Decisões

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– Você é uma idiota, Weisen – Alexis sussurra contra meu pescoço e deposita outro beijo ali, que faz meu corpo se arrepiar. Ela ri. – Mas, caso você não tenha percebido, você é a minha idiota. Eu não vou deixar você dizer que isso é errado enquanto você quiser isso tanto quanto eu. Está entendendo?

Como uma pessoa pode ser tão mandona? Quase aceno negativamente, mas não quero desfazer o contato perfeito da cabeça de Alexis contra minha pele.

– Acho que entendi, Alistenn – digo só para irritá-la.

– Não venha com achismos, você tem que ter certeza – há uma pontada de impaciência em sua voz.

– Larga de ser mandona, Alexis – mando.

– Se eu deixar você mandar em alguma coisa, vai sair tudo mais torto do que já está – reclama.

– Ai, como eu te odeio! – Levanto um pouco o tom de voz. Eu já sei que eu faço tudo errado, ou do meu jeito, os dois são a mesma coisa.

– Seria uma pena se eu não te odiasse de volta – como assim? Odeio frases com mais de uma interpretação.

Estou prestes a responder quando sinto o contato de seus lábios com meu pescoço, de novo. Fico apenas quieta. Fecho os olhos e ela se afasta deixando o vento gelado evidenciar o contato.

– Tessa? – Sua voz é um sussurro firme.

– Hm?

– Por que, exatamente, você se escondeu? – Mais direta impossível, como sempre.

– Porque – fecho os olhos, como se fosse direito dizer tudo que eu estava pensando há pouco –isso não é o melhor pra nós, Alexis. Fica quieta – falo porque sei que ela abriu a boca para protestar e me chamar de covarde –, me deixa falar. Não é só que eu não queira me apaixonar, é que você mesma disse: nós somos melhores amigas. Eu não quero perder isso, entende? Porque agora eu tenho uma melhor amiga, e caso a gente queira ter algo, eu vou ter uma melhor amiga e uma namorada e depois que acabar nós não vamos ser mais nada, provavelmente – suspiro pesadamente.

– Téss, foi por isso que eu segurei a barra, mas não dá mais. Eu não quero mais saber dos caras que você sai, de como eles te agradam ou desagradam, não quero mais te ver chorando por aí. Eu quero estar no lugar deles quando você sai, quero te agradar, tá, desagradar também – nós rimos, óbvio que ela quer me desagradar –, quero estar lá pra te ver sorrir ao invés de chorar. Dá pra entender?

– Você sabe que não é isso que parece né, Alexis? – Pergunto me lembrando da vida que ela leva.

– Por que não? – Parece confusa, reviro os olhos. A Alexis não existe.

– Por que não? Sério? Alexis, você pega uma guria por noite, quando pouco. Você ama e desama toda hora. Eu nem consigo acompanhar.

– E você, como sempre, não percebeu que isso passou a ser um jeito de tentar te chamar a atenção né? Eu só estava querendo um pouco de ciúmes seu. E depois, ou sempre, eu passei a procurar você em cada uma daquelas gurias, mas você não estava lá. Você é muito trouxa, Tessa – diz rindo de mim, como se eu nunca entendesse nada.

– Ri, Alistenn. Ri – me irrito. Eu odeio todas as noitadas da Alexis. Sempre odiei. Ela não responde. Ficamos em silêncio por alguns momentos. Até que eu por fim falo: – Sabe, eu comecei a pensar na vida, em tudo, e aí nessas nossas aproximações estranhas entre nós, principalmente mais cedo, quando eu achei que a gente fosse se beijar e acabei sumindo. Mas você sabe disso, não é? Eu não consigo parar de pensar que eu não posso perder você, Alexis. Não consigo – sinto-me pesar. É verdade, não consigo pensar nisso, é muito ruim.

– Você não vai. Eu já disse mil vezes que quero te atormentar muito ainda. Para com isso, Tessa. Você fica comigo, eu cuido de você, e a gente segue como sempre foi, mas com essa mudança. Não precisa ter medo, oras – parece decidida por nós duas. – Nós vamos tentar, quê mais nós podemos fazer?

– Nada, parece – suspiro sabendo que sempre vou ter essa insegurança de perdê-la, ela sabe.

O peso dela começa a se aliviar de cima do meu corpo e ela fica em pé me estendendo a mão.

– Vamos, você não percebeu, mas tá morrendo de frio, seus lábios estão roxos – acho que há um quê de preocupação em sua voz.

– Ok – pego sua mão e ela me puxa com força, colando nossos corpos um do lado do outro. Estamos quase saindo quando lembro. – Meu celular, eu não o peguei.

– E a super-babá Alexis volta à ativa – brinca irônica, nem digo nada, apenas aceno negativamente e ela beija minha testa. Estou um pouco melancólica. Não que eu desgoste do rumo que as coisas tomaram, mas preferia quando não estava tudo assim a perder, espalhado por cima da mesa.

Pulvis et Umbra SumusOnde histórias criam vida. Descubra agora