O jantar também foi maravilhoso. Havia sopa, crepe, cereal, suco, leite, café, torrada e outros alimentos. Óbvio que eu escolhi uma tigela grande de cereal. Coloquei umas frutas bonitinhas e misturei com leite. A invenção ficou tão boa que até Maíra decidiu me imitar, achando graça do meu prato.
– O que vamos fazer agora? – Clarissa perguntou após comermos.
– Não sei – Kaio e eu falamos em sintonia. Corei instantaneamente, desviando o olhar pro chão.
– Podemos assistir algum filme – Maíra sugeriu, ignorando o ocorrido.
– Então vamos! – Clarissa animou, levantando-se da mesa.
Ainda era 18h30. Eu podia inventar qualquer desculpa e me trancar em meu quarto, não é?
Seguimos em direção ao elevador. Subimos em silêncio. Maíra e Kaio foram em direção a sala, mas Clarissa continuou me esperando andar.
– O que foi? – ela perguntou. – Você não vai?
– Eu acho que vou ficar no meu quarto mesmo. Deu aquele sono, sabe? – menti.
– Mas você não pode dormir. Vai perder o horário da ligação – ela disse, apontando pro relógio que havia acima do elevador. Eu o encarei. Eram 18h35. Por que quando queremos que o tempo passe voando parece que ele tá parado? E quando queremos que ele pare ele resolve passar voando? Que vida cruel! – Você assiste um pouquinho e depois vai pro teu quarto. Não me deixe ficar de vela com aqueles dois, por favor! – Clarissa implorou fazendo bico e tudo.
Eu suspirei e concordei com a cabeça.
– Tá bem. Mas aviso logo que não vou ficar muito tempo, ok? Tenho que ler aquele livro ainda, sabe?!
– Até parece que você vai ler aquele livro.
Mal entramos na sala e já ouvimos um berro da Maíra.
– Acredita nisso?! De novo esse filme maldito! – exclamou.
Dei uma olhada na tela. Estava passando um filme que eu não conhecia.
– Nossa! – Clarissa respondeu, jogando seu corpo num amontoado de almofadas ao lado de Kaio.
– Que filme é esse? – perguntei sem entender a situação.
Maíra me analisou detalhadamente, da cabeça aos pés.
– Tu tais falando sério? – ela perguntou.
– Claro que tô! O que tem de demais? – retruquei.
– Não creio! – Kaio disse, fingindo um falso espanto, com sua mão tapando a boca aberta.
– É sério! – eu continuei, olhando mais uma vez o filme. Os personagens do filme não estavam dando a mínima pra nossa discussão. Na realidade, eles estavam se beijando.
– Nooossa, Sarah! – Clarissa disse, tapando sua boca e rindo. – É "A Lagoa Azul". Tu jura que tu nunca viu? – ela continuou a tentar reprimir o seu riso, mas não estava funcionando.
Me sentei ao seu lado, com os braços cruzados.
– Não tinha televisão no orfanato – expliquei.
– Quê? Tu é orfã? – Maíra estava animada com o rumo da conversa. – Nossa, que legal! – ela disse, sentando-se ao meu lado e dando um tapa no controle que desligou o filme. A sala ficou escura. A luz do cinema se acendeu. Tava um frio gostoso que eu nem me incomodei de ficar ali.

VOCÊ ESTÁ LENDO
GESCHRIK
AventureSarah passou onze anos de sua vida num orfanato até que um dia, milagrosamente, ela foi escolhida por Ester. Depois de passar um ano fora de problemas, Sarah acabou sendo presa novamente por roubar num mercado. Ela foi transferida para um centro de...