A sala estava destruída, e a cozinha também, só que numa proporção menor. Tudo revirado. Andei, com joelhos trementes, até a sala. Escolhendo o lugar onde pisar pois havia cacos de vidro por todo lado. Comecei a procurar da onde vinha aquele vidro. Olhei pela sala. Meu coração quase saiu pela boca quando vi: todos os porta-retratos da sala estavam partidos. Todas as nossas fotos de família, todas as fotos dos meus irmãos e minhas.
Eu não sei porquê, mas senti aquilo como uma ameaça.
Eu estava tentando não pensar nisso, mas aquilo tudo tinha um causador. Alguém havia feito aquilo e eu não queria descobrir. Mas do mesmo jeito que eu sou medrosa, eu sou curiosa.
Eu não sabia o que fazer, mas queria, e ao mesmo tempo não queria, descobrir quem tinha feito aquilo.
E por quê meus pais ainda não chegaram? Parece que o tempo parou no momento que eu desci da escada. Tinha a impressão que lá fora tudo estava parado. Meu coração batia rapidamente.
Algo mexeu-se atrás de mim, eu estava com medo de virar-me mas mesmo assim o fiz, hesitantemente. Vultos passeavam por todo o lugar. E no mesmo instante eu percebi: eles estavam de volta.
Olhei ao redor e eles continuavam lá, me olhando, famintos. Assim como eu os via quando era criança. Um vulto alto moveu-se na minha direção, meu corpo começou a tremer imediatamente.
Estava tudo acontecendo novamente.
Eles estavam de volta.
Dei passos pra trás, ele estava chegando mais perto, e mais e mais... Eu escorreguei no chão de madeira e caí. Percebi que não ia conseguir escapar dessa vez. Eles estavam se volta. Fui me arrastando pelo chão, sem tirar os olhos do vulto. Ele não tinha pressa. Meu mundo desmoronou quando senti a parede na minha costa, havia acabado.
Então simplesmente puxei meus joelhos para perto do meu corpo, e coloquei meu rosto entre eles, as minhas mãos foram aos meus ouvidos, tentando acabar com tudo aquilo. Eu apertava minhas mãos fortemente contra os meus ouvidos, mas eu sabia que ele continuava lá, pronto para fazer o que sempre quis.
A minha mente repetia: Eles estavam de volta.
Parecia que haviam passado horas, dias, semanas, e até anos enquanto eu fiquei sentada alí, e o vulto não chegou perto de mim, o que era muito estranho. Isso soava mais como um aviso.
Ouço a porta abrir-se e vozes familiares inundam meus ouvidos. Minha família chegou. Eles estão bem. Consigo relaxar meus músculos aos poucos, mas não me dou ao luxo de me mover dali. As memórias ainda estavam frescas na minha cabeça. Eles estiveram aqui, me assustaram, eles estão de volta e eu sei que dessa vez eles estão mais fortes e mais determinados.
- Charlotte?- ouço minha irmã perguntar, o único movimento que consigo fazer é levantar a cabeça e olhá-la. Ela parece assustada, mas não mais do que eu. - Mãe, a Charlotte... Tá aqui no chão - ela meio que sussurra e grita para a minha mãe.
Segundos depois minha mãe aparece, olhando-me preocupada.
- Char? O que aconteceu? - ela pergunta, mas eu não consigo respondê-la. Ela percebe meu estado de puro pânico e chama meu pai. Este vem correndo e um tempo depois sinto meu corpo ser levantado do chão.
Parece que toda a tensão que eu senti estava a ser absorvida só agora, eu sentia até os pêlos do meu corpo a absorvê-la. Eu não conseguia mais ficar acordada. Tudo ficou preto.
~•~
Abro os olhos lentamente, como se estivesse com medo do que veria, e por parte era isso. Sentia como se não soubesse mas respirar, mas depois estabilizei-me. Percebo que estou em uma cama, acho que a minha. Sim, é a minha. Consigo puxar meu corpo para cima e encostar a minha costa na cabeceira. Olho para todos os lados e percebo que estou sozinha, de novo. Começo a gritar pela minha mãe e pelo meu pai desesperadamente. Eles surgem um tempo depois, rostos com expressões assustadas e preocupadas.
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My Peace in Hell
RomanceO mundo já não é o mesmo. A vida na pacata cidade de Marsytown mudou. Para todos os cantos, tudo que você pode ver são rostos melancólicos, implorando por socorro. Nota da autora: Essa história surgiu na minha mente através de um sonho, e imediatame...