Capítulo 14 - Ajustes

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Meu coração batia forte de encontro a caixa torácica, e parecia que, em algum momento iria pular para fora do meu peito

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Meu coração batia forte de encontro a caixa torácica, e parecia que, em algum momento iria pular para fora do meu peito. Mas as emoções... Eram difíceis de distinguir, aquela euforia, a felicidade, o êxtase... Conseguia sentir tudo em apenas um momento, e apenas por estar na presença dela. Olhando nos seus olhos. Já era tarde demais para negar. Estava, de fato, apaixonado por Nina. Fecho os olhos. Ela não estava ali, mas eu me lembro perfeitamente da sensação. Memorizei, de algum modo. Explorava a minha mente, vendo e revendo seu beijo em minha bochecha. As tentativas de focar nos livros eram falhas; não havia um sequer que eu lesse e não imaginasse ela comigo. Por recomendação sua, li Orgulho e Preconceito, da Jane Austen. Eu a via na Lizzie. Orgulhosa, teimosa, encrenqueira. Todavia, a mulher mais inteligente, mais generosa e mais curiosa que já conheci. Só meu coração sabia o quanto desejava tê-la conhecido antes. Como se, finalmente, tudo fizesse sentido. Nunca me senti completo. Sempre achei que algo me faltava. Apesar de acreditar que devemos ser um copo cheio e achar alguém que nos transborde; com ela, era diferente. Era como o sol. Eu tinha a terra, a água e o jardim, mas precisava do sol pra florescer, e ele veio.

A pior coisa era que ela não sabia e sequer poderia saber. Como eu, a amando, poderia tirá-la de uma família unida, para uma desastrosa? Quão egoísta eu seria? Só e somente só se ela me pedisse. Eu seria dela. Sem hesitar. bastava uma palavra sua e teríamos a eternidade para nós.

Me levanto. É, eu não ia conseguir terminar o livro tão facilmente. Olho para o piano ali ao lado e me pergunto se deveria tocá-lo. Ele me chamava, mas eu não o fazia desde que meu pai se foi. Ele amava aquele piano. Dizia ele que era importante para o meu avô. Pelo o que eu sabia, o vô passava grande parte do seu tempo ali, agarrado ao piano, como se fosse alguém. Tocava-o, criando as mais belas sinfonias já ouvidas. Nada comparava-se ao coração partido no quesito arte. Ele é o autor das sensações transmitidas pelas notas.  Fecho os olhos e num relance, tenho uma visão. Era uma mão, colocando algo dentro de uma gaveta, no piano. Remexo a cabeça, voltando para a realidade. Me aproximo, abrindo a proteção das teclas. Alguns envelopes amarelados saltam dali. Franzo os cenhos, pegando-os com cuidado. Precisava avisar a Nina, obviamente. Por curiosidade, algo me disse para abrir a carta, antes de mostrar para ela. Me sento no sofá, retirando o barbante que as amarrava juntas e pegando a primeira.

— Margot?

Era o nome escrito no outro lado da carta. Abro-a, com cuidado. Não queria estragar logo agora que eu e Nina estávamos perto de descobrir todo esse passado; ou pensamos que estamos.

"Para minha querida Margot"

Certo, então a carta era de alguém para a Margot. Acredito que seja do vovô. Quem mais poderia esconder uma carta no piano dele?

"Hoje eu contei para as estrelas sobre você. Em sua ausência, não tenho com quem conversar. Elas foram muito gentis e concordaram que seus olhos castanhos são os mais belos já vistos. Então, indaguei-as. Queria saber por que esse mundo não me permitiu tê-los comigo. Nada mais eu desejo do que vê-los se abrir ao primeiro raiar do sol. Seu tom mudando para o mel, revelando a doçura escondida em sua melanina. Aliás, sinto que quando os anjos esculpiram-te, eles cometeram esse deslize. Trocaram vossa melanina por mel puro, produzido gentilmente pelas melhores abelhas que encontraram. Eu perguntei-as, novamente. Elas sentiram pena de mim. Foi então que, inconscientemente, reparei; Como não posso tocá-las, não posso tocar-te. Havia uma razão. Tinha de haver. Me veio à memória quando levei-a ao baile da cidade pela primeira vez. Você me disse que não sabia dançar muito bem e eu, insistente, lhe puxei para a pista de dança. Você me olhou sem jeito, pedindo antecipadamente, desculpas. Repetiu que não sabia dançar. Mesmo assim, não pisou nos meus pés, nem uma vez sequer. Dançou no seu tempo, tentando encontrar um ajuste com o meu. Por fim, pela primeira vez, percebi como era amar. Senti o que era o amor. Descobri a palavra que o definia: Ajuste. Você tentou se encaixar em meus passos e eu, sem perceber, me encaixei nos seus. Exigiu um leve esforço, como tudo nessa nossa curta passagem pelo mundo. A questão foi, eu não me importei e se necessário, me esforçaria muito mais para te encaixar na minha dança novamente.

Margot | Em andamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora