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    Chego à escola com um humor bem melhor do que qualquer dia que eu já estive nesse colégio. A conversa com minha família surtiu efeito em mim, com certeza. Eu me sentia mais feliz, com vontade de fazer coisas, de conversar... Mas eu lembrei que não tenho amigos.

   Então resolvo conversar com Mary, quer dizer, conversar mais do que normalmente faria.

   O dia passa mais rápido quando você "conversa" com alguém; eu conversei com Mary sobre coisas normais, como: Quantos irmãos você tem? Onde você mora?

   Mas então, na hora do intervalo ela disse que precisava ir embora porque tinha algo muito importante para fazer. Estranho mas não perguntei. Estava entediada. Então vi um dos gêmeos sentado na sua mesa, e uma ideia louca veio na minha cabeça: ir sentar ao lado dele e puxar conversa. Afinal, que mal faria?

   Levanto e ando em direção à mesa, não sei porquê, mas minhas mãos começaram a suar freneticamente. Esfregou elas na minha calça e continuo a andar. Sem que ele perceba, eu sento na outra ponta do banco em que ele está. Olho para ele pelo canto do olho e tomo atitude.

- Oi - eu digo, e quase nem acredito.

   Ele vira pra mim e me olha como se eu houvesse acabado de infringir uma lei.

- Oi - ele meio que murmura.

- Tudo bem? - eu pergunto, e penso de onde estou tirando tanta coragem.

- Sim... - ele diz e não pergunta se eu estou bem também, meu orgulho fica um pouco ferido mas não me importo. Ao invés de ir embora, eu fico, e pior, me aproximo mais dele.

- Você tem um irmão gêmeo, não é? - eu pergunto e logo depois me arrependo, porque ele virou e deu-me um olhar mortal.

- Então é por isso que você veio falar comigo?! Só por causa do meu irmão! - ele fala, aborrecido. O meu orgulho, que já estava ferido, foi baleado por uma metralhadora.

- O que?! Eu vim conversar com você porque quis. Eu só estava puxando assunto, idiota! - eu digo e levanto do banco bruscamente. Sinto o olhar dele em mim mas não me viro nem relaxo a postura.

~•~

   Estou fora do colégio, encostada na grade esperando pelo meu pai. Talvez um pouco estressada pela briguinha sem sentido com um dos gêmeos que eu nem sei o nome. Meus pés batem no chão ao ritmo da minha música preferida. Sinto alguém aproximando-se mas não ligo, continuo aproveitando minha música de olhos fechados. Mas, como o sossego não é pra sempre, a pessoa cutuca meu ombro. Eu olho e encontro o "gêmeo", eu sei que é o menino que eu briguei por causa da roupa. - Que foi? - eu digo, ríspida, tirando um fone da minha orelha.

- Eh... Eu queria pedir desculpa por... P-pensar que você tinha ido falar comigo só pelo meu irmão - ele diz, olhando pra baixo.

- Tudo bem - eu falo - Qual é o seu nome? - eu pergunto, a curiosidade falou mais alto.

- Joe. E o seu? - ele pergunta, finalmente olhando pra mim, me dando visão completa dos seus olhos verdes.

- Charlotte - eu digo, sorrindo. Finalmente estou me dando bem com alguém além de Mary. - Esperando alguém vir buscar você? - eu pergunto.

- Não, eu vou sozinho pra casa, é aqui perto. E você?

- Tô esperando meu pai - digo - minha casa é aqui perto também mas eles não gostam que eu vá sozinha - eu rio e ele também.

- Eu vou indo- ele diz, se desencostando da grade - até amanhã! - ele acena sorrindo (um sorriso realmente bonito!) e eu retribuo o adeus.

~•~

   Quando chego em casa fico pensando em tudo que aconteceu hoje: Falei mais abertamente com Mary e com Joe. Me lembro que não perguntei o nome do irmão dele, mas isso não importa, um dia eu descubro. Fico no sofá pensando na conversa e em como ele ficou irritado sobre o seu irmão.

- Sonhando acordada, Char? - Carlos, meu irmão do meio, pergunta. Eu olho para ele e sorrio.

- Talvez - eu digo,

My Peace in HellOnde histórias criam vida. Descubra agora