🦋 Prologue

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Hope virava seu décimo copo de vodka, sentada sozinha no vazio bar próximo a sua casa: o Snoker's. Olhando para o seu rosto era perceptível perceber que ela havia chorado bastante; seu curto cabelo preso de qualquer forma e suas unhas roídas, com seu esmalte preto que já estava saindo. Agora ela estava ali, sozinha numa noite de Sexta-feira, lembrando-se da briga que tivera com seus pais e Vênus.

O local estava silencioso. Claro! Quem passaria uma noite daquelas num bar quando se podia divertir-se numa balada qualquer com os amigos? Esse era o problema. Hope não tinha amigos.

A loira puxou as mangas de seu moletom cobrindo totalmente suas mãos e deu o último gole em sua vodka. O líquido desceu em sua garganta queimando. Hope fechou os olhos e escutou a música que tocava no rádio do estabelecimento; uma bem triste e deprimente que só piorava seu bem-estar. Ela só queria esquecer de tudo e todos, esquecer que estava sozinha, esquecer como se respirava...

FLASHBACK | QUATRO ANOS ATRÁS

— Hope, podemos conversar? – Ella olhou para a loira que colocava sua mochila em cima do sofá.

Já eram oito horas da noite e Hope chegava aquela hora porque fazia os trabalhos de toda a semana na biblioteca, já que em casa ela teria que arrumar as coisas.

— Claro mãe... – a garota meio desconfiada fechou a porta do apartamento.

A menina não morava num local chique, muito longe disso. Ela, junto com a sua família, morava próximo ao Brooklyn, num prédio desgastado e antigo.

— A Vee me disse que ontem você saiu e chegou tarde em casa sem a nossa permissão. – a loira abriu a boca para se defender mas foi interrompida pela sua mãe. — Hope, eu já estou cansada de você sempre nos desobedecer. A única coisa que você sabe fazer é trazer desgosto para essa família. Por que você não pode ser que nem a sua irmã?

Hope olhou para baixo e mordeu fortemente seu lábio inferior. Ela estava cansada de sempre Vênus inventar mentiras sobre ela somente para fazer seus pais a odiarem; estava cansada deles não terem orgulho dela, por mais que desse seu último suor para que recebesse o mínimo de atenção; estava cansada de se sentir um nada, um lixo, uma inútil.

Sem pensar duas vezes ela correu para o pequeno quarto que dividia com a sua irmã e viu a morena falando ao telefone deitada em sua cama.

— O que faz aqui?– a mais nova perguntou revirando os olhos. Hope a empurrou bruscamente no chão fazendo um grande barulho. Vênus gritou e logo seus pais correram para ver o que estava acontecendo.

— Vênus eu estou cansada de você! Cansada de você ficar inventando mentiras para os nossos pais, cansada de você sempre tentar ser superior a mim, cansada de ser humilhada por você!

— Já chega Hope! Eu não admito esse tipo de coisa em minha casa! – Ella puxou sua filha mais velha para longe da morena que permanecia no chão.

— Você nunca admite esse tipo de coisa vindo de mim, não é mesmo? – Hope se soltou de sua mãe. Ela estava cansada de tudo aquilo, não queria mais estar ali faz tempo.

— Hope já chega! Saia daqui e não volte até estar arrependida do que fez! – seu pai retirou a garota do quarto e ela correu para a sala.

Ela não estava arrependida e, se não pudesse voltar mais, não voltaria. Ao voltar para o seu quarto para ver seus pais pela última vez, pôde ver Vênus abraçada a sua mãe recebendo consolo e sua irmã, ao vê-la, sorriu cinicamente como se dissesse que, novamente, Hope havia perdido. E, sem pensar duas vezes, a loira saiu de casa apenas com sua mochila e a roupa do corpo.

DIAS ATUAIS

A garota saiu de seus devaneios olhando para frente. Ela viu o barman a encarar de cara feia e arqueou uma de suas sobrancelhas

— A mocinha tem dinheiro para pagar tudo isso que bebeu? – o homem perguntou.

— Quanto deu tudo? – a loira pegou sua bolsa e abriu sua carteira, onde haviam apenas cinco dólares.

— Deu nove dólares. – o homem respondeu guardando o copo que limpava.

— Que? Eu não tenho isso tudo, eu só tenho cinco. Não tem como eu te dar o resto depois? – o barman a encarou por alguns minutos mas logo assentiu. Hope sorriu e deu o que tinha para o homem logo saindo do bar para pegar seu táxi que a levaria para o metrô.

Ao chegar no Queens, a loira foi para o seu apartamento que ficava perto da estação e subiu as escadas até o último andar. Seu prédio era antigo, não havia nem porteiro e elevador — após pechinchar muito, ela havia conseguido comprar o enorme sótão do prédio e, após algumas reformas, aquele local havia se tornado um loft industrial.

Subiu as escadas que dava para onde dormia e jogou sua bolsa ali mesmo logo olhando para sua sala enorme e vazia. Trocou sua roupa de trabalho pelo seu pijama favorito — seu short de dormir rosa e a camisa social branca de Zion, seu noivo, não demorando muito para descer. Andou pelo ambiente escuro e quieto e suspirou. 

Zion não estava em casa. Os dois haviam brigado na noite passada e ele decidiu ir para a casa de Austin para que ambos esfriassem a cabeça. Junto com ele se foram também Tina e Hércules — sua gata e seu cachorro.

Foi até o banheiro e pegou do fundo da gaveta, escondidos atrás de algumas pilhas de papel higiênico, uma lâmina e maços de cigarro. Zion havia escondido bem, mas Hope era esperta e, uma hora ou outra, descobriria onde ele havia escondido dela mesma aquilo.

A loira voltou para a sala e abriu uma das enormes janelas logo se sentando no batente para sentir a brisa gelada bater em seu rosto. Começou a fumar e observar os carros passarem distante de seus olhos; pessoas caminhavam para lá e para cá... Tudo a sua volta parecia tão triste e cinza. 

A lâmina brincava em seus dedos e, após tragar quatro maços, fez cortes profundos em seu pulso direito e o pânico tomou conta de si. Hope respirava descompassadamente, se sentia fraca aos poucos e com muita dor. O sangue escorria de uma forma absurda; ela nunca chegara a se auto-mutilar tão profundo como agora. Olhou para sua blusa branca que ficava vermelha com seu sangue e levantou-se ficando de costas para a janela. Fechou os olhos e suspirou, deixando lágrimas escaparem.

Somos programados para cair. – riu minimamente e seus pés deslizaram fazendo com que ela caísse de uma altura de dez andares.

— Hoje não, por favor.  – enxergando com dificuldade, ela apenas sorriu para a pessoa que havia ficado a sua frente.

Era uma alucinação. Aquilo não era real; Hope não falava com ninguém, pois já estava morta pelo impacto causado entre seu corpo e o chão.

— Me desculpe. – a loira sorriu deixando uma lágrima escorrer pela sua bochecha.

— Pelo que? – a voz de seu noivo ficou distante e Hope nada pôde falar. Ela apenas fechou os olhos enquanto, aos poucos, ia perdendo bastante sangue.

HopeOnde histórias criam vida. Descubra agora