Eu não conseguia pensar em mais nada. Saí do quarto, alvoroçada, pensando em fazer um escândalo no portão do mesmo corredor que entrei quando me esbarrei com Melani. Sim, a própria. Ela estava me encarando como se dissesse "Você não vai pedir desculpa?". Ao invés de desculpar-me eu tive uma brilhante ideia. Melani era funcionária da instituição e com certeza poderia fazer quantas ligações quisesse. Ou melhor, ela deve ter um celular. Dei um enorme sorriso.
- Era justamente você que eu estava procurando.
- Em que posso ajuda-la? - ela disse com um simpático sorriso.
Olhei para os lados, certificando-me de que não havia ninguém para escutar nossa conversa.
- Eu ainda não consegui ligar para minha mãe. - falei, com cuidado, esperando sua reação. - Ela me disse que estava com problemas. Estou preocupada com ela e queria ter alguma notícia dela.
- Hummm. - Melani respondeu.
- Você não tem algum celular aí pra eu ligar? Será bem rápido! - eu disse.
- Você sabe que ligações podem ser feitas apenas das 20h até as 20h30, certo?
Afirmei com a cabeça.
- E você sabe que são - ela olhou para o relógio em seu pulso. - 21h15?!
Afirmei novamente, já deduzindo que ela negaria a ligação.
- Normalmente eu não ajudo paciente.
- Mas? - pela sua expressão senti que ela estava disposta a me ajudar.
- Mas talvez o problema de sua mãe possa ser algo sério. Eu me sentiria muito mal se algo a acontecesse.
- Sim. Se não fosse por isso eu deixaria para ligar amanhã.
- Quando alguém fica por um mês mantendo o bom comportamento, esta pessoa ganha um celular. Eu irei lhe dar um, mas será nosso segredo, tá bem?
Afirmei com a cabeça, aumentando ainda mais meu sorriso. Eu ia falar com minha mãe!
- Mas você terá de ter um ótimo comportamento e ficará me devendo uma ajuda. - ela continuou.
- Muito obrigada, Melani! - em uma explosão de felicidade eu não me contive e dei um abraço apertado nela. O abraço foi inesperado e Melani ficou apenas parada esperando que eu a largasse.
- Não precisa agradecer. - ela disse. Tirou um celular do seu bolso e me entregou. - Me conte depois se sua mãe está bem, ok?!
Ela sorriu, se afastou e acenou.
Entrei novamente no quarto e encarei o celular. Ele estava novinho em folha.
Me deu um nervosismo instantâneo. As mãos começaram a suar e meu coração bateu mais acelerado. Os motivos eram óbvios, eu iria saber se:
- Ester continua com o mesmo número de telefone;
- Esse celular que Melani me deu tem crédito;
- Eu havia sido abandonada de novo;
- Ester está realmente com problemas;
- Eu terei que passar um ano aqui;
- Eu poderia receber visita.
Essas eram as coisas que mais me preocupavam. Dei um suspiro longo e sentei-me na cama, ainda com o telefone na mão. Digitei os números na tela e errei duas vezes. Inspirei e expirei lentamente. Quando o número dela estava certinho eu orei silenciosamente para que tudo desse certo.
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GESCHRIK
PertualanganSarah passou onze anos de sua vida num orfanato até que um dia, milagrosamente, ela foi escolhida por Ester. Depois de passar um ano fora de problemas, Sarah acabou sendo presa novamente por roubar num mercado. Ela foi transferida para um centro de...