xiv | part one

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até onde vc teria ido depois de tudo?

ainda sei suas músicas favoritas de cor, você vivia cantarolando elas quando saía do banheiro pra sala, da sala pra cozinha, da cozinha pra cama, da cama pros meus braços. sua mãe deve estar contente por seu diamante mais precioso estar nos braços de alguém que se importa, que cuida, que te ama. o que seu pai diria que sou a favor do amor-como-cor-primaria-aos-olhos-dos-jovens-de-hoje, se soubesse que odeio política e deixo meu coração de lado quando se trata disso.

eu não tenho escrito por dias meses e arrisco dizer por décadas quando o assunto se trata dos sentimentos. cavei um posso até o outro lado do mundo, uns dizem "buraco espaço tempo", eu digo "meu vasto infinito que é existir".

afastar a poesia me deixa solitária
afastar a poesia não te traz pra perto
afastar a poesia me mantém longe de nós
(e o pior) afastar a poesia me rasga por inteiro

um dia vou ser tudo que sonhei
um dia vou ser tudo que tenho direito
um dia vou ser a paz nos corações alheios

um dia serei sua, não de corpo e alma
mas sua, no meio da poesia e no colo que me abria tarde da noite. porque não somos mais os mesmos, eu não sou eu de segundos atrás, você não é você de horas atrás.

pintei universos com seu olhar terno nas tardes de uma terça-feira, seu nariz nunca dava uma trégua, ele fungava fungava e fungava sem parar. você nunca me largava em dias assim, fazia questão de me abraçar apertado até ouvir meu peito inflar as batidas da pequena caixinha. era isso que você mais amou: o som que meus órgãos gritavam quando estava lá por você. eles choravam pela sua partida, bebiam suas lágrimas, gritavam seus versos não registrados na biblioteca nacional do rio.

então, sendo furtados. o fígado o pâncreas o estômago e o miserável miocárdio, levaram tudo. lágrimas esperança suas músicas que sabia de cor.

bem quanto tinha decorado as formas de dizer que queria espaço pra respirar e voltar pro meu casulo, voltar a ser eu mais uma vez, voltar pro começo sem dores mágoa ou expectativas, queria voltar pra casa.

você não era mais a minha casa, era sua.
eu não era mais a sua casa, era a minha.

sem mais mi casa su casa amore.
eu odiava espanhol, qualquer um saberia somente ao fitar meus olhos. você nunca me viu.

eu te vi no escuro da lua, no clarão do sol.
eu te ouvi no silêncio mortal de vidas.
eu te acolhi no amor que salvei pra nós.

eu nadei mares rios e oceanos rasos demais pra um sorriso torto e sem reação.

eu vivi por mim e por você.

você teria escalado a montanha pra me dar o topo do mundo somente pra que eu existisse no seu?

ou sequer teria decorado minhas músicas favoritas que quase ninguém conhece?

depois de tudo, até onde você teria ido para me ter nos seus braços nas terças-feiras, enfrentaria seus pais a ponto de gritar aos quatro universos existentes: o amor é cor primária que dá origem a esperança sobrevivência compaixão. se amar é a primeira conjugação que aprendemos depois para amarmos o outro. e eu amei ela, só não o suficiente para admitir pra vocês

e pra ela.

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