Capítulo II

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Acordei com alguém batendo na porta. Foram duas batidas rápidas e tímidas. A luz ainda estava acesa. Me espreguicei e senti fortes dores musculares. Eu tinha dormido na mesma posição, sentada e com meu peitoral contra minhas pernas. Olhei ao meu redor. "Isso realmente está acontecendo", pensei. O lugar continuava do mesmo jeito. O bilhete ainda me encarava no chão e as batidas se repetiram, mas mais pesadas e audíveis. Pulei num susto e gritei "Já vou!".

Andei preguiçosamente até a porta. Tentei amenizar o volume do meu cabelo penteando-o com meus dedos, mas não melhorou muito. Deveria fazer uns dois dias que eu não tomava banho. Passei 24 horas na prisão e logo depois vim parar aqui. Imagine a situação. Mas eu dou mais importância ao fato de ficar um ano aqui do que meu estado.

Quando abri a porta me deparei com uma garota loira. Ela tinha os olhos azuis e deu um sorriso aliviado ao me ver. Olhou por trás de mim e perguntou:

- Você ainda não desfez a mala?

Dei de ombros. Eu não estava com ânimo para socializar.

Ela suspirou e tirou de sua mochila um livro.

- Você perdeu a apresentação da instituição. Conhecemos o local e até os diretores! - ela estava muito empolgada e sendo simpática comigo. Até que me contagiou um pouco, mas não foi o suficiente para acabar com meu mau humor.

- Obrigada!
Agradeci rapidamente e peguei o livro de suas mãos, sem jeito.

- Ainda deve ter café no refeitório. Você deveria descer para comer algo. Eu e o Kaio vamos para a aula. Aparece por lá!

Dei uma espiada fora e avistei um garoto com os braços cruzados, mais mau humorado que eu. Ele também tinha os olhos azuis, mas seu cabelo era escuro. Mais escuro que o meu. Enquanto o meu é castanho escuro o dele é preto e espetado. Ele virou de costas e foi andando na direção oposta a nossa.

- Ei, me espera! - ela acenou para mim e correu para a passarela.

Acenei com a cabeça e tive o infortúnio de dizer "Até a aula!". Não sei bem o que me deu, mas eu tive uma repentina empolgação sobre a aula que eu estava prestes a perder. Sabe quando você está numa escola nova, não conhece ninguém e tem a expectativa que essa será diferente? Que você fará amigos legais e vai tirar notas boas? Era mais ou menos assim que eu estou me sentindo. Isso e um frio na barriga de nervosismo que eu senti poucas vezes na vida (posso até contar nos dedos quantas vezes foram).

Mas eu não estava numa escola. Eu estou num manicômio e isso meio que torna tudo mais assustador. Não é como se eu fosse conhecer uma garota que tem problemas com o óculos que usa, o aparelho ou sua massa corporal. Os problemas aqui são bem piores e a única que não tem esses problemas sou eu.

Ainda bem que meu estômago interrompeu meus pensamentos, embrulhando-se de uma forma que só me fez pensar em comer.

Deixei o livro na escrivaninha e arrastei-me para o banheiro. Me analisei no espelho. Eu estava parecendo uma mistura de uma múmia, um zumbi e um vampiro. As olheiras estavam misturadas com minha maquiagem escura e meu cabelo estava com algumas mechas pintadas de branco, uma das bobagens que fiz no carnaval. Tirei minhas roupas e as joguei no chão. Tomei um banho prolongado desejando que eu perdesse as aulas.

Coloquei a primeira roupa que peguei da minha mala e fui em direção ao elevador. Tudo estava vazio. Era tão estranho que enquanto o elevador descia eu fiquei me perguntando se a garota loira e o garoto mau humorado eram apenas alucinações. Será que eu estou ficando louca? Afastei os pensamentos quando o elevador se abriu. O cheiro de comida invadiu e meu apetite aumentou 10 vezes.

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