Prologo

486 53 7
                                    

Samanta Cardoso

A gente cresce aprendendo que devemos evitar os homens abusadores que batem e humilham seus companheiros, mas ninguém, absolutamente ninguém ensina a se proteger de pais abusadores.

Eu compreendo que minha mãe perdeu o meu pai jovem e seu instinto de super proteção pode ter a transformado em uma abusadora, mas se eu nao tivesse a música, tenho dúvidas se suportaria.

Eu creio que na barriga da minha mãe eu nao chutava, eu dançava e isso vem sendo a minha paixão. Quando estou no palco, toda minha dor e angústia se esvai e sou apenas um ser que flutua.

A unica palavra de carinho que escuto da minha mãe é após um espetáculo onde perto dos outros ela diz ser orgulhosa da filha que tem e talvez esse seja o motivo por eu ter participado de mais concursos do que eu consigo contar.

Eu sempre busquei sua aprovação, então nada de garotos, nada de bicicletas ou qualquer coisa que pudesse sair dessa busca incessante, so que os anos passam rapido demais e tao logo terminei o ensino médio, a cobrança pela faculdade tornou o meu pior pesadelo.

-----Jaja você é velha demais para dancar ou vai se machucar e ai? Vou ter que juntar seus caquinhos?

-----Mae eu amo dançar é a minha vida.

-----Eu achei que isso era uma bobagem de criança e depois teimosia adolescente, mas agora precisa pensar como adulta ou eu literalmente te proibirei de dançar e sair com aquelas quengas que chama de amigas.

Eu nao tinha forças para contradize-la e então novamente fizemos um acordo, eu estudaria e poderia continuar dançando.

Inscrevi-me em várias faculdades na capital de Sao Paulo que me tiraria de Jundiaí e ao ser aceita contei a ela a novidade.

-----Por que Sao Paulo? Temos excelentes faculdades aqui em Jundiaí.

----Temos mamãe, mas tambem fui aceita na melhor escola de dança do estado de Sao Paulo.

-----Tudo bem, mas nao pense que te sustentarei alem da mensalidade da sua faculdade.

Eu nao queria saber se ia passar fome ou morar na rua, eu me senti.... Livre.

E chorei muito de alegria.

Hanna, Bianca e Gisele se juntam a mim na nova aventura e a casa mais barata que conseguimos para alugar custava setecentos e cinquenta reais. Juntamos nossas economias e pagamos os três meses adiantados que exigia.

Eu tinha experiência em dança e como a escola estava contratando consegui um bico temporário para conseguir ajudar nas despesas.

Após o primeiro mes de moradia, as contas chegaram e cheguei a conclusão que sozinhas nao dariamos conta.

-----Liga pra sua mãe Sam.

----Nao posso meninas, ela me chamará de fracassada.

Eu so poderia ser monitora na faculdade após um ano de curso e ao chegar quase desfalecida de cansaço em casa após os três turnos eu tive uma ideia:

República feminina.

Se mais uma pessoa entrasse nas contas, dava pra pagar as despesas.

As meninas toparam e então anunciei no Facebook que estávamos aceitando meninas para compartilhar a República no valor de 250 reais.

O telefone nao parava de tocar e por isso marcamos entrevistas.

Depois de dois dias exaustivos de entrevista, sugando todo nosso fim de semana, só faltava escolher o nome quando a campanhia toca novamente.

Nao era uma menina, mas um menino de pele branquinha e cabelo arrepiado.

-----Boa tarde quase noite.

----Boa noite___ Respondo.

----- Vim pela vaga.

-----Nao, voce nao leu o anúncio? Procuramos meninas.

-----Mas nao disseram se era menina com ou vagina ou se podia com pênis.

Minha boca se abriu em um O tao grande que a única coisa que consegui dizer foi.

----Tudo bem pode morar com a gente.

A BailarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora