A Vovó da Casinha Amarela

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Nati era uma menina muito dócil. Ela amava passar as férias de Julho aqui em casa, me fazendo companhia e aprendendo coisas novas.

Na primeira vez que a mãe dela deixou que ficasse, fizemos uma cesta que ela quis encher de flores. Fomos ao campo perto de casa e procuramos as flores que tivessem resistido ao frio; não deu pra ela encher o cesto, mas saiu saltitante e com os dentinhos batendo por causa do vento frio.

Quando ela voltou pra casa, comecei a confeccionar uma capa vermelha, com o interior peludinho de um cobertor leve que eu tinha em casa. Aquilo a esquentaria, e poderia cortar um pouco do vento. Já fiz maior do que ela, pra que a protegesse bem e ainda servisse quando ficasse mais velha.

Na segunda vez que ela veio passar as férias, colocou a capa no momento em que ela caiu em suas mãos e depois disso era difícil ver minha neta sem ela. Tinha gostado tanto, que pediu para que eu fizesse outra mais fina, para usar no verão e se proteger do sol. Nessas férias, ela voltou pra casa com duas capas dizendo que a acompanhariam pro resto da vida.

Nati chorava quando tinha que voltar pra casa. Ela não gostava muito da cidade e se sentia sozinha em casa, já que os pais dela trabalhavam muito. Sempre pedia pra vir morar comigo nessas horas, e eu respondia que ela era bem-vinda, mas tinha que terminar os estudos antes, já que por ali não tinha nenhuma escola. Nati aceitava essa imposição, mas ficava impaciente.

Uma prova dessa impaciência é que cada vez que ela vinha acabava deixando mais coisas guardadas em seu quarto. Ela trouxe todos os quadrinhos que gostava de pendurar na parede e arrumou da forma que gostava. Cada ano ela trazia um de seus jogos de cama e uma cortina; o guarda-roupa que antes costumava viver vazio, agora estava cada vez mais cheio com as roupas que ela trazia e deixava lá, esperando que ela voltasse no próximo ano. Com o tempo, o quarto que antes era branco e sem vida, foi virando um lugar bem mobiliado e arrumado à maneira de Nati. Ela começou a preparar sua mudança bem cedo.

Fora esses momentos de ansiedade, estávamos sempre fazendo algumas coisas juntas. Cozinhando, costurando, alimentando animais da floresta, contando histórias, assistindo... Eu ensinava tudo que sabia fazer, e Nati era uma boa aluna. Ela me ensinava muita coisa também, eu só fui aprender a ler e escrever depois dela ter me ensinado, por mais que minha filha também tivesse tentado fazer isso.

A verdade é que a presença de Nati aqui me fazia tão bem quanto fazia pra ela.

Até aquele dia.

Ele tinha começado como um dia normal, eu tinha acordado Nati passando o dedo na pontinha do seu nariz. Ela sempre o apertava por isso, fazendo um tipo de careta bonitinha, e então acordava suavemente.

Depois disso fui pegar algumas folhas para fazer chá enquanto Nati ficou preparando a massa para os biscoitos. Ela só podia os colocar no forno depois que eu chegasse, então geralmente quando eu voltava ela já tinha entrado no banho. Assim aconteceu nesse dia.

Depois de ter os biscoitos e o chá para o café da manhã, pegamos um pouco da comida dos animais e colocamos na cesta, saímos para a floresta e colocamos a comida nos lugares respectivos para cada animal. Nesse dia, tínhamos levado comida para pássaros, coelhos, esquilos e pros peixes de um laguinho de perto de casa.

Ainda ficamos um tempinho no campo tomando sol, pegando flores e conversando. Chegamos em casa perto da hora do almoço, e enquanto eu preparava a comida deixei Nati assistir seus desenhos.

O dia foi se seguindo enquanto fazíamos as coisas que gostávamos de fazer. Foi só quando a tarde foi se aproximando que o primeiro indício dele apareceu.

A gente estava na varanda, conversando enquanto eu tricotava um tapetinho. Lentamente se aproximou de nós um lobo muito grande, com uma pelagem cinza e olhos meio amarelos. Fiquei assustada, e mandei Nati entrar correndo pra casa enquanto tentava obrigar meus pés a fazer o mesmo. Nati correu, e alguns segundos depois voltou com um pedaço grande de carne crua na mão.

🐺O conto do Lobo Encapuzado🐺 (uma releitura de Chapeuzinho Vermelho)Onde histórias criam vida. Descubra agora