Cebola crua

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– EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO, ALEXIS! – Grito depois de meio engolir a primeira mordida que tiro do sanduíche.

– Mas eu achei que pudesse fazer o mesmo sanduíche pra nós duas – responde cínica.

– Eu. Não. Acredito. Nisso – digo numa voz falsamente controlada e calma.

– Em quê, amor?

– Sua babaca! – Começo a rir, senão vou acabar morrendo de raiva dessa idiota.

– Eu ein – segura o riso.

– Vamos trocar – digo.

– Pra quê? São iguais!

– Então troca, uai. Qual o problema? – Desafio.

– O problema é: são iguais!

– Eu quero ver se a cebola do seu é igual a do meu.

– É, sim – tenta fugir.

– Quero ver.

– Trouxa – e começa a rir. E eu, como sempre, não entendo as piadas da Alexis.

– Você faz tanto sentido, Alexis – desdenho e tomo o sanduíche da mão dela.

– EI! – Protesta. Mordo o sanduíche e, surpresa!,não tem cebola.

– Babaca! – Ela ri de mim.

– Não sei como você ainda é babaca de provar um sanduíche que eu fiz pra você. Sério, Téss – ri mais ainda da minha inocência (preguiça) e pega o sanduíche que ficou de lado.

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Paramos na frente da minha casa e sinto uma imensa solidão, tão grande quanto essa casa é para mim. Um pânico começa a tomar conta de mim. Não gosto de ficar só. Odeio.

– Alexis? – Ela me olha com mais atenção, como quem diz “continue” e eu continuo. – Dorme comigo?

– Hum – parece pensar, avaliar. Como se eu fosse deixar ela me negar isso. – Aquele papo de babá não era sério.

– Vá se ferrar! – Rio da desculpa dela. – Então, tudo bem, vamos logo – finjo que ela disse sim.

– Já que você implora,Tessa, eu fico, eu durmo com você!

– Tá, tá. Vamos, tô morrendo de sono.

Depois que entramos, tomo um banho e caio na cama semimorta. A última coisa que sinto é o abraço da Alexis em volta da minha cintura. 

Acordo com o reflexo da luz que entra pela janela. Por que não fechei as cortinas? Abro os olhos lentamente e, de repente, sinto um calor enroscado em mim – vulgo dona Alistenn – e um olhar a captar todos os meus movimentos.

– Bom dia – ela diz com um sorriso estampado no rosto. Como é possível sorrir quando se acorda com o sol jogando luz no seu rosto?

– Bom dia – respondo numa voz rouca e desanimada, e logo percebo que sinto dor na minha garganta.

– Coragem! Hoje é sábado.

– Coragem pra quê? – Minha garganta dói novamente e faço uma careta.

– Que careta é essa? – Parece preocupada.

– Um pouco de dor de garganta. Preciso de um anti-inflamatório.

– Onde está? Odeio suas dores de garganta. Sempre são horríveis.

– Deve ter aí na gaveta – ela se vira e procura até que se volta para mim de novo com uma cartela de comprimidos e a joga sobre mim levantando-se. Fico olhando o teto enquanto Alexis não volta.

– Aqui – me assusto com sua voz –, toma logo, Téss.

– Calma, Alistenn, é só mais uma dor de garganta – tento aliviar sua tensão.

– Só uma semana de cama né? – Diz subindo na cama de novo enquanto me sento.

– Não exagera – uso um tom baixo. Não sei por que, mas hoje não estou me sentindo bem em quesito algum.

– Não estou exagerando, Téss. Você sabe – deposita um beijo na minha bochecha assim que termina de falar, mas se afasta rapidamente. – Você está com febre. Não acredito. Por que diabos você tinha que ficar naquele frio todo ontem?

– A culpa é sua – respondo petulante. – Pega logo um antitérmico aí.

– Minha... – se vira e pega outra cartela de comprimidos. – Ai ai, Weisen. Você que é uma babaca.

– Vou dormir mais um pouco – ignoro suas provocações.

– É só isso que você sabe fazer mesmo – me deito e ela me cobre e beija minha testa. Fecho os olhos e durmo quase instantaneamente.

Acordo algum tempo depois, com algum barulho vindo da cozinha. Levanto-me correndo e quase me dobro de rir quando vejo a bagunça que Alexis fez.

Pulvis et Umbra SumusOnde histórias criam vida. Descubra agora