Fiera Vosky atravessou aquele salão, virou à direita na última porta e depois a primeira esquerda, chegando às escadas. Subiu os lances correndo, apressado para alcançar a sala de Lorde D'Avigna, que se encontrava no meio do corredor após o quarto lance de escada.
— Senhor! — exclamou enquanto levava a mão à porta e a empurrava, sem respeitar códigos universais de ética, como o "bata antes de entrar!".
D'Avigna que anteriormente trajava uma vestimenta azul e amarela, vestia agora uma armadura de malha, feita sob medida e de tom branco acinzentado, assim como as paredes do castelo e do exército de Odora.
— General, já não disse para...
— Senhor, não temos tempo para isso. A patrulha de Lorde Karmus foi atacada — disse interrompendo Sir Robert.
O Lorde ficou atordoado, pego de surpresa por essa notícia.
— Venha comigo — ordenou ao general, pondo-se a andar depressa.
Andaram mais alguns metros naquele corredor até chegarem ao fim, em uma uma grande porta.
Toc, toc! Lorde D'Avigna batia à porta.
— Quem seria? — respondeu uma voz do outro lado, rabugenta, adiantando que não esperava visitas.
— Senhor, sou eu, D'Avigna. Tenho algo urgente a dizer.
— Pois, entre.
Ao abrirem a porta, puderam ver Lorde Patafar Cornelius atrás de uma mesa, debruçado sobre algumas folhas e com uma pena na mão, molhando-a no tinteiro. Ele lançou um olhar de desprezo aos que entravam.
— O que houve?
— Karmus retornou. Eles foram atacados e parece que ele está ferido.
— O que?! — disse o velho rabugento se levantando imediatamente, totalmente preocupado, muito distinto do homem que era no momento anterior.
— Apenas ele e um cavaleiro sobreviveram ao ataque dos Sombras — completou o general.
— Como isso foi acontecer?! Eles não foram para noroeste?! — dizia Cornelius, muito irritado com a situação.
— Sim, senhor. Assim como havíamos combinado! — explicava D'Avigna.
— Os Sombras estão mais destemidos, senhor. O rei precisava ser alertado — sugeriu o general.
Patafar lançou um olhar de reprovação ao general.
— Pardais não precisam ensinar águias a voar, general, assim como nós não precisamos das suas conclusões infrutíferas — resmungou o Lorde Supremo, passando entre os homens que se encontravam em frente à porta.
Eles se dirigiram de volta até o início do corredor e subiram mais alguns lances de escadas, até chegar ao último andar do castelo. Lá se encontrava o lugar de glória: o aposento real.
Patafar se aproximou da porta de ferro adornada por pedras preciosas e bateu suavemente.
— Majestade, o senhor está aí?
— Entre, Cornelius!
Patafar empurrou a porta com as duas mãos, já que idade tirara dele as forças que o faziam abrir com apenas uma destas.
O aposento real era enorme. Havia uma cama grande o suficiente para dez pessoas. Um grande tapete ao chão, feito de um tecido mais nobre do que qualquer cidadão vestia e móveis adornados por todo cômodo. Além de duas enormes poltronas, feitas de pele de Lobos Reais, voltadas para uma grande lareira.
O rei se encontrava de pé, olhando pela janela, admirando algo no céu.
— O que quer agora? Já vou me ajeitar para o jantar — O jovem rei respondeu, adiantando a provável advertência de Patafar.
— Na verdade, majestade, acho que não haverá mais jantar!
— Como assim?! — esbravejou virando-se bruscamente em direção a porta. Moveu os olhos castanhos para os outros dois que ainda não haviam dito nada. — E o que eles fazem aqui?!
— Karmus foi atacado. Parece que os responsáveis por isso foram...
— Os Sombras — o rei completou a fala de Patafar, sem demonstrar nenhuma reação ao saber do ataque. — Era exatamente sobre isso que eu estava pensando.
— O ataque a ele veio em bom momento — prosseguia a majestade —, agora temos como justificar meu plano, caso alguém venha a descobri-lo.
Os três homens respiraram fundo, recebendo com espanto a tranquilidade do rei frente àquela notícia.
— Qual plano?! — perguntou em tom preocupado D'Avigna, que temia que envolvesse ele e seus homens.
O general também não gostou muito de saber que o rei tinha um plano que tornava a morte de trinta e nove homens uma coisa boa.
— Os recrutas deste ano passarão por uma pré-seleção.
— Para quê?! — indagou Patafar, ainda sem entender.
— Examinaremos quais deles estão aptos para se tornarem tão bons quanto Os Sombras. Os que passarem serão treinados para caçá-los e executá-los — explicava o jovem, com muita tranquilidade sobre o que planejava.
Patafar sorriu ao ouvir a ideia.
— O senhor quer treiná-los para serem assassinos? — exclamou indignado o general.
— Se o senhor não concordar, posso tirá-lo do cargo de general — sugeriu em tom generoso o rei. Fiera Vosky havia enfrentado muitos inimigos e era considerado um homem destemido por toda a península. Mesmo assim, não tinha a frieza de olhar nos olhos de sua majestade e enfrentá-lo, então, calou-se.
— O que acha Sir Robert?
— Majestade, me parece uma excelente ideia! — respondeu de maneira neutra. — Mas precisamos elaborar um método de como fazer isso.
O general o olhou pelo canto dos olhos, não reconhecendo o Lorde que ali falava, mas nada disse, voltando a encarar o rei.
— Eu já o tenho.
O rei parecia estar pensando naquele plano há muito tempo.
— Pois, explique-nos... — sugeria a velha voz de Patafar, enquanto dirigia-se a uma poltrona no meio do aposento.
Os olhos do rei começaram a brilhar, refletindo o fogo da lareira e falando com muita empolgação em como transformariam a companhia Júnior I em excepcionais combatentes.
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Península de Odora - O treinamento
AdventureO mundo é um lugar complicado, em geral, mas há sempre um epicentro. Por aqui a Península de Odora é a detentora dessa honra e a ganância dos homens deve receber todo o mérito por essa imensa conquista. Dinheiro, território e poder são sempre proble...