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(uma criança perdida)

quando crianças não nos importamos com tanta coisa, nem mesmo como as pessoas nos olham ou deixam de olhar. a gente é o que acreditamos ser com as atitudes que julgamos ser as melhores, não só pra nós, para um todo. mas a gente cresce e deixa isso de lado, o "todo", e começa a nos ver como o nosso próprio "todo"; porque é isso que largamos no passado: uma bagagem pesada demais para alguém sem força carregar pra cima e para baixo. perdemos nossa força, boa parte dela pelo menos. deixando no peito apenas resquícios da saudade do que fomos em um passado muito distante que não há nem sequer uma cinza queimada dele para que poder tocar sentir reviver.

perdemos o gosto de viver
não compreendemos como os cheiros são capazes de trazer a tona momentos, ruins ou bons demais.

o tempo não volta mas os sentimentos remoídos ainda estão presentes como uma cirugia recém feita, da qual estamos presos no quarto para nos recuperarmos no pós-cirúrgico.

nós somos como atlas que fora condenado por zeus a sustentar os céus, mas não temos força, e sim medo. medo o inevitável, do intocável, do que não conseguimos tocar sentir ou ver. estamos presos aqui, igual atlas, condenado a um pós operatório para depois seguir com o peso do mundo nas costas cansadas e fadigadas.

o medo nos sustenta no escuro
o medo nos segura quando estamos prestes a cair
o medo é o único que fica
(porque todos já foram embora)

porque é isso que somos: crianças perdidas em um milênio revestidos de equívocos de uma ponta a outra. nossa única liberdade está no olhar, puro e genuíno, onde o mundo é bom e as fadas brincam de esconde-esconde umas com as outras. não há maldade, não há dor. só apenas nós, em um mundo só nosso.

porque, aqui, somos cem porcento bons mesmo não parecendo. aqui não estamos totalmente perdidos nem mesmo com o coração trincado por pessoas sem essência.

aqui, somos nós
apertando os nós dos dedos
com medo de nos acordarem
desse sonho bom.

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