Dois pássaros, um coração, uma serpente e um rato

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Andreas von Richthofen abriu os olhos por volta das 9

horas da manhã no sábado, 3 de julho de 1999, mas se

recusou a sair de baixo das cobertas. Virou-se de um

lado para o outro na tentativa de esticar um pouco mais o

sono naquela manhã de inverno. Mesmo com a vista

desfocada pela sonolência, conseguiu enxergar um pacote

grande embalado com papel de presente repousado sobre o

tapete colorido do quarto. Em um ímpeto, deu um pulo da cama

seguido de um grito e rasgou sem a menor cerimônia a

embalagem fina feita com muito esmero. Dentro da caixa havia

um avião para prática de aeromodelismo de um metro de

comprimento, porém inteiramente desmontado. Presente dos

seus pais, Manfred e Marísia. Naquele dia, o garoto completava

12 anos. Com um pé na adolescência, a voz de Andreas já

começava a engrossar. Aos poucos, vinha perdendo interesse

pelos brinquedos de criança, a exemplo de carrinhos e bonecos.

A miniatura de avião era movida pelo combustível conhecido

como glow, uma mistura de metanol com nitrometano; levantava

voo alcançando até dezoito metros de altura e possuía

autonomia para ficar no ar por até 20 minutos. Comandado por

controle remoto, o avião foi projetado para acrobacias de alto

desempenho. Um sonho para quem passou a infância ouvindo do

pai as histórias de patriotismo do avô, um aviador alemão e

combatente da Segunda Guerra Mundial, cujo maior mérito foi

bombardear o Reino Unido em 1940 e 1941. Manfred também

tinha o mesmo nome do tio-avô, notável na Europa pela alcunha

de Barão Vermelho, o maior piloto alemão de caças militares de

todos os tempos. Na Primeira Guerra Mundial, o Barão abateu 80

aviões inimigos de seu país. Por causa dos méritos dos parentes

na aviação, Manfred resolveu presentear o filho com o

aeromodelo.

- Combater naquela época era uma atividade nobre e

sofisticada. Quando a munição do inimigo acabava, os

combatentes rivais os esperavam se reequiparem. Era um sinal

claro de respeito aos adversários - contava Manfred com orgulho

para o filho.

Existia ainda um motivo particular para aquele presente

especial. Andreas era um garoto extremamente tímido e calado.

Com problemas de relacionamento na escola, enfrentava

dificuldade de fazer amigos e passava as horas de lazer trancado

no quarto, solitário, entretido com jogos eletrônicos. O avião de

aeromodelo seria um estímulo para o adolescente sair de casa e

Suzane :  Assassina e ManipuladoraOnde histórias criam vida. Descubra agora