Havia amanhecido, e não preguei os olhos a noite inteira. Como aquele ser humano imbecil aparece de uma hora pra outra e me faz, em apenas alguns segundos, concordar com uma coisa daquelas?
Iriam descobrir. É óbvio que iriam.
Ainda há tempo de reverter a situação.
Ainda há tempo.
Planejo tudo que deveria fazer assim que abrisse o flipper, hoje à tarde. Ao menos o pedido de Bomb seria realizado. O fliperama vai abrir mais cedo, ele só não pode saber disso.
— Poco, pode segurar o Luizito por um instante? — minha mãe me entrega o bebê grande demais para apenas nove meses em meus braços.
— Eu não tenho escolha mesmo. — murmuro, embalando Luizito e fazendo careta quando ele começa a babar meu casaco — Você está pesado!
Meu irmãozinho chega a ser fofo de tão gordinho e babão. Não costumo ter jeito com bebês e crianças e não faço o mínimo de esforço pra ter, mas por ele eu até tento. Mesmo que só as vezes.
Acho estranho quando ele começa a fazer um barulho nojento na boca.
— O-o que você quer? — pergunto, começando a ficar nervosa com sua careta de choro — Quer arrotar, é isso?
Ajeito ele em meu colo o deixando na vertical fazendo sua cabecinha apoiar em meu ombro. Começo a dar pequenas batidinhas nas suas costas lembrando de como minha mãe sempre faz. Fico aliviada quando o barulho em sua boca cessa, então ele gorfa bem na gola do meu casaco.
— Filho da—
Minha mãe surge de volta.
— Dios! Perdão, filha. — o pega nos braços — Esqueci de avisar que ele acabou de comer.
Agradeço mentalmente por me interromper.
— Tem um pano úmido limpo bem ali na pia. — aponta — Limpe o casaco antes que fique a marca.
Faço que ela disse. O pano úmido não ajudou muito, e a mancha amarelada continuou em minha roupa, mas não iria me trocar. Ninguém repara o suficiente em mim mesmo, não irão perceber.
— Estou indo.
Ponho a mochila em meus ombros ajeitando o gorro na cabeça. Está mais frio que o normal essa manhã.
Minha mãe me observa de cima abaixo tentando disfarçar a insatisfação nas minhas roupas o máximo que pode. Mas italianos não são conhecidos por serem discretos.
— Diga, mãe. — suspiro, prevendo mais uma de suas várias outras opções de roupas que posso usar.
— Por que não veste aquela blusinha linda de alsinhas que comprei pra você mês passado? Combina tanto com você. — sorriu desconcertada.
— Ela é muito colada, eu não gosto.
— Mas, filha, ficou ótima em você. Eu posso comprar uma de tamanho maior, e de mangas curtas, se-se for...se sentir mais confortável.
Suspiro outra vez.
Ela não faz por mal. Minha mãe nunca faz por mal. Mas chega a ser frustrante tanta insistência, e não poder contar a ela o motivo de usar as roupas que eu uso chega a ser mais frustrante ainda.
Ela não suportaria descobrir algo assim, e eu sou boa em disfarçar as coisas. Ela não precisa passar por isso.
Forcei um sorriso de lado ao encarar seus olhos castanhos brilhantes.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Galatis Planet (Spin-off As Estrelas E Outras Drogas)
Fiksi RemajaUma breve história da nova geração de Greendale. P.s: aconselho a ler "As estrelas e outras drogas" primeiro que "Galatis Planet". Em uma cidade onde as máquinas de Fliperama são mais populares que redes sociais ou bailes de formatura, Nina Greco se...