1 • 29 anos e 364 dias

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O céu cinza e fechado trazia consigo a brisa gelada daquela manhã de outono, bagunçando seus cabelos castanhos. Sempre de cabeça baixa, ele pisava sobre as folhas caídas das árvores enquanto caminhava para o mesmo destino de todos os dias. Suas mãos seguravam com firmeza as alças da mochila impedindo que outros transeuntes esbarrassem em seu corpo pequeno e o desequilibrassem como tantas vezes já acontecera. Diminuiu os passos quando as pessoas pararam para esperar o semáforo fechar na beira da calçada, ele suspirou e olhou pra cima enquanto grandes homens de terno o empurravam sem perceber de fato a sua presença.

Ele notou do outro lado da rua a mesma mulher de cabelos vermelhos que passava por ele todos os dias e sentiu seu estômago afundar. Estava atrasado. Ela só passava por ele mais adiante.

Droga, ele praguejou baixinho. Quando a multidão se deslocou para frente o levando junto, ele se aproveitou de sua pequenez e desviou das pessoas, correndo ao se ver livre.

Ao chegar no prédio onde trabalhava, ele arfava buscando por ar. O porteiro entediado não se surpreendeu, estava acostumado com os seus atrasos e apenas o deixou passar. Os elevadores estavam lotados e com fila de espera, então ele buscou mais um pouco de ar e abriu a porta de acesso às escadas.

Só alguns lances. Exercício faz bem. Ele pensava enquanto subia sentindo seus pulmões queimarem com o esforço e a poluição de Seul que tinha inalado. Já no nono andar, ele respirou fundo algumas vezes e passou as mãos pelo terno preto amassado e desalinhado pela corrida. Estagnou na porta onde se lia Jeon Advogados e Associados e a abriu com cuidado.

Todos já estavam em suas mesas trabalhando em seus respectivos computadores, alguns conversavam entre si, outros em alguma ligação. Ninguém notou a presença do estagiário atrasado.

Ele caminhou até sua mesa que ficava no canto direito, ainda sentindo seu coração disparado no peito e as pernas trêmulas. Não sabe como aconteceu, mas poucos passos antes de alcançar seu objetivo final, seu pé direito enroscou em algo o fazendo tombar contra o carpete em um baque surdo. Ao tentar impedir a queda, suas mãos esbarraram em um montante de papéis em uma mesa e agora lá estava ele de quatro no chão com uma bagunça ao seu redor.

Ele permaneceu de cabeça baixa sentindo seu rosto queimar de vergonha ao escutar o murmurinho dos demais. Odiava ser tão desastrado. Seus dedos tremiam enquanto ele recolhia com rapidez os papéis e outras mãos começavam a ajudar.

– Jimin, você tá legal? - a voz de Hoseok, seu colega que trabalhava na mesa atrás dele, o observava com cuidado.

– Sim, hyung. Obrigado. - sua voz saiu como um filete fino e sem forças. Ele não levantou a cabeça para olhar no rosto dele.

Grande forma de começar o dia, Park Jimin. Esplêndido.

Ele suspirou enquanto terminava de recolher os papéis com cuidado, levantou- se e se curvou ao pedir desculpas ao dono da mesa bagunçada. Finalmente afundou na sua cadeira e desejou que nada mais acontecesse. Ao menos por hoje.

•••

– Hora do café! - Hoseok cantarolou enquanto voltava com dois copos cheios de café. Ele se sentou na cadeira às costas de Jimin e deu um impulso rolando as rodas até que chegasse na mesa do estagiário.

Jimin tirou os olhos do monitor para olhar para ele. Hoseok hyung era um cara muito otimista, sempre carregado de boas energias e um sorriso grande e amigável no rosto. E foi esse sorriso que fez Jimin dar um sorriso de canto. O seu dia poderia estar cinzento e fechado, Hoseok sempre trazia o sol.

– Café gelado para o meu Jimin-ssi. - ele cantarolou de novo enquanto oferecia para o menor. Jimin pegou o café e ficou grato por ele ter lembrado de sua preferência.

Inside his mind • pjm + jjkOnde histórias criam vida. Descubra agora