2 - trying to change the ending, Peter losing Wendy

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- Vamos, Dada! Quanto tempo você precisa para calçar um sapato, Allah Allah!
A voz de Melo ecoou no corredor, fazendo Eda quase entrar debaixo da cama enquanto procurava o outro pé do tênis surrado. Um pé da sua meia de panda preferida, um envelope lilás, uma caneta que sumira ha meses... Nada do tênis.
Com o cabelo já se desarrumando e poeira fazendo seu nariz coçar, Eda finalmente encontrou o tênis atrás da porta, calçou as pressas e desceu as escadas quase escorregando.
- Estou pronta, vamos! Não sei para que tanta pressa, o shopping estará no mesmo lugar. - Eda resmungou, o nariz ainda coçando.
- Ora, é liquidação de ponta de estoque. Você sabe bem que com nossos salários de estagiária não podemos jamais comprar uma bolsa Gucci se não for assim.
- Se você me fez correr desesperada para no fim não comprarmos nada, eu juro, Melo, juro que vou ficar muito irritada.
Melek riu da melhor amiga, sempre tão dramática. Tentou esconder a pontada de ansiedade que percorria seu coração por saber que estava mentindo para Eda, mesmo que fosse por um bom motivo.
As amigas foram cantando junto a uma rádio que tocava os sucessos da música pop ocidental dos anos 2000, e antes que percebessem, estavam estacionando no shopping. Passaram pelas portas automáticas e seguiram rumo as lojas que Melo mais gostava. Entretanto, antes de chegarem lá, o celular de Eda tocou.
- Alô?
- Abla, onde você está? - a voz de Ferit soou do outro lado da linha.
- Acabo de chegar no shopping com Melo, por que? Onde você está?
- Que coincidência! Também estou no shopping. Vim comprar um presente para Ceren, um amigo está me ajudando. Estamos indo na Sephora, vocês querem me encontrar? Não quero atrapalhar a programação de vocês.
- Não tem problema, estamos indo para aí.
- Ok, então. Espero vocês aqui.
Eda desligou e se virou para a amiga.
- Melo, vamos para a Sephora encontrar o Ferit? Ele veio comprar algo para Ceren, podemos aproveitar e ver algumas coisas também?
Melo fingiu não gostar da ideia apenas para não sair do personagem.
- Não sei Dadacim, não quero perder as primeiras promoções da liquidação... - Eda lançou aquele olhar de cachorrinho pidão para a amiga, que riu. - Tamam, tamam, vamos a Sephora.
As meninas subiram a escada rolante debatendo quais cores combinavam mais com os olhos de cada uma e qual batom iriam comprar. Eda debatia os benefícios do batom líquido quando chegaram ao topo da escada rolante...
E seu mundo inteiro congelou.
Parado diante dela como um sonho, uma fantasia, o desejo mais profundo de seu coração, estava Serkan.
Como se os últimos cinco anos jamais tivessem acontecido.
Como se ele nunca tivesse ido.
Ali estava ele, seu sorriso de canto, seus olhos brilhantes e tudo que um dia havia sido a vida dela.
Eda perdeu a capacidade de falar por bons segundos, seu cérebro e sua boca desconectados. Ela mal conseguia respirar e tinha certeza que seu coração só batia porque era um gesto automático.
Ele estava ali.
Ele estava ali caminhando na direção dela.
- Eda... Oi.
A voz dele. Todas as lembranças desde a infância pulando na piscina ao primeiro beijo na adolescência, as viagens, brigas, noites em claro se amando, tudo vindo a tona ao som daquela voz.
- Serkan. Oi. Hoşgeldiniz. - soando quase como um robô, Eda se obrigou a deixar as palavras saírem.
Ele parecia desnorteado, sem saber o que fazer com as mãos, os olhos esperançosos, Eda poderia jurar que ele queria abraça-la.
Ela queria tanto abraça-lo.
Então por que continuava paralisada?
A lembrança amarga a invadiu, uma foto de Serkan com outra pessoa. Alguém que não era ela.
Dor invadiu seu peito. Não havia quem culpar, havia?
- Você está ótima. Droga, não. Você está mais linda do que jamais esteve, Eda. Como eu senti sua falta.
Ele foi incapaz de se conter. Todo amor e saudade vibrando naquelas palavras. Não havia como duvidar disso.
- Você parece muito bem também. - será que ele percebia o tremor na voz dela? - Quando voltou? Como foi em Londres?
Eda não tinha intenção de soar mordaz, mas ele se encolheu assim mesmo. Se sentiu ainda pior por tudo que havia causado a ela, mesmo sem ter a intenção.
Antes que ele pudesse responder, Ferit interviu.
- Podemos conversar enquanto fazemos as compras? Preciso escolher um presente para Ceren, nosso aniversário de três anos está chegando e ainda não decidi o que quero dar a ela.
- Isso é fácil, eu sei do que ela está precisando - Melo respondeu, já andando em direção a loja - Enişte, como foi o voo?
Enquanto Ferit e Melo tentavam manter a conversa viva, fazendo Serkan relatar sobre os últimos dias em Londres antes de retornar, Eda estava mortalmente calada, um caos dentro do peito.
Ela queria correr para os braços deles queria beija-lo, queria se sentir em cada novamente. Só de estar perto dele, aquela dor persistente dos últimos meses desaparecera como se nunca tivesse existido. O buraco em seu peito que por várias noites ameaçou despedaça-la, agora sequer uma lembrança.
Mas e a menina? Era namorada dele? Ela tinha vindo junto? Serkan a amava?
- Eda?
Ele chamou baixo, ambos sozinhos na sessão de perfumes.
- Ah, oi. Me desculpe, estava pensando nas compras que Melo quer fazer. - ela desconversou.
- Você está bem? Nunca te vi tão quieta desde o enterro de Mr. Bibbles - ele sorriu relembrando o hamster que a morena teve aos 8 anos de idade e morreu de forma misteriosa, deixando a amiga naquele tempo inconsolável.
Eda riu com a lembrança preenchendo seu coração. Serkan era parte dela assim, durante toda vida.
- Estou bem, juro. - e então, sem conseguir se conter, deixou escapar - é muito bom te ver, Serkan.
Ele inspirou, como se tudo doesse e curasse ao mesmo tempo.
- Eda, por favor. Por favor, deixe-me abraça-la. Eu não sei quanto tempo mais eu posso aguentar - Serkan pediu desesperado.
E como ela poderia negar tal pedido? Como ela podia negar o que sua própria alma implorava. Com um aceno, ele a puxou para o peito, afundando o rosto no cabelo dela.
- Ah, hayatım, como eu senti falta disso. De você, do seu cheiro... Eda. - ele a apertava e ela jamais queria deixar aquele momento, aquele abraço. Ela estava em casa, assim como ele.
As lágrimas agora desciam livre. Eda simplesmente esqueceu que estavam no meio de uma loja em um shopping, com pessoas ao redor. Só existiam eles dois e era suficiente.
Serkan sentiu as lágrimas dela encharcarem sua camisa e logo as próprias lágrimas dele se misturavam as dela. Depois de cinco anos de uma vazio insuportável, ele se sentia refeito.
E o mundo poderia ter acabado ao redor deles, não importava. O pequeno universo dos dois começava a se reconstruir outra vez.

Cardigan - EdserOnde histórias criam vida. Descubra agora