Chapter four

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❖ A saudade

Amy Morse Laufeyson recobrou a consciência aos poucos. A primeira coisa que percebeu foi que não se lembrava de ter ido dormir e a segunda foi que definitivamente não estava em sua cama. Ao abrir os olhos, viu que não havia teto, mas sim um lençol verde formado pelas folhas das árvores que pareciam muito altas de onde ela estava. Ela achou engraçado que a coroa de uma árvore não tocava na coroa de outra, formando “linhas de mapa” curiosas. A luz do sol penetrava preguiçosamente por entre as brechas entre as folhas, quase como se não tivesse a mínima de vontade de fazer o seu trabalho que era iluminar. Mas Amy não se importava com a falta de luz. Ela nunca tinha visto uma imagem tão bonita na natureza antes. E estar deitada no mato não pareceu tão ruim até aquele momento, quando alguma coisa pontuda machucou suas costas e ela precisou levantar para tentar encontrar o que era, provavelmente uma pedra. Foi aí que ela escutou. Passos de todos os lados vinham em sua direção, vagarosos, mas insistentes. Até aquele momento, estar em uma floresta tinha sido apenas estranho, mas isso não a havia deixado paranóica a ponto de observar os detalhes do mundo ao seu redor. As linhas de mapa fizeram com que ela ficasse distraída. Mas aqueles passos… eles eram suspeitos. Amy Morse Laufeyson olhou para todas as direções e o que viu não foi nada corriqueiro. Na verdade, ela nunca tinha imaginado aquilo. Deveria estar sonhando porque era impossível. Aquilo não acontecia na vida real, não é?! Aquelas criatiras eram apenas monstros fictícios que vendiam livros, filmes e séries, não é?

Mais de uma dúzia de pessoas caminhava com o mesmo objetivo. Todos estavam feridos em locais inimagináveis. Um homem com pescoço quebrado arrastava uma das pernas pelo chão. O pé estava dobrado para trás, fazendo-o mancar de um jeito quase engraçado. Amy forçou a visão para tentar vê-lo melhor e percebeu que os olhos do homem eram brancos, como se ele fosse cego. Havia sangue vindo de sua boca, escorrendo pelo pescoço, como se ele tivesse tentado tomar uma grande quantidade de líquido vermelho espesso de uma vez só. Vermelho espesso…

— Zumbis não existem — ela sussurrou para si mesma antes de ficar de pé.

Parecia ser um pouco tarde. Já estava cercada por uma grande quantidade daquelas criaturas. Teria que apelar para os seus poderes. Ergueu as mãos, tentando fazer com que os “zumbis” explodissem, mas nada aconteceu. Eles se aproximaram mais. O coração de Amy bateu forte no peito, causando uma dor incômoda. A memória voltou de uma vez, o que lhe conferiu uma dor de cabeça que só piorou a situação. Ela sabia o que havia feito, sabia porque estava ali, rodeada por zumbis, ainda que não fizesse muito sentido.

— Okay, zumbis existem — corrigiu. — E eu vou virar a comida deles se não pensar direito.

Amy viu que não tinha muitas opções. Não havia um manual de como sobreviver ao apocalipse zumbi porque a chance disso acontecer em seu mundo era muito baixa – considerado impossível, pra ser sincera –, mas sabia que, se tivesse um manual, ficar parada estaria na categoria dos pecadosa ao tentar sobreviver. Pensar demais com certeza não iria ajudar. Então, ela começou a correr.  Correu como se sua vida dependesse disso, porque, de alguma forma, dependia mesmo.

Amy nunca fora fã de corridas, mas estava extremamente grata por ter pernas hábeis e pulmões fortes, o que havia herdado da parte asgardiana da família. Seus pés ameaçavam virar quando pisava em algum buraco, mas ela possuía bons reflexos e não caíra nenhuma vez, apesar de suas botas possuírem saltos. Ela ficou sem ar antes de perceber que havia conseguido se afastar daquele bando de zumbis. Zumbis, zumbis, zumbis. Amy pensou que repetir aquela palavra – zumbis – a ajudaria a se acostumar com a ideia de que acabara de quase ser devorada por… Ela colocou as mãos nos joelhos, ofegante. Seus cabelos caíam no rosto e todo seu corpo estava extremamente suado.

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