Coisas diferentes

11 1 0
                                    

Alexis busca meu celular e vamos embora.

– Sabe – ela quebra o silêncio do carro –, talvez a gente devesse fazer algo diferente – quase posso ver as engrenagens de sua cabeça trabalhando por trás da pele. Tenho até medo de perguntar como, mas não há com fugir.

– Defina “diferente”, Lexi – digo enfim.

– Viajar, Téss, correr de madrugada, jogar pedras na lua, desenhar formatos nas nuvens – me olha divertida. – Sei lá. Fazer o que der na telha. Pegar o primeiro avião – começo a rir, não conheço muito bem essa Alexis sonhadora além da conta.

– Lexi – tento falar com um tom sério –, sabia que a gente ainda faz faculdade e, sei lá, de repente, a vida não tá tão ganha assim.

– Ah, para de ser chata, Téss. Você sabe muito bem que existem várias oportunidades pra isso. Uma ou duas faltas na faculdade não matam ninguém – responde despreocupada.

– Uma ou duas faltas? – Começo a rir sem esconder. Ela me olha sem perder o ânimo, mas quase. – Uma ou duas faltas quantas vezes? Umas dez? – Rio mais ainda e vejo uma careta se formar no rosto da morena.

– Cala a boca, sua idiota – diz meio debochada meio chateada. – Esse problema tem uma solução muito fácil.

– E qual seria? – A resposta é idiota, tenho certeza.

– Repetir o semestre ou trancar a faculdade – responde na maior cara limpa, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo.

– É mesmo, Alexis? – Volto a rir, isso nem deve ser sério. – A gente pode acampar lá na varanda do seu prédio.

– Ia ser perigoso demais – me olha de um jeito malicioso (?)

– Cala a boca, Alistenn – mando.

– Eu tô falando sério, Téss. Vamos viajar. Me diz um lugar que você sempre quis ir, a gente vai. Só diz, vai.

– Agora não dá – tento pensar nas responsabilidades e não ser inconsequente como a Alexis.

– Por favor, Téss. Por favor – ah, essa voz de manha não. Sinto vontade de estapeá-la por esse golpe baixo.

– Não – tento manter a posição.

– Vai, Téss. Você quer, eu tô vendo – Você não quer,Tessa, penso, não ceda. Mas seria muito bom visitar uma cidadezinha turística que tem aqui perto. Seria legal mesmo. E depois, sei lá, Buenos Aires. – ISSO! – A voz da Alexis me desperta de meus devaneios.

– Isso o quê? – Olho confusa para ela.

– Nós vamos para essa cidadezinha aí que você acabou de dizer o nome – que cidade? Eu disse alguma coisa?

– Nas férias eu vou com você.

– Tá louca? Faltam uns mil anos para as férias. Nós vamos assim que der uma brecha – e a voz dela é animada e decidida por nós duas.

– Alexis... – ela nem deixou eu começar.

– Tessa, dá pra relaxar uma vez na vida? – Repreende.

– Não com você – solto, grossa.

– Não adianta tentar me vencer pela grosseria, eu não ligo. Nós vamos.

– Nós isso. Nós aquilo. Não importa o que você pensa,Tessa – digo numa voz forçada e irritante.

– Você vai me agradecer por isso depois, Téss – sorri para mim e estaciona o carro perto de algum Subway.

– Tenho certeza que vou – falo irônica. – Ah, mas tenho certeza que vou.

– Vem, vamos comer – me ignora totalmente.

– Sua irritante – resmungo ao sair do carro.

– Cala a boca, Téss. Essa discussão não está mais aberta – me corta. Respiro fundo e nem respondo, seria inútil.

Há poucas mesas livres. Me bate um puto cansaço. Vai ver não foi boa ideia pegar tanto vento frio.

– Pega o meu? Vou me sentar – digo mais controlada.

– Larga de ser preguiçosa! – Balança a cabeça como se me repreendesse. – Qual você quer?

– O mesmo que você pedir.

– Eu podia te sacanear, você sabe – sorri travessa.

– Hoje não – pisco para ela. – Mas outro dia tenho certeza que poderia.

– Vai achando – diz e vai para a fila. 

Pulvis et Umbra SumusOnde histórias criam vida. Descubra agora