Acordei em uma sala quadrada que tinha apenas uma mesa, duas cadeiras e um enorme espelho que cobria parte de uma parede. A última vez que estive acordada eu estava na cadeia, presa em uma cela solitária. Uma mulher que aparentava ter menos de trinta anos entrou na sala. Ela tem a pele morena, seu cabelo é negro, mede até o seu ombro e cacheado. Sua fileira de dentes brancos e impecáveis surgiu com um sorriso ao me ver.
– Bom dia, senhorita! Você está bem? – ela disse, sentando-se calmamente a minha frente.
– Quem é você? –retruquei sua pergunta, preocupada e um pouco atordoada. Sentia como se estivesse me dado algum remédio, pois eu estava estranhamente calma demais para a situação.
– Quem faz as perguntas sou eu. Apenas responda – ela organizou uma resma na mesa, analisou e escolheu um papel com minha foto. O interrogatório começou:
– Qual é o seu nome?
– Sarah.
– Tem quantos anos?
– 16.
– O que você fez?
– Eu roubei algumas coisas num mercado.
– Com que frequência?
– Todo mês – menti.
Ela parou, ficou me encarando por eternos segundos e continuou.
– Você se considera uma cleptomaníaca? – ela me perguntou tão calmamente que parecia mais que estava perguntando se eu queria açúcar em meu chá.
– O que?
– Cleptomania caracteriza-se pela recorrência de impulsos para roubar objetos que são desnecessários para o uso pessoal ou sem valor monetário. Entendeu?
Eu sabia o que significava, só não sabia onde ela queria chegar com isso.
– Por que você está me perguntando isso? Onde eu estou?
– Em Geschrik, um centro de tratamento para pessoas com... problemas.
Gesch-o quê? Era só o que me faltava. Depois do orfanato agora eu estou num manicômio.
– Problemas? – eu estava prestes a surtar. – Que tipo de problemas?
– Você sabe, parecidos com o seu.
– Mas eu não tenho problemas.
– Você está ótima, parece muito convincente! – ela piscou para mim.
– EU NÃO SOU!
– Então me conte qual foi o real motivo de você ter roubado todos aqueles itens.
Calei-me.
– Hummm? Para quê guardar segredos? Eles sempre se revelam eventualmente.
O que eu iria dizer? Merda.
– Não tenho nada a esconder. Eu sou cleptomaníaca – murmurei baixinho.
– O que? Fale mais alto, garota!
– Eu sou cleptomaníaca! – gritei, me levantando da cadeira.
– Que mudança de opinião abrupta é esta?
– Eu estava... com vergonha... de admitir – tentei parecer convincente.
– Fofa, eu sei muito bem reconhecer uma pessoa louca e tenho certeza de que você não é. Anda, me conta! – ela se aproximou para mais perto de mim.
– Não vai contar? Poxa, eu sei guardar segredos! – ela disse como uma criança que estava prestes a fazer um escândalo, mas não fez. Levantou-se, arrumou sua saia e disse:
– Eu sei que você está protegendo alguém. Ou melhor, algumas pessoas. Mas eu sou uma pessoa de confiança. Com o tempo você perceberá – Ela deu um sorriso e ofereceu-me sua mão. – Levante. Você tem que conhecer a instituição.
– Quanto tempo eu vou ficar aqui? – perguntei tentando não demonstrar meu desespero.
– É apenas um ano, fofa. Tenho certeza que você aguenta.
– Eu posso ligar pra Ester?
– Ester?
– A minha mãe adotiva – expliquei.
– Claro que pode, no fim do dia você ligará. Seja bem-vinda!
Quando eu saí da sala havia uma pessoa me esperando. Um homem com uniforme cinza e parte de uma fantasia, uma cabeça de coelho (e isso é verdade, eu não estou alucinando). Ele disse para eu segui-lo. Dei uma última olhada para trás e ouvi a mulher gritar:
– Próximo!
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GESCHRIK
AdventureSarah passou onze anos de sua vida num orfanato até que um dia, milagrosamente, ela foi escolhida por Ester. Depois de passar um ano fora de problemas, Sarah acabou sendo presa novamente por roubar num mercado. Ela foi transferida para um centro de...