A loirinha consegue ser muito infantil quando quer. Acho até que ela merece ser posta num cantinho do castigo. Não é fácil. E isso não é nem o começo. Mas eu preciso colocar na cabeça dela que ela precisa ser menos obtusa. A Fernanda também merece uns tapas. Tá que eu nunca cortei ela. Era divertido ter alguém pra tentar esquecer a Téss, mesmo que eu fizesse isso incontáveis vezes sem jamais obter qualquer resultado que pudesse estar no rumo certo. Mas quem liga?
O cara do supermercado me olha de cima a baixo e é só aí que me lembro que não estou muito vestida. Não que eu me importe tanto assim, mas hoje não tô com paciência. Lanço um olhar perigoso para ele que entende o recado e apressa a entrega.
Abro um tubo de Pringles, assim que fecho a porta. Preciso me acalmar um pouco.
Uma ideia louca passa por minha cabeça, mas um segundo depois é descartada, pois é obscena demais pra qualquer pessoa. Balanço a cabeça querendo me esquecer desse momento.
– Téss – chamo enquanto caminho de volta para o quarto – tem batata da sua preferida – completo parando na porta. Recebo um olhar carregado. Vejo mágoa e raiva. E isso me corta o coração a ponto de eu querer chorar, e eu nunca choro.
– Hoje não – corta.
– Téss – suspiro pela milésima vez –, você sabe que eu não ligo pra ela.
– Não na minha frente. Até porque você seria uma mulher morta. Muito bonita e, hum, talvez gostosa, mas morta – ela se dá conta das palavras que usou assim que fecha a boca e vê um olhar divertido passar por mim. – Merda – completa.
– Então, talvez eu seja, hum... que palavra que você disse mesmo? – Uso ela contra si mesma. Sei que ela odeia e acaba se perdendo.
– Eu disse atraente – tenta ser neutra.
– Acho que não foi bem essa palavra ein Téss.
– Eu acho que você não tem que achar porra nenhuma, sua babaca – tenta recorrer à sua grosseria.
– Ah – começo a andar em sua direção – que pena, então.
Recebo um olhar cheio de expectativa, chego perto da cama, me debruço sobre ela e passo desajeitadamente por cima dela para chegar ao outro lado da cama.
– É – diz um pouco depois com a respiração um pouco estranha que eu finjo não notar.
– ‘Cê quer batata? – Ofereço.
– Quero – ela cede.
– Tem outro tubo lá em cima do balcão – provoco.
– Imbecil – resmunga e fecha a cara.
– Larga essa preguiça, Téss – tento não rir, mas começa a ficar difícil.
– Larga essa babaquice Alexis – rebate.
– Com uma condição – olho para ela de canto de olho.
– E qual seria? – Tenta parecer desinteressada, mas é em vão, a conheço bem demais.
– Essa – viro-me num movimento brusco e estou sobre ela em menos de um segundo, deixo o tubo de Pringles sobre o criado-mudo e tiro os fios loiros do rosto da Téss para depois encará-la e beijá-la calmamente.
– Eu ainda tô chateada com você – diz quando nossas bocas se afastam.
– Vou fazer você esquecer isso rapidinho.
POV Tessa
Alexis me estressa até o último fio de cabelo e vem com essa de que vai me fazer esq-
A boca dela se choca contra a minha e suas mãos mexem no meu cabelo. Começa a ficar um pouco difícil respirar e beijá-la enquanto todo seu peso está sobre mim. ela parece perceber isso e alivia um pouco do peso, nos deixa respirar por alguns segundos e volta a me beijar.
Enquanto estou distraída uma de suas mãos começa a passear pelo meu corpo. Ainda não entendi bem a situação. Eu não estava chateada? Com o quê mesmo? Não dá pra lembrar enquanto a Alexis me ataca – literalmente.
Sinto sua mão parar na barra da minha blusa, que na verdade é a única peça de roupa que me cobre além da calcinha. Alexis aperta minha cintura. Apenas continuo a beijá-la, estou um pouco perdida na situação. Sua mão começa a se tornar mais ousada até que...
“I like the sound of the broken piece, Ilike the lights that assign where she sits”
E é o celular da Alexis mais uma vez. Ela para e me olha meio perdida meio chateada. Pega o celular entre os lençóis, olha quem está ligando, tenta esconder de mim, mas dá pra ler perfeitamente as duas únicas letras que identificam o ser que liga.
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Pulvis et Umbra Sumus
RomanceVocê passa toda a sua vida achando que tem certeza do que você é ou do que você gosta, mas de uma hora para outra seus conceitos e certezas começam a querer se quebrar, e os cacos disso cortam profundamente. Tudo corre bem na vida de Tessa, até que...