fourteen

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Capítulo quatorze:
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Qualquer sensação de acalento é muito para quem nunca teve nada.

Muitos viam Harry, mas ninguém de fato o enxergava.

...até então.

Quando o mundo se torna cruel demais, não há nada que nos acolhe como os braços de quem nos ama. Ele nunca teve alguém que o acolhesse e o embalasse com cantigas de ninar quando precisou. 

Harry nunca teve esses braços. 
Não teve colo. 
Não teve o mínimo.
Não teve nada. 

Não culpava a mãe... A doença a tinha levado, e os poucos minutos de lucidez que a tomavam, ela conseguia dar a ele um pouco de amor. 

Harry sempre soube que pouco amor era melhor que nada. 

Aprendeu a ser só, porque era só desde o começo. 

Ele só tinha um corpo. 
Violado, marcado, explorado. 
Fonte de desejo e prazer. 
Nada além disso. 

Mas o mundo continuava girando, e o que restava era tentar viver no equilíbrio entre o abismo e a sanidade. 

Harry era simplesmente uma parede branca, sem vida, que era rabiscada por quem quer que fosse. Os desenhos não eram seus. Qualquer um que passasse deixava uma marca em sua parede cristalina.

Ele odiava todos os rabiscos. 
Odiava todas as linhas que eram traçadas contra sua vontade. 
Era feio, e imundo. 

Lembrava a ele todos os dias como era ser desenhado e moldado da maneira que bem quisessem. 

Nada dele era realmente dele.

Ele desejava gritar aos sete ventos que Louis era o único que poderia pintar a sua parede branca como bem entendesse. 

Preto. 
Amarelo. 
Cinza. 

Qualquer cor.
Se fosse pintada por aquelas mãos, Harry tinha certeza que amaria.
Porque Louis é arte. 
Louis é o resumo de tudo que é belo. 
Tudo que ele toca floresce, e Harry gostaria de florescer. 

Harry quis se abrir, se expor, virar do avesso por aquele homem que havia conseguido penetrar na mais profunda camada do seu ser.

Louis conseguia ver as todas as suas feridas abertas, via todas as suas cicatrizes e sua podridão e mesmo assim amava cada uma daquelas marcas. 

As beijava metaforicamente esperando que elas sarassem.

Aceitava que Harry talvez nunca fosse se curar permanentemente, e teria traumas para o resto da vida, mas estava disposto a lutar. 

Porque valia a pena. 

Valia a pena porque Harry era digno, por mais que o mundo inteiro tentasse provar o contrário.

Agora acordado ao lado de Louis ㅡ depois de ter pedido ao mais velho para dormir em sua cama quando chegaram em casa ㅡ Harry observava cada traço do seu rosto esculpido. 

Seus olhos fechados revelavam cílios longos e pretos que encostavam nas maçãs do seu rosto. E por falar nelas, Harry nunca havia visto maçãs mais definidas e bonitas que as de Louis. Seu maxilar delineado, seu nariz de bolinha empinado que só, e seus lábios finos e rosados... 

Lábios esses que havia tocado uma única vez, mas que permaneceria em sua mente perpetuamente, porque era como tocar o paraíso. 

Louis era arrebatadoramente inefável.

Louis era bonito de dentro para fora. Todo o seu ser emitia luz. Toda a sua significância deveria ser emoldurada em forma de beleza. Louis é uma ótima pessoa para apenas se sentar e admirá-lo. Porque é isso que os espectadores fazem com as obras de arte. 

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