Capítulo 03

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DYLAN DENNER

A conversa entre nós ia fluindo, vergonhosamente, mas fluindo. Talvez eu estivesse lhe fazendo muitas perguntas, mas tinha necessidade de saber mais sobre ela. A Jess era diferente das outras mulheres, ela não era forçada, ela era espontânea, ela não fazia as coisas para chamar minha atenção. Se bem que, sua beleza fazia isso por si própria.
O sistema de som começou a tocar alto uma música que não reconheço, mas pela cara que a Jess fez ela deve conhecer.
— Desculpe, deve ter sido o motorista que acionou. Alec, abaixe o volume por favor. Falei ao bater na divisória.
— Desculpe senhor, mas não fui eu, acionou sozinho. Deve estar com algum problema. Ele se justificou e eu acredito, o Alec não faria isso, ele é sempre muito contido. Ele abaixou mais o volume.
— Tudo bem! Eu gosto dessa banda. Disse a Jess.
— Não conhecia. Justifiquei.
— Como não? Em que mundo você vive. Ela falou sorrindo.
— Eu cheguei na cidade a poucos meses. Como disse, estava estudando fora. Eles eram muito rígidos, sua educação era diferente da nossa, digamos assim.
— Nunca sai de Physalis. Me conta como era onde você estudava. Ela parecia mais relaxada. Suas emoções eram espontâneas.
— Claro. Eu fui para lá muito pequeno tinha 7 anos. Não lembro muita coisa da viajem, era muito longe, dormi a maior parte do tempo. Mas lá às crianças me tratavam diferente, eles me apelidavam e me excluíam das atividades em grupo. Maior parte do tempo eram aulas sobre as histórias de nossas terras e as leis. As aulas práticas eram de defesa pessoal, cada um teria que escolher uma arma para aprender a usar.
— Qual foi a que você escolheu? Ela parecia realmente interessada em minha história. Histórias estás que nunca contei a ninguém.
— Escolhi arco e flechas.
— Nossa! Todos os presidentes tem que passar por um internato?
— Segundo meu pai, sim.
— E seus pais, eles iam te visitar sempre? Seus olhos brilhavam de entusiasmo. Mas eram fatos da minha vida que me incomodava.
Apesar de ficar desconfortável com as lembranças, seria bom poder falar da boca para fora o que eu só sentia da boca para dentro.
— Não conheci minha mãe. Meu pai disse que ela morreu quando nasci. — seus olhos mudaram para triste — Meu pai a última vez que lhe vi foi aos sete anos, quando ele se despediu de mim. Toquei em meu relógio. Única lembrança que meu pai me deu em nossa despedida. — E só voltei a lhe ver a alguns meses atrás, quando retornei.
Seus olhos estavam transbordando.
Mas eu não queria sua pena.
— Sinto muito! Não queria ter que te fazer falar, lembrar.
— Tudo bem! Não se culpe. Sabe Jess, nunca falei assim abertamente com ninguém. Primeiro que lá eu não teria com quem falar e aqui depois que cheguei, as pessoas me veem de uma forma que não sou. Além do mais para meu pai, é importante manter as coisas assim. Então, se não se importa, gostaria que isso ficasse entre nós. Não posso parecer ser "fraco" para o povo, como meu pai diz.
— Claro! Não precisa nem me pedir. E não sinto pena de você se é o que pensa. Não acho que seja fraco, pelo contrário. Você passou por muitas coisas e carrega desde a infância o peso de um país. Você não teve escolha, tão logo você é muito forte.
Me desculpe por ter lhe julgado também. Nos baseamos a seu respeito pelo o que a mídia diz, vale salientar que é péssimo para sua imagem.
— Obrigado! Senti o carro parar, ela olhou pela janela.
— Chegamos! Eu até lhe convidaria a entrar, mas como não tenho amigos, chegar com você daria assunto a meus pais por um mês, pelo menos. Além de me causar dor de cabeça, para as explicações. Então se não se importa. Ela falou sorrindo.
— Tudo bem! Eu te entendo. Não quero lhe causar problemas.
— Obrigada pela carona, pela conversa e pela confiança. Ela falou tocando minha mão que estava sobre a perna enquanto o Alec abria a porta para ela. Enquanto ela se virou para descer, mas ela voltou.
— Sr. Dylan posso fazer uma pergunta?
— Dylan. Só Dylan.
— Mas é que agora o assunto é com o Sr. Dylan. Ela disse envergonhada.
— Tudo bem. Que seja.
— O emprego ainda é meu? Ela falou receosa.
— Claro Jess! Porém, com duas condições.
— Quais?
— Primeiro: Café quente — Ela sorriu — Segundo: Amigos? Estendi a mão.
— Fechado! Ela sorriu ao apertar minha mão selando nosso acordo.
Ela desceu e esperei que ela entrasse.
Me sentia bobo. A companhia dela me trouxe leveza, esqueci por um breve momento a minha existência amargurada.

JESS MAYNARO

Assim que abro a porta encontro meus pais na sala.
— Filha, você demorou. Está tudo bem? Minha  mãe me pergunta.
— Sim mãe! Me atrasei no trabalho e acabei perdendo o ônibus. Falei dando um beijo em sua cabeça.
— Você veio de carro, filha? Meu pai perguntou. Devido à falta de visão, sua audição é incrivelmente aguçada.
Mas não poderia dizer a meus pais que hoje quase perdi o emprego, tão pouco que quem me trouxe foi o projeto de pres... digo o Dylan.
— Não papai, foi na casa de frente a nossa. Justifico enquanto lhe deposito um beijo na cabeça.
— Seu jantar está no forno. Minha mãe diz.
— Tá certo. Vou tomar um banho e logo desço. Justifico ao subir a escada de madeira já surrada que rangi a cada degrau pisado.
Já em meu quarto coloco minha bolsa sobre a cama. Pego uma roupa limpa e toalha na cômoda, sigo pelo corredor até chegar ao banheiro.
Tomo um banho demorado, lavo o cabelo.
Quando já estou vestida e de cabelo penteado sigo para cozinha, pego meu prato de comida e subo para meu quarto.
Enquanto como, leio alguns textos para universidade.
Ao terminar minha mãe aparece na porta, recolhe meu prato e diz para que não me preocupe, pois ela já organizou a cozinha e que já irá se recolher. Me despeço da minha mãe e volto atenção aos estudos. Mas minha concentração não durou muito tempo, logo meus pensamentos vagaram e quando me dei conta já estava revivendo os últimos acontecimentos. O pior de tudo é que quando mais eu penso, não chego à conclusão alguma, além da que já me considero louca. Eu não posso enlouquecer, o que seria de meus pais sem mim? Eu não posso ser louca. Um medo me invade ao pensar que possa estar acontecendo algo errado com minha cabeça.
Lágrimas embaça minha visão.
Eu não posso dormir, não posso. Respiro fundo, tento recuperar o controle de meus sentimentos.
Leio, respondo a questionários, faço resumos e quando dou por mim, já é madrugada. Sigo para a cozinha para pegar uma xícara de café, até amanhecer terei um longo caminho.
Volto para o quarto, pego um dos meus livros de cabeceira, me sento na janela, entre um gole de café e a leitura admiro a noite que estava fria e nublada. Acabo dando uns cochilos rápidos e abro os olhos sobressaltada.
"Acorda Jess, não pode dormir garota, quer voltar ao fantástico mundo da ilusão?" Penso enquanto esfrego meus olhos.
Dou mais umas bocejadas, mas preciso ser firme.
Olho o aparelho telefônico e confirmo que já se passa das três da manhã. Na penumbra do meu quarto, iluminado apenas pelo abajur que fica ao lado da cama e a luz da lua, sinto um arrepio percorrer todo meu corpo, talvez já esteja aqui sentada na janela a tempo suficiente, exposta a brisa da madrugada. Desço da janela fechando-a em seguida. Mas a baixa temperatura se mantém, sigo até o armário e pego um cardigan, visto-o por cima da camisola. Viro-me em direção a cama e o que vejo faz meu coração errar uma batida. Kai está encostado na porta do meu quarto.
— Precisamos conversar!

KAI ZERDAX

Após não conseguir me conectar com a Jess senti algo semelhante ao vazio que os humanos sentem. Finalmente quando lhe achei ela estava na companhia do futuro presidente, agora entendo o motivo de não conseguir acessar sua mente. O Dylan possui uma espécie de pulseira que permite o nosso contato direto, isso é meio necessário para nos comunicar de forma rápida com os presidentes, meros mortais que são manipulados pela nossa dimensão de forma conveniente. A questão é que a frequência da pulseira opera numa frequência diferente da que utilizo para me comunicar com a Jess, por isso não conseguia senti-la.
Após acessar o sistema de multimídia pude  ver por mim mesmo, a facilidade em que eles se comunicavam, Jess sorria, se mostrava interessada em sua vida. Eu queria de algum modo interferir naquilo, fui tomado por uma sensação nunca sentida, beirando a irracionalidade. Nunca senti algo semelhante em toda minha existência.
— Kai, tudo em ordem? Pergunta meu amigo e braço direito, Azon ao adentrar a sala de comando.
Ele olha para a transmissão a nossa frente.
— Algo errado com a Senhorita Maynaro? Nego com a cabeça.
— Então, qual o problema? Porque mandou os intermediários saírem? A Ilis passou por mim como uma fusão estelar.
— Não foi nada. Eu só queria ficar só. Tento justificar.
— Kai, sou eu, pode falar a verdade. Azon é meu irmão de imersão. É difícil durante a nossa criação haver uma imersão entre as essências, mas quando isso ocorre significa que o que um sente, o outro também sente.
— Não sei o que dizer, Azon. E é a mais pura verdade. Não sei dar nome ao que está me causando essa descarga.
— Kai você sabe o nome, só está preocupado em assumir. Azon fala ao sentar ao meu lado.
— Do que você está falando? Pergunto com a voz um pouco mais alterada.
— Você está apaixonado pela senhorita Maynaro, na verdade desde a primeira vez que a viu. Você só não consegue admitir a si mesmo.
— Você está com algum problema de transmissão, eu acho. Não possuímos esses tipos de sentimentos, caso não se lembre.
— Engano seu. Durante nossa criação somos carregados com sentimentos mundanos, para que quando estejamos entre eles saibamos manipular nossas emoções. Acontece que a tantos anos fazendo isso, uma hora vira verdade. Não acha? Principalmente vocês que tem uma ligação onde nenhum de nós já ouvimos falar de algo parecido.
— Será? Mesmo que seja, não podemos, minha função é cuidar da segurança da Jess até que seu propósito, seja comprido.
— Meu irmão, não se engane assim antes de tirar a prova. Vá atrás dela, conte o que você é, se algo der errado você pode apagar depois. Me senti encorajado por meu irmão, mas ainda tinha preocupação de escapar novamente. O inquisidor poderia me aplicar uma pena se houver uma próxima vez.
— Não posso. O inquisidor está me controlando. Justifico.
— Deixa comigo. Esqueceu quem eu sou? Azon diz mostrando o seu código de luz no braço esquerdo. Digamos que ele é uma espécie de guardião dos portais, ele cuida de quem entra e quem sai, enquanto eu cuido da segurança no modo geral, caçando os Akires ou impedido suas ações nesta ou nas demais dimensões.
Nunca fui certinho, sempre usei meus privilégios como responsável pela sessão, não seria eu agora a me sentir intimidado pelas consequências do inquisidor.
— Então, vamos logo com isso? O Azon chama minha atenção.
— Preparando.
Em poucos segundos eu já estava no quarto da Jess. Ela vestia algo que parecia ser um casaco, ela estava de costas para mim. Não sei o que sua presença me causa, mas é algo muito bom.
Após ela virar e seus níveis alterarem pelo susto eu ajusto minha postura e digo: Precisamos conversar!

JESS MAYNARO

Vê-lo assim novamente tão perto, meus sentimentos me causam uma montanha russa de sensações.
— Sai  daqui. Você não é real. Por favor, sai da minha cabeça. Sinto as lágrimas se formarem em meus olhos. Fecho-os mais forte que posso afim de fazê-lo sumir. Que ironia, houve dias que eu ia dormir pedindo em súplica para vê-lo e agora eu quero que suma. Ele é uma ilusão da minha mente provavelmente doente.
— Não sou Jess, olha para mim, por favor eu estou aqui. Sua voz agora mais próxima me força a abrir os olhos, então o vejo. Em meus sonhos nunca estivemos tão perto assim. Nunca vi seu rosto como agora, tão de perto, é lindo, perfeito.
— Não poderia me ver, eu iria assusta-la. Não se iluda não sou assim. Minha versão mundana existe para te atrair, sou como um predador.
Minha lágrima finalmente rola e ele faz menção de toca-las.
— Não! Me afasto. Tenho receio de que em algum momento eu dormir e estou sonhando. Não queria vê-lo, mas agora tão perto, parece um ímã.
— Não tenha medo. Confia em mim, você não vai acordar, não desta vez. Ele se aproxima novamente e toca o dedo indicador na pele de minha bochecha capturando a lágrima.
Sentir seu toque, frio, é algo inexplicável. Ele retira a mão.
— Logo minha temperatura irá  se estabilizar. Ele parece me responder tudo o que penso. É sempre assim? Como se estivesse lendo meus pensamentos.
— Algumas vezes sim, mas com você é algo mais simples, não há barreiras em nossa transmissão. Ela é fluída, fácil, é como se eu me antecipasse ao que você irá fazer ou dizer. Ele justifica.
— Se isso é verdade. Quem é você? De onde você veio? Oque faz aqui? Porque eu? Pergunto, são tantas perguntas, mas preciso saber afim de me livrar dessa sensação de estar ficando louca, isso me consumi cada minuto mais.
— Sim isso é verdade. Meu nome é Kai Zerdax, vim de uma dimensão superior à de seu planeta. Estou aqui por você, sempre por você. E reformulo a sua pergunta: porque não você?
— Oh céus, isso é muita loucura.
Falo atordoada passando as mãos no cabelo.
— Senta aqui. Ele puxou minha mão e me fez sentar na cama ao seu lado. Essa intimidade, fácil, me fez recordar nossos encontros em sonhos.
— Lembro de cada um deles —Ele fala sorrindo — mas confesso que os físicos me parecem ser os melhores. Ele sorri.
Tenho que concordar com ele. Seu sorriso se alarga. Droga, ele ouviu meu pensamento. Dou um sorriso amarelo em retribuição.
— Jess eu vou tentar te contar tudo, quer dizer até onde posso, sem que isso não lhe prejudique.
Então ele começa a falar que vem de uma dimensão superior à minha, eu acredito que seja algum planeta, não entendi bem essa parte de sua localização. Disse que durante os sonhos os seres humanos vagam entre as dimensões, eu por ser criança quando nos vimos pela primeira vez provavelmente estava num estado vibracional que permitiu que ele me sentisse, uma vez que ele estava em mesmo estado que eu. Desde então ele não conseguiu mais não ter acesso a mim, pois sempre fui muito receptiva a ele e ele precisava se manter por perto nesses momentos para que outros seres como ele não me acessassem com a mesma facilidade. Sobre não nos tocar em sonho ele disse que por dois fatores, primeiro: Eu acordaria já que não fazemos parte do mesmo plano e estamos juntos apenas em essência. Segundo: Sua aparência não é agradável para os humanos.
— Eu quero vê-lo como realmente é! Eu disse, pois, preciso saciar minha curiosidade.
— Não acho que seja bom, Jess. Não quero que tenha medo de mim. Nunca lhe faria mal. Prefiro encerrar minha existência do que lhe fazer mal. Ele abaixa a cabeça. Agora é minha vez de toca-lo. Levanto seu rosto para que me olhe.
— Eu nunca teria medo de você. Prometo que nada mudará. Ele aperta os olhos e em seguida seus olhos se iluminam num tom fluorescente, ele retira o casaco.
Em poucos segundos em seu corpo surgem sinais, parecem ser códigos, desenhos eu diria, diversos tamanhos e formatos, se fosse humano eu diria que são veias tatuadas, as imagens parecem criar vidas à medida que se espalham por seu corpo até atingir seu rosto, apenas um lado. Eu fico chocada, nunca vi nada parecido.


Sua voz ecoou em minha mente, pondo fim ao meu estado contemplativo.
— Desculpe Jess. Ele fala tentando pôr a jaqueta de volta, mas eu o impeço.
— Não. Não precisa se esconder, nunca vi algo tão surreal e tão maravilhoso ao mesmo tempo. Posso tocar? Ele parece surpreso com minha pergunta.
— Pode. Passei o dedo indicador pelos desenhos e à medida que subia por sua pele ele não tirava os olhos de mim, agora eles estavam num tom verde fluorescente.
— Doeu? Perguntei.
— Oque? As marcas? Afirmei com a cabeça sem tirar os olhos e as mãos de sua pele.
— Não. Quer dizer não que eu me recorde, digamos que se eu fosse humano elas nasceram comigo.
— Como vocês nascem? Algo nessa pergunta o deixou um pouco incomodado. — É algo que não queira falar? Pergunto.
— Não é isso. É que não sei até que ponto está preparada para ouvir. Mas superficialmente falando há alguns meios, e o meio que fui escolhido para nascer me torna meio humano e meio Vrilon.
— Vrilon? É o nome da sua espécie? Pergunto e ele assente com a cabeça. Tenho muito mais coisas para pergunta, muita coisa que quero saber. Mas não sei como colocar as palavras, nunca fui boa em lhe dar com pessoas.
— Por isso que nos damos tão bem. Ele sorri. — Eu não sou extremamente uma pessoa. Putz ele ouviu.
— Com o tempo você saberá mais de mim. Sempre que quiser me ver é só dormir, eu vou te achar.
— Mas só podemos nos ver dormindo? Dormindo eu não pos... Engoli as palavras, não ousei terminar essa frase Jess.
— Dormindo não podemos nos tocar. Era isso que você ia dizer? Fiz que sim com a cabeça. — Também sinto muito por isso, mas preciso te alertar. Levantei a cabeça com expressão confusa.
E ele continuou a falar.
— Eu não sou igual a você. Não fui criado para ter sentimentos. Sei que sinto algo diferente de tudo que já senti em minha existência, se fosse humano diria ser necessidade de te ter por perto. Mas não sei, só sei que é bom. Além do mais não tenho permissão para sempre estar aqui. Agora mesmo estou infringindo as regras para estar aqui.
— Tudo bem, eu entendo.
— Eu não posso demorar mais, preciso ir, mas antes queria tentar fazer uma coisa. Ele coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e se aproxima para beijar minha bochecha. Fecho os olhos ao sentir seus lábios tocarem minha pele. Causando certo arrepio.
Quando ele se afasta nos olhamos por alguns instantes, até que eu dessa vez quem tomo a iniciativa. Passo as mãos em seus cabelos Negro como a noite, descendo pelas laterais de seu rosto, sua pele é tão natural, real, o frio que havia quando ele chegou já não havia mais sinal.
Tomada pelo momento aproximo meus lábios até sua bochecha e depósito um beijo no canto de sua boca. E se eu beijar ele? Será que a sensação será humana?
— Jess, eu nunca fiz isso antes. Como assim, eles não beijão. Pensei. — Não desse jeito que você está pensando.
— Então somos dois. Porque nunca fiz isso. E antes que o arrependimento me tomasse eu o beijei. Era um beijo delicado, inocente, mas logo suas mãos encontraram meu corpo e seu toque foi o sinal para aprofundar mais nosso contato. Ele retribuiu o estímulo e seu beijo se tornou mais intenso, uma mão estava em minha nuca enquanto a outra na curvatura de minhas costas logo acima da minha bunda. Senti um arrepio e uma sensação boa que fazia minha perna bambear. Seja o que for essa sensação não quero que acabe.
Aos poucos fomos diminuindo a intensidade do beijo, até que cessou.
— Uau! Você disse que nunca tinha beijado. Ele diz sorrindo.
— Você também disse que não. Rebati.
— E não mesmo. Quer dizer não desse jeito. E agora? Temos um problema.
— Qual?
— Eu não quero mais parar. Ele disse em seguida me puxando para si e voltamos ao beijo no mesmo ritmo de antes.
Sua língua dançava em meu interior enquanto eu puxava seu cabelo e me rendia aquela sensação maravilhosa que começava a me deixar muito quente, muito quente mesmo, será que era normal esse calor? Senti ficar úmida em minha intimidade quando a boca de Kai desceu pelo meu pescoço formando uma trilha de beijos que me fizeram arfar.
— Jess! Jess! É melhor pararmos. Abro os olhos que até então estavam fechados.
— Você disse que não sabia fazer isso. Ele sorri e fica mais lindo ainda.
— Não. Eu disse que nunca havia beijado assim. Nossas relações não envolvem toque. Franzi o cenho em confusão. — Eu explico: De onde venho nossas relações são praticadas através de um estado vibracional, digamos assim. Por exemplo: Quando nós nos encontrávamos em sonhos, eu te levava a lugares sem ter que estarmos lá de fato. Da pra entender?
— Acho que sim. Me deu uma sensação estranha pensar que o Kai já tenha feito isso com outra pessoa.
— Então, eu já beijei. Mas nunca fisicamente, você é a única. Ops... Esqueci que ele ler meus pensamentos.
— Jess, escuta, eu já me envolvi com algumas pessoas no meu plano, claro, nada comparado ao que sinto por você, se é que eu posso chamar de sentimento. É complicado, eu não sou programado para ter sentimentos, eu os conheço, sei como usá-los afim de me passar por um humano sem ser notado. Mas com você é diferente, é tipo uma necessidade, sabe.
Apenas confirmo com a cabeça, mas na verdade, eu não sei nem se o que tá acontecendo aqui é sonho ou realidade. — Eu sei que deve ser muita informação para você, mas prometo que com o tempo você irá entender tudo. Agora eu preciso ir.
— Mas, quando vamos nos ver novamente? Digo, como eu posso te encontrar, falar com você.
— Eu sempre estou com você!
Sorriu timidamente. Ele me abraça uma última vez antes de abrir a porta.
— Onde você vai? Pergunto fazendo-o parar.
— Preciso de um local mais seguro para realizar a transição. Uma descarga energética sobre a zona que você mora, poderia gerar alguma desconfiança sobre a estação, eles não sabem que eu saí.
— É perigoso para você?
— Não se preocupe. Está tudo bem! Ele me dá um beijo casto nos lábios e saí.
Eu fiquei ali por mais um tempo parada, que nem uma boba.
Será que eu estou sonhando? Me belisquei. "Auuu! Doeu!" Bom, pelo menos não estou sonhando. O que torna tudo muito mais assustador, mas por outro lado estou com um sorriso bobo que não me deixa. Sabe aquela sensação de que eu finalmente estava me encaixando em algo, de como se minha vida começasse agora, é assim que me sinto.
Deitei na cama e fiquei por um longo tempo olhando para o teto com a certeza de que eu finalmente estava vivendo algo, além do agora.

[CONCLUÍDA] Além do agora - Sonhos podem ser reais Onde histórias criam vida. Descubra agora