Olhos abertos, desde o momento em que deitou. Ouvidos atentos, desde que esse dia começou. Sabia que o dia chegaria, e pensava estar preparado, mas nunca ninguém está.
Ainda estava escuro, mas o galo cantou, então já sabia que o último dia chegara. Nada iria acontecer agora, sabia a hora em que eles apareceriam, pois segundo o regulamento era livre até o sol se pôr.
Levantou-se de sua cama, feita de palha e algodão, um luxo para muitos que viviam por ali. Saiu do quarto que dividia com mais três irmãos, e desceu as escadas. Pode ver, sentada à mesa, sua mãe de cabeça baixa.
— Bom dia, mãe! — sussurrou.
— Bom dia, meu filho — respondeu no susto com a presença do garoto.
— O que faz aqui embaixo, sentada na mesa?
— Não consegui dormir, passei a noite pensando — explicou com lágrimas nos olhos.
— Entendo, eu também não consegui — falou, aproximando-se de sua mãe.
Puxou a cadeira ao lado dela, sentou-se e tomou sua mão.
— Está tudo bem, mãe. Sabes que irei para ajudar nossa terra, nosso povo.
— Eu sei, mas eu te queria aqui. Odora já tem homens suficientes para lutar em sua causa, poderiam deixá-lo.
— Mas não seria justo com as outras famílias, que também querem que seus filhos fiquem.
— Mas... — Um barulho de passos vinham do primeiro andar em direção a escada. A mãe de Gales enxugou as lágrimas antes que seu marido visse.
Benjor era um homem bom, mas acreditava que era uma honra ter um filho a serviço de Odora e por isso não tolerava ver Malua chorando.
— Bom dia, meu garoto! — foi em direção a Gales e abraçou-o, levantando o garoto da cadeira e do chão. — Infelizmente, hoje é seu último dia conosco, mas seu futuro será brilhante e é o que me deixa feliz. Não trabalharemos por hoje. Iremos aproveitar seu último dia em família. Cavalgaremos, correremos, daremos risada e comeremos muito.
— O senhor tem certeza, pai? Isso não irá atrapalhar na fazenda? — indagou Gales sem conseguir esconder sua empolgação.
— Não, quero aproveitar meu último dia com você. Agora vá acordar seus irmãos, precisamos aproveitar, só temos algumas horas.
Gales disparou em direção ao quarto, subindo a escada e gritando repetidamente: "Ei, seus dorminhocos, acordem. Precisamos aproveitar o dia, será o meu último por aqui!"
Festejar o último dia com a família era comum para a população de Odora. O próprio irmão mais velho de Malua e de Benjor foram levados pela guarda para serem guerreiros a serviço do reino.
— Chorando novamente, Malua? — perguntou o esposo.
— Não, eu só estava...
— Chorando! Eu sei, não precisa mentir. E eu te entendo, mas será melhor para o futuro de Gales. Ele será um nobre guerreiro e terá melhores condições de vida, sabe disso.
— Eu sei, mas ele é um menino tão bom e eles irão treiná-lo para lutar pelo Reino, sabe o que isso significa...
— Sim, eu sei, mas não podemos fazer nada quanto a isso.
— Eu sei... — respondeu Malua, com uma voz de tristeza.
— Mas podemos aproveitar esse último dia na companhia dele — disse sorrindo.
Malua sorriu de volta e acenou com a cabeça em concordância. Levantou-se da mesa e pôs-se a ajeitar as coisas.
Cerca de alguns minutos depois a tropa da família estava descendo as escadas em sequência. Gales, Gregory, Mika e Naila. Todos eufóricos. Sentaram a mesa todos eles e desfrutaram de um delicioso café da manhã regado a leite, pão, queijo e mel. Não se preocuparam com regras ou limites, pois naquele dia tinham de aproveitar.
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Península de Odora - O treinamento
AdventureO mundo é um lugar complicado, em geral, mas há sempre um epicentro. Por aqui a Península de Odora é a detentora dessa honra e a ganância dos homens deve receber todo o mérito por essa imensa conquista. Dinheiro, território e poder são sempre proble...