Passadas as horas, finalmente pude sair de casa. Jesse parecia estar mais de olho em mim do que o normal. A companhia dele me fazia bem. Aliás, sempre fez, mesmo quando ele tentava me cortar no meio. Jesse era um homem agressivo com as palavras. Sabia utilizá-las muito bem quando lhe convinham, transformando-as nas mais afiadas lâminas. Antes do nascimento dos gêmeos, até mesmo durante a gravidez, houveram muitas brigas. Éramos um casal jovem, com muitas responsabilidades. Aliás, ainda somos. Enfim, peguei meu telefone e enviei uma mensagem para Archie.
Estava ansiosa demais para ficar parada em casa. Pego as chaves do carro e corro para ele, indo rapidamente para o Jardim Botânico da cidade. Qualquer informação sobre plantas que eu precisasse, era onde iria conseguir. Eu tinha acesso completo. O lugar foi mantido em memória do meu avô, que foi seu maior patrocinador, principalmente após a morte da vovó. Ambos tinham suas memórias ali, mas eu não visitava o parque faziam muitos anos. Era doloroso. Eu odiava despedidas, tanto quanto memoriais; Me traziam a lembrança de quando eram vivos, algo que já era difícil de entrar na minha cabeça, que eles se foram. Estaciono o carro e vou entrando, vendo o mapa cuidadosamente, apesar de já saber onde queria ir. Sigo as linhas alaranjadas, para a praça central. Entre várias roseiras vermelhas, gigantes e floridas, uma estátua do vovô, em bronze, com sua bengala e postura impecável.
— Em homenagem ao grande homem que foi Raoul Beaudelaire, que construiu esse parque, fazia jus ao seu legado, sua família, ao bondoso coração de leão; agraciou o mundo com sua presença, falecendo em 1997. Amado marido, pai, avô e irmão.
Li as inscrições, até que travo na última palavra. "Irmão"? Honestamente, não me lembro de ter visto um tio avô durante minha vida. Se ele era amado pelo irmão, não fazia sentido nunca ter o visto. Espera, mas como posso ter certeza que é um irmão, no masculino? Quantos segredos essa família guarda, Deus? Encaro a face em bronze do meu avô. Seu bigode estava perfeito, como ele era. O único problema da estátua, era a feição séria. Meu avô era, comigo, um homem sorridente, animado, que não poupava energias. Apesar dos seus 102 anos, me acompanhava em cada passo. Nada me tira da cabeça que aquela não era a hora dele, apenas havia cansado de viver. E pior, eu entendo.
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Margot | Em andamento
Paranormal+16 - conteúdo adulto Nina Beaudelaire é a herdeira de uma grande fortuna, vinda de seu avô, uma importante personalidade do passado de Ohio. Ela é uma estudante do terceiro ano do EM, tentando lidar com o atropelamento de acontecimentos, como sua g...