Parte 6

24 7 1
                                    

          Eram já cinco para as cinco da tarde quando Tatagiba, Kitamura e Soares chegaram à Galeria do Rock outra vez. O movimento não diminuíra, ao contrário, parecia até maior. E eles logo se encaminharam ao terceiro andar, onde se encontrava a Clock Master, aparentemente tão normal e pacata por fora quanto a relojoaria que encontraram horas antes. Como lhes sobravam alguns minutos, eles esperavam atentos aos seus relógios, tanto os de pulso quanto o dos celulares.

          17:08.

          Tatagiba prestava atenção na faixada. Naquele slogan logo abaixo do nome: "Desde 1919, confeccionando relógios para que você nunca perca a hora". Percebia também o movimento, aparentemente pequeno. Havia ali muitas lojas, assim como transeuntes, mas eles pouco notavam aquela loja de relógios. Por algum motivo, ela parecia mais repelir do que atrair clientes, e isso se tornava cada vez mais forte conforme os minutos se adiantavam.

          17:12.

          Kitamura comia alcaçuz sentada à frente da loja, distintivo já à mão. Apesar de não se apegar a padrões como a parceira, tudo era permeado por uma sensação estranha de déjà vu, para ela. Um reconhecimento falso, daqueles que parece fazer a gravidade pesar menos sobre o seu corpo. Ela sentia isso em especial quando, ao mastigar o doce, percebia a parte que faltava no molar esquerdo.

          17:15.

          Soares se sentia levemente constrangido ao embarcar naquela empreitada. Sempre disseram que T. tinha métodos diferentes e um jeito levemente excêntrico e contido, mas uma coisa era certa, os resultados dela no trabalho nunca deixavam essas características macularem a sua fama. Era isso que ele esperava, um resultado, porque, parecia-lhe, estavam há muito tempo nesse caso. Longas e longas horas, de novo e de novo.

          17:17.

          Os relógios dos três policiais eram unânimes, assim como os cucos pregados às paredes da relojoaria Clock Master, visíveis pelo lado de fora. Todos sincronizados às 17:17 da tarde. Exatamente nesse horário, Tatagiba, Kitamura e Soares adentraram novamente a loja de relógios e, ao fazerem isso, podiam sentir uma espécie de força energética que nenhuma das investigadoras havia sentido no início daquela tarde ao entrar ali antes. Os cabelos dos três se eriçavam, Soares sentia um suorzinho na nuca, Kitamura sentia o açúcar bater no cérebro e Tatagiba, uma conexão com aqueles do outro plano que a fazia ativar cada neurônio, cada sensação e intuição que seu corpo podia proporcionar: estava ativada cem por cento no seu modo Tatagiba de ser.

          De maneira que elas puderam ter novas observações acerca daquela loja que, diferente da que encontraram anteriormente, não possuía nada de ordinária, não era só mais uma. Como não se impressionar? Se os transeuntes avistassem um ambiente como esse do lado de fora da vitrine, parariam ali só para admirar a peculiaridade do ambiente que inspirava um misticismo arrebatador. No geral, a disposição dos objetos não se alterara muito, ainda havia balcões exibindo o mostruário e relógios cucos nas paredes. Mas eram outros balcões, outros relógios, na vitrine e na parede; estas, agora, decoradas com uma paleta de cores roxo, vinho e azul turquesa. Essa sim parecia ser a loja em que Milena poderia ter adquirido o seu relógio.

          Todos os exibidos ali, apesar de tão diferentes uns dos outros, conversavam em estilo com o dela, e nem de longe aparentavam a modernidade dos de antes. Seus designes eram clássico, elegante e adornado, algo de outro tempo – nada que se compraria para usar neste século sendo uma pessoa moderna. Ainda assim, eram elegantes e pareciam funcionar bem. Um relógio, porém, continuava ali, era o cuco azul Tifany. Bem no centro da parede do meio. Ele marcava exatamente 17;17, com a diferença de que dessa vez o ponteiro do segundo fazia a volta completa no relógio, e que agora, de fato, eram 17:17. Havia uma ligeira sinfonia muda dos cucos na parede, aquele parecia ser um horário em que estavam programados para tocar.

Aqui Vendem-se Relógios AtrasadosOnde histórias criam vida. Descubra agora