3. Dou vida à uma espada sinistra

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Dou vida à uma espada sinistra.








LOS ANGELES REALMENTE não era uma droga absoluta.

Eu particularmente gostava da cidade dos anjos, assim como sei que meu irmão também gostava dela. Esse era o nosso verdadeiro lar depois do Brasil. Aqui era quase o epicentro de todos os artistas, inclusive os de ruas com seus talentos natos e preciosos, isso me dava à sensação de estar em casa.

Eu era obcecada com arte. Desenhos, pinturas, dança, teatro e música. Esses eram meus hobbies quando não estava fazendo algo ilegal ou criminoso. Acho que em grande parte essa minha "obsessão" vinha da minha mãe, que assim como eu, também amava arte. Era como se isso estivesse enraizado inexplicavelmente em nosso DNA.

Grande parte dos grafites nas ruas de Los Angeles foram feitos por mim e minhas preciosas latas de spray de tinta infinita. Eu assinava como "estrela", pois esse era o apelido que minha mãe me deu: estrelinha, sempre dizendo que eu era a luz que nunca se apaga na vida obscura dela. Larissa Castro era uma mulher incrível, gentil, amorosa e sempre, sempre positiva e sorridente. Eu lembrava bastante dela quando era jovem. A mesma cor de cabelo e olhos, a mesma altura e os mesmos traços faciais.

Ela sempre arrumava um jeito de trazer a arte para minha vida e de Carlos. Sempre nos levava em teatros e exposições, quando esses eram gratuitos. Uma vez ela chegou a trabalhar em um studio de dança onde tinha aulas de balé para garotas e ela me incentivou a fazer um teste para concorrer a uma bolsa. Não estava confiante, afinal, todas as minhas concorrentes pareciam bem mais preparadas do que eu, mas minha mãe me incentivou e me deu confiança o suficiente para que eu conseguisse passar no teste.

Fiz o balé por alguns meses até o dia em que Phil matou minha mãe.

— Vamos apostar! Quem ficar com o cérebro congelado primeiro, perde! — Carlos diz alegremente enquanto toma seu milk-shake de nutella e morango.

O encaro com uma sobrancelha arqueada e um olhar de puro desafio, com o meu milk-shake de ferreiro rocher com blue ice completamente gelado em minhas mãos.

— Você vai perder, seu merdinha. — Digo ameaçadoramente.

— É o que veremos, sua merdinha. — Carlos devolve me olhando presunçosamente, como se já estivesse cantando a vitória antes do tempo.

— Então começaremos em um... dois... TRÊS! — Grito a última palavra antes de enfiar o canudo do milk-shake na minha boca e começar a sugá-lo de uma só vez, sem pausa. Carlos faz o mesmo e depois de dois minutos, ele para fazendo uma careta desagradável e elevando a mão direita até a testa, massageando-a.

— Ai! — Reclamou. — Meu cérebro congelou e está doendo.

Afasto minha boca do canudo do meu milk-shake com um sorriso vitorioso.

— Venci, seu perdedor. — Mostro minha língua completamente tingida de corante azul para Carlos, em um ato totalmente infantil.

— Sabe que a maioria das irmãs mais velhas deixam os irmãos caçulas ganharem de propósito, certo?

Dou de ombros.

— Eu não sou todo mundo. — Carlos faz uma careta com a minha resposta e me chama resmungando de: chata. Apenas reviro os olhos, antes de dar um sorriso de canto e uma brisa refrescante surgir ao ponto de acariciar meu rosto e balançar um pouco dos meus longos fios.

Estávamos fazendo certa hora, antes de levar Carlos para a sua escola e ele começar a ser torturado por inúmeras equações bizarras e assustadoras de física, da qual ele amava incondicionalmente. Realmente, meu irmão era adotado, porque eu era pouco inteligente quando o assunto era números assustadores e equações.

Things We Lost In The Fire ── 𝐌𝐀𝐆𝐍𝐔𝐒 𝐂𝐇𝐀𝐒𝐄Onde histórias criam vida. Descubra agora