Know the truth |07

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Ela me olha, triste. Tira minha mão do seu queixo e segura-a.

- Conta - ela diz - me conta o que você vê e o que você sabe. Eu fecho os olhos, me acalmando, porque aquele assunto nunca foi e nunca vai ser um dos meus preferidos.

- Eu vejo sombras. Quando eu era pequena eu brincava com uns fantasmas, quer dizer, eu não sei se eles eram fantasmas. Eles pareciam estar sem vida, sem estarem mortos. - eu a olho e ela está com as sobrancelhas franzidas. Provavelmente pensa que sou louca. Mas eu lembro que ela também vê, ou seja, nós duas somos loucas. - Eu sei que é estranho, mas é isso. E então, um dia, uma sombra apareceu pra mim e perguntou se eu queria ser um deles, eu não aceitei, mas ela disse que um dia viria me buscar. - eu digo.

Ela continua com as sobrancelhas franzidas.

- Pra ser sincera, Charlotte, eu acho que eles estão cumprindo a promessa que fizeram pra gente. Eles vieram nos buscar. - ela diz - Mas, para nossa sorte, eu tenho um plano. - Ela levanta e começa a andar pelo quarto, procurando algo.

- Como assim? - eu pergunto.

- Eu pesquisei, Charlotte. - ela fala, enquanto continua revirando umas gavetas - eu fui até o Cafundó de Judas pra descobrir o que era aquilo. - ela finalmente acha o que estava procurando, olho para sua mão e vejo um caderno marrom. Ela é bem mais esperta e corajosa que eu; enquanto eu chorava, ela procurava saber mais.

Ela senta-se ao meu lado na cama, abre o caderno e começa à folheá-lo.

- Meus pais me deram pra minha vó - ela começa a falar, enquanto mexe no caderno - eles acham que eu sou doida ou alguma coisa assim. Esta casa é da minha vó. - ela fala, fria. Mas eu sei que está triste por dentro.

- Ela sabe? - pergunto, me referindo à sua Vó e à nossa "pequena loucura".

- Sabe. Charlotte - ela me olha - vou te contar uma coisa e você precisa prometer que não vai contar pra ninguém. - ela aperta minhas duas mãos juntas, com um olhar de súplica. Eu assinto.

- A minha Vó... Ela - Ela respira um pouco antes de falar - isso já aconteceu com ela também.

- Hã? Como assim?! - eu pergunto.

- Ela via as sombras. E ela me falou que eles quase levaram ela. - Mary fala, gaguejando um pouco. - Ela diz que também prometeram levar ela, mas nunca vieram. Charlotte, ela disse que acha que dessa vez é sério.

Eu congelo no meu lugar. Como pode? O que eles querem? Eu não falo nada pra Mary, apenas escuto e ela não exige resposta. Ela volta à mexer no caderno e para numa página.

- Eu acho que sei o que eles são. - ela diz, me mostrando um desenho no caderno. Era o desenho de uma sombra. - Eles não são, exatamente, fantasmas. Eles são como a parte ruim de cada pessoa. Ou seja, temos o mesmo número de sombras e habitantes deste mundo. - Ela me olha, assustada. Eu não sei o que sentir. Medo. Apreensão. Desespero. Ou tudo isso junto. Minha cabeça roda quando a ficha finalmente cai.

- Então... Quer d-dizer q-que eu e você também temos s-sombra? - eu falo, as lágrimas de terror vindo aos meus olhos.

- Sim. - Ela diz.

~•~

Continuo na casa de Mary, ela me explicou tudo o que sabe sobre eles, o que é muita coisa, mas ela diz não ser o suficiente. Ela sabe o que eles são mas não sabe como detê-los que é o mais importante. Ela me explicou que acha que o objetivo deles é "voltar para seus donos", ou seja, o mundo virará um poço de maldade.

Veio a minha cabeça que se já somos maus e egoístas sem nossas partes ruins, imagina com elas. Isso parece ser a maior loucura; uma pessoa normal não acreditaria em uma palavra que Mary disse. Mas eu sou a Charlotte que quase foi levada para um lugar obscuro quando era criança, é claro que eu acredito.

O meu medo só aumentou. Agora eu sei o que eles são e o que querem; começo a tremer só de pensar na aberração que cada pessoa vai se transformar.

~•~

Aquilo tudo acabou sendo apenas um encontro de amigas, depois de termos falado sobre tal assunto, agimos como adolescentes normais que vão à casa de amigos. Comemos pipoca e assistimos dois episódios da série Stalker. Acabou sendo bom.

HELLO, GENTEEE! TUDO BEM? a hahahah to animada com My Peace in Hell. É uma daquelas histórias que eu compraria na Saraiva hahahah Bem, é isso, beijos na buuuunda e até o próximo.
K.A.

My Peace in HellOnde histórias criam vida. Descubra agora