Parlamento IX

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Em meus 980 anos sempre fui considerado poderoso, mas precisei chegar até essa idade para sentir o que os mortais chamam de medo.

Primeiramente eu apenas estava contendo as duas pequenas sacerdotisas, que apesar de serem inimigas mereciam meu minímo respeito, pelo potêncial apresentado. Logo as coisas mudaram, minha magia parecia se atrofiar, eu já não sentia a Shilandia, eu já não era mais um deus. É tão estranho ser fraco, ser pequeno, eu estou perdendo o meu domínio.

Um ser monstruoso parecia estar ao lado das duas jovens, uma possível ilusão minha, mas eu nunca temi algo antes. As partes de todos os seres que já conheci, mais alguns que não queria ter o desprazer estavam naquele monstro. Eu não precisaria ser genial para concluir que meu adversário era o deus V pessoalmente, mostrando a forma dele para mim, algo que nenhum vivo havia visto.

Minhas pernas tremeram, mas aos poucos a minha magia retornava ao ápice, o que era inútil já que as duas sacerdotisas aumentavam o empenho e o poder de seus ataques a cada segundo. Talvez não elas, eu fui tão desafiador que o próprio deus veio ao meu encontro me deter, eu causei temor ao chamado "Senhor da Natureza".

Lembrei-me dos gritos daquela maldita Fada, a última dentre as vivas, uma das que viraram cinzas em meio ao massacre. Ela me pedia misericórdia, havia medo em sua voz, um medo que fiz questão de ignorar. Eu agora era como ela, pedindo misericórdias a mim mesmo, um ser mítico cuja eu nunca acreditei estava me matando, um ser que eu via, quando todos afirmavam ser invisível.

Os gritos aumentaram em meus ouvidos, os meus braços fraquejavam aos poucos. A imagem do sangue, do voo desesperado por entre as chamas. Dos mortos, e dos feridos agoniantes, todas as minhas glórias pelos olhos dos desonrados por mim.

O Maldito centauro e o moleque de asas tiveram a péssima ideia de me atacar quando eu estava ocupado me defendendo do maldito deus. Já não me restava mais alternativa, senão a supernova. Eu não aceitaria uma derrota, eu me sacrificaria antes.

A Shilandia, meu novo corpo, ainda não estava preparada para tal golpe, mas sacrifícios são necessários. Fui chamado de Rei, Senhor dos Elfos, deus da Ilha, mas agora isso já não valia.

Eu usei o meu medo como combústivel, minha dor como força. A explosão daria a ilusão de que o ataque das jovens havia me destruído, mas se meu golpe der certo eu sobreviverei, debilitado demais pra me reerguer talvez, mas sobreviverei. A Shilandia pagará o preço por mim, contudo eu nunca pensei nos caminhos que eu seguiria para alcançar meus fins. Talvez eu até consiga levar as vidas desses inúteis adolescentes comigo, mas não é o mais importante. E foi então minha magia me consumiu, apagando a minha assinatura antes que o V fizesse.

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