⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀ ⠀⩩⦙ 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎

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❝Deixe-me irPreciso andarVou por aí a procurarRir pra não chorarSe alguém por mim perguntarDiga que eu só vou voltarDepois que me encontrar❞

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❝Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar❞

𝐏𝐫𝐞𝐜𝐢𝐬𝐨 𝐌𝐞 𝐄𝐧𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐚𝐫
- 𝐂𝐚𝐫𝐭𝐨𝐥𝐚

A LUA NUNCA ESTIVERA TÃO MAGNÍFICA QUANTO NAQUELA NOITE, pelo menos era a concepção de Caroline ao observar o céu da clareira ao parar poucos segundos para descansar

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A LUA NUNCA ESTIVERA TÃO MAGNÍFICA QUANTO NAQUELA NOITE, pelo menos era a concepção de Caroline ao observar o céu da clareira ao parar poucos segundos para descansar. Por mais que o astro estivesse cheio em toda sua glória, seu brilho era incapaz de iluminar por completo a floresta densa, ingressando fraco através dos vãos das copas das árvores e atribuindo um aspecto ainda mais mágico ao local.

Com o olhar perdido e expressões cansadas na face, a jovem mulher de vinte e poucos anos cedeu à exaustão, caindo ajoelhada sobre a cama de folhas macias e galhos secos que estavam sob seus pés. Seu fino vestido branco com flores amarelas estava pingando de suor, os cabelos castanhos curtos na altura dos ombros estavam desarrumados e sujos com pequenas folhas, musgos e pedaços de madeira. Não estava nada parecida com a imagem de mulher séria e serena que as pessoas costumavam lhe atribuir.

Ela havia ignorado todo e qualquer aviso que o morador mais velho e sábio da vila de caiçaras, vulgo Seu Ciço, vinha lhe alertando sobre a floresta que cercava a Vila Toré desde que se conhecia por gente. "Nunca entre sozinha no local, menininha. A mata é perigosa e fácil de se perder." Dizia o velho após cada tentativa de Caroline de ingressar no recinto sem supervisão de um adulto e com o estranho sonho de conhecer pelo menos uma criatura mágica das lendas narradas pelo velho pescador. Agora ela estava no meio da mesma, sentada sozinha em seus joelhos, perdida. Pelo menos em teoria.

Por mais que Caroline não conseguisse saber quais caminhos tomou para chegar à clareira ou quais deveria tomar para regressar a vila Toré, ela não possuía em seu coração o sentimento de medo. Na verdade, era a primeira vez que se sentia completamente em paz, de que pertencia a algum lugar. Ela retirou os óculos de grau levemente embaçados de suor, segurando o objeto delicadamente entre os dedos, inspirou profundamente enquanto fechava os olhos, sentido os cheiros e sons exalados pela natureza ao seu redor e esquecendo por alguns segundos o que realmente fora fazer.

Mesmo à noite, a mata estava repleta de vida. Enormes arbustos verdes e árvores frondosas balançavam com o vento, bem ao longe era possível escutar a correnteza do rio, assim como o som dos animais noturnos que seguiam com suas vidas e ignorando a presença humana da floresta. Seus devaneios em relação à floresta foram dissipados quando ouviu um som vindo de si, a fome havia alcançado mais rápido do que previa. Felizmente ela estava com alguns frutos pequenos em mãos, os quais segurava desde que saiu correndo de casa em direção a floresta.

Um por um, ela atirou os frutinhos para dentro da boca e os mastigou fazendo careta. Eles não eram saborosos como desejava, mas serviam ao intuito de matar a fome. Quando o último fruto foi ingerido ela ouviu um assobio longo e estranho vindo de algum lugar do meio do mato, o qual ficava cada vez mais próximo. Ao escutar os barulhos altos que aproximavam de seu posto de descanso, ela levantou rapidamente do chão e colocou os óculos para possuir uma visão melhor do que poderia, ou não, ser uma ameaça.

E foi naquele momento que Caroline o viu pela primeira vez com toda sua glória e poder. Pés para trás, cabeça de fogo, expressões que impunha medo e respeito. Como descrito em quase todas as lendas e crendices populares, o Curupira a observava da borda da clareira, escondido atrás dos arbustos altos.

Por alguns segundos Caroline esqueceu como respirava, sentiu como se o coração estivesse batendo na boca, seu suor escorria gelado e todos os pelos de seu corpo estavam arrepiados. Parte de medo da entidade protetora da floresta, parte de alívio por não estar sozinha no meio da floresta.

— Oi! — Disse Caroline quebrando o silêncio e aproximando lentamente do ser místico — Seu Ciço tinha razão sobre você.

— Não devia estar aqui — Crispou a entidade rispidamente.

— Você também não! — Rebateu Caroline.

A entidade deu um passo à frente, fazendo com que a mulher recuasse a mesma distância e apoiasse o corpo numa árvore próxima, a utilizando como um escudo protetor. Durante uns minutos eles permaneceram parados, apenas observando a existência um do outro. Lendas são reais, agora Caroline tem ainda mais certeza disso.

— Caroline! — A voz conhecida do seu Ciço quebrou o silêncio instaurado entre os dois. — Caroline!

Ao notar que Caroline não estaria mais sozinha na floresta, o Curupira soltou seu típico assobio alto indicando a localização da jovem mulher e correu por entre a mata fechada, deixando para trás apenas fagulhas vindas de sua cabeça.

— Espera! — Gritou Caroline.

Mesmo estando assustada com a verdadeira forma da entidade, ela tentou correr em sua direção tentando alcança-lo. No fundo se culpava por ter permitido que o mesmo fugisse correndo no instante que escutou a voz do Seu Ciço. Porém o Curupira era muito mais rápido do que ela e conhecia o chão da floresta. No instante que saiu de trás da árvore que usava como suporte, acabou tropeçando nos próprios pés, caindo friamente no chão da floresta e batendo com a cabeça numa raiz grossa.

— Caroline! — Seu Ciço correu na direção da mulher desfalecida no chão e ergueu sua cabeça enquanto dava leve palmadas em seu rosto — Caroline! Caroline!

— Argh! — Resmungou a mulher descontente e abrindo os olhos, enquanto encarava a lua brilhante no céu — A lua está tão bonita hoje. Não acha, seu Ciço?

O senhor de idade suspirou profundamente e entortou os lábios, ele não estava contente com a fuga de Caroline, achando a sua ideia de se embrenhar no meio sozinha muito estúpida e perigosa. Ele olhou da garota segura em seus braços para o céu escuro da clareira, onde a lua cheia branca e brilhante ganhava destaque. De fato, o astro estava magnífico naquela noite, brilhando mais do que o normal. O que, para ele e todos os outros crentes do misticismo, significava que algo mágico estava prestes a acontecer. E Seu Ciço tinha conhecimento de muitos anos acumulado para saber que aquele ambiente que vivia e se encontravam era mais do que uma simples vila ou floresta. Ele voltou a olhar para Caroline, a qual sorria sonhadora com os olhos fechados em seu colo.

— É, a lua está linda hoje, menininha! — Disse Seu Ciço assentindo positivamente com a cabeça e sorrindo sem humor.

𝐑𝐄𝐋𝐈𝐂𝐀́𝐑𝐈𝐎 • 𝑪𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒊𝒏𝒗𝒊𝒔𝒊́𝒗𝒆𝒍Onde histórias criam vida. Descubra agora