Parlamento I

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O mar está mais uma vez caudaloso, a tempestade castiga a ilha de Stanis, e seus moradores não se atrevem a sair às ruas ou sequer mostrarem os rostos nas suas janelas. Diferente de outros povos com que os Stanis já se encontraram, a ilha parece ser uma civilização tecnológicamente avançada. Os mais sábios e antigos aprenderam e ensinaram magia, e o rústico dos seres místicos constrata com as criações que facilitam o dia a dia dos nativos.

Longe dos centros de moradia, onde as árvores gigantes e sem vida foram transformadas em abrigos e casas, onde a maioria dos Stanis habitam, estam as amigas Bianca e Emily. Sem temer a tempestade agourenta elas se reuniram no Cais do Porto Shilandiano, no bairro dos mais ricos. As duas amigas estavam buscando em meio ao Caos da tempestade algo que as levasse para o além dentro delas mesmas, uma busca maior no interior. Segundo a crença que as duas e a maioria dos Stanis do Centro (Os mais pobres) levavam, o deus V é o Senhor da Natureza, e encontrar o próprio caminho significa buscar ser próximo do V.

Sentadas com as pernas cruzadas ambas faziam parte do cenário natural e destrutivo que acontecia no Porto. Os cabelos azuis de Bianca se desgrenhavam com o vento e as lágrimas de Emily caiam junto com a chuva. Depois de quinze minutos de choros e orações a chuva parou, e as duas estavam iniciadas para serem sacerdotisas do V. Elas haviam acabado de passar por uma experiência em que a natureza se fundiu com a alma de ambas.

Ao se levantarem não puderam conter o susto. Um azuli maltrapilho as observava assustado, como se elas fossem a sombra da tempestade. A pele branca de Emily ficou vermelha, apesar da segurança ser boa em Shilandia ela era apenas uma jovem, o mendigo poderia muito bem agredi-la ou tentar abusa-la.

- Como o senhor se chama ? - Bianca tinha a mesma brancura na pele, mas seus cabelos azuis e o seu macacão negro assustavam mais que sua amiga. O Maltrapilho pensaria duas vezes antes de encara-las caso quisesse algo.

- Sou Venceslau. Um mendigo da região. - O Azuli parecia estar confuso, apesar de aparentar músculos e um rosto sissudo, ele não devia ser perigoso.

- O que quer conosco Venceslau ? - Bianca perguntou calma, ela era a autoridade e a voz da dupla.

- Na verdade eu só estava observando as senhoritas, a oração. Eu sou um sacerdote do V, já morei no Centro. A tempestade me chamou, já que sou um azuli não me afeto com ela. Acho que temos algo a fazer juntos, nós três.

Bianca olhou para Emily que pareceu refletir sobre as palavras do homem. Sem falar nada ela apenas confirmou com a cabeça, Venceslau parecia confiável, aquela tempestade não foi a toa.

- Minha amiga concorda. Mas antes me diga o que pretende. O que a tempestade e o Senhor V lhe disseram. - Bianca questionou.

- Vocês tem que vir até minha caverna. Lá eu as contarei tudo. Estou formando um grupo de jovens especiais como vocês para enfrentar a grande ameaça.

- Jovens especiais ? Nós não vamos a lugar nenhum com você azuli ! - Bianca esbravejou. Porém a manga de seu macacão estava sendo puxada, Emily queria sua atenção. Usando as mãos ela afirmou que Venceslau estava certo.

- Tem certeza que quer ir com o azuli ? - Sussurrou Bianca, e a amiga confirmou com a cabeça.

- Vamos logo meninas, o sol está nascendo. Logo os shilandianos ricos vão chegar no porto e vocês serão no minímo linchadas. Sabem que aqui ninguém aceita os do V, muito menos as sacerdotisas.

- Tudo bem, nós iremos. - Bianca avançou lentamente com sua amiga e então começou a caminhar. Ele sabia que ambas a seguiriam.

Sobrou para as duas esperar e confiar, algo importante aconteceria na caverna de Venceslau.

Os Contos das Ilhas - O ParlamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora