá o que mais. A última sala era uma academia completa. Havia espelhos em todos os lados, máquinas de musculação, pesos e algumas coisas que eu não sabia o nome. Nunca precisei ir a uma academia e nem pretendo, muito menos aqui.

Depois de analisar as seis salas vi um elevador com detalhes prateados. Por essa eu não esperava. Com certeza eu iria conferir os outros andares depois. Mas primeiro decidi conferir meu quarto. Como o funcionário havia dito eu virei à esquerda e me deparei com outro corredor largo. Nele havia três quartos numerados, uma porta que dizia "Saída de emergência" e outra passarela no final, mas sem portas enormes que bloqueavam a passagem. O primeiro quarto era o 112, depois o 111 e por último e 110. Lembrei-me da chave que estava em minhas mãos, coloquei-a na porta e girei a maçaneta.

O quarto era todo branco e simples. Na parede à esquerda havia uma porta que dava acesso ao banheiro e ao lado um guarda-roupa. Na parede da frente tinha uma cama encostada nela e uma estante de madeira presa acima na parede. Na parede à direita havia uma escrivaninha com uma cadeira. Minha mala azul-escuro estava ao lado, no chão, com um papel pequeno e branco em cima. Peguei o bilhete e me joguei na cama.

"Querida Sarah,
Me perdoe por estar fazendo você passar por isso novamente. Estou tendo alguns problemas e achei melhor você ficar neste internato por enquanto. Logo estarei melhor e te buscarei. Se cuide.

Com amor,
Ester."

Como assim? Que tipo de problemas? E como ela me abandona assim? Uma tremenda dor de cabeça me veio e meus olhos começaram a lacrimejar. Sentei na cama e joguei o papel para longe. Fiquei o encarando por um bom tempo até me dar conta que eu tinha sido abandonada. De novo. Segurei minhas pernas, prendendo-as no abdômen, e chorei até dormir.


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