- Mãe, eu não quero ir! E se eles aparecerem lá? - eu exclamo. Minha mãe insiste em me fazer ir para o colégio. Eu quero ir, quero estudar. Eu sei que se ficar faltando vou perder matéria, mas eu não consigo conter o meu medo; eles podem aparecer lá e ninguém iria me ajudar se isso acontecesse.
- Charlotte Gary Benson - minha mãe falou meu nome completo e isso me deixou tensa, ela só falava meu nome inteiro quando ia me dar uma bronca - por hoje você se livrou de ir, mas amanhã você vai! Querendo ou não! Entendeu? - eu raramente via minha mãe "estressada", e quando eu via, não tinha mais jeito.
- Entendi - eu disse baixinho.
- Muito bem - ela falou, e saiu do quarto.
Fiquei pensando que amanhã teria que ir para a escola, eu tenho que superar esse medo.
~•~
Estamos no carro, indo para o meu colégio. Meu coração batia forte. Parecia aqueles primeiros dias de aula, quando você não conhece ninguém, e acha que seus pais vão te esquecer alí. Eu estou parecendo uma criancinha.
- Chegamos - meu pai disse, se virando do banco de motorista para me olhar, me encorajando.
- OK - eu digo, me despeço deles e saio do carro.
~•~
Estou sentada na minha cadeira, meus pensamentos estão bagunçados, estão divididos entre meus fantasmas e os gêmeos - que por sinal ainda não chegaram.
- Oi - alguém fala comigo e eu me viro abruptamente para essa pessoa. É um dos gêmeos, deve ser o Joe, porque é ele que " fala" comigo.
- Olá - eu digo, envergonhada por causa do susto.
- Calma, sou só eu - ele diz, rindo. Eu dou uma risada nervosa e assinto.
É o Joe.
O barulho da porta soa e eu olho: Mary entrando. Nesse momento eu lembro da sua saída repentina naquele dia. Eu tenho que perguntar o que aconteceu, e vai ser hoje.
Ela senta na cadeira ao meu lado e me dá um sorriso fraco, eu retribuo e quando vou falar com ela, Joe cutuca meu ombro. Eu me viro pra ele com as sobrancelhas franzidas, me perguntando o que ele quer.
- Por que você faltou? - ele pergunta. Sério que ele notou? Eu tenho que pensar numa mentira rapidamente.
- Eu estava... Com gripe - eu digo. Odeio mentir mas agora foi preciso.
- Ah - ele fala - e já melhorou? - pergunta.
- Sim, estou melhor - eu digo sorrindo com a sua preocupação.
Volto minha atenção para Mary, ela está com o olhar vidrado. Parece estar imersa em algum pensamento, ela estava parecendo comigo quando estava muito preocupada com algo. Decido não puxar assunto com ela agora, mas ela não vai se livrar de mim, na hora do intervalo ela vai me contar.
~•~
- Vamos sentar alí - eu digo para Mary, apontando para uma mesa ao fundo do refeitório. Ela assente e começa a caminhar para lá, ela não falou muito até agora, e estou ficando cada vez mais preocupada.
Nos sentamos, eu coloco meu lanche sob a mesa e ela faz o mesmo.
- Mary, o que aconteceu naquele dia? Porque você saiu do colégio toda apressada? - eu pergunto.
Ela me olha com os olhos arregalados, ela gelou. Que estranho. Ela olha para seu lanche, respirando apressadamente, decidindo se me conta ou não. Olho para o refeitório, esperando sua decisão. Vejo uma sombra preta no balcão de comidas, aperto os olhos tentando enxergar melhor, e nesse momento meu coração para. É um deles.
Mas parece que a sombra não estava prestando atenção em mim, parecia estar prestando atenção em todo mundo. Seguro no braço da Mary e olho pra ela. Surpreendentemente, ela está olhando para o mesmo lugar que eu. Será que ela também vê?. Afasto esse pensamento e aperto mais seu braço. Não tiro os olhos da coisa.
- Charlotte? - ela fala mas eu continuo olhando para aquele ponto preto. Eu estou morrendo de medo.
- Charlotte?! - ela repete, só que mais alto. Eu a olho e sua expressão parece aflita - você também vê?
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My Peace in Hell
RomanceO mundo já não é o mesmo. A vida na pacata cidade de Marsytown mudou. Para todos os cantos, tudo que você pode ver são rostos melancólicos, implorando por socorro. Nota da autora: Essa história surgiu na minha mente através de um sonho, e imediatame...