A Garota que virou Lobo

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Aviso: acho bom avisar que esse capítulo também pode conter alguns gatilhos sobre violência física e psicológica. Caso seja sensível sobre esse assunto, considere deixar essa leitura de lado e pule para os agradecimentos. Agradeço por ter chegado até aqui, mas não coloque seu bem estar em risco por nenhum livro.

 Agradeço por ter chegado até aqui, mas não coloque seu bem estar em risco por nenhum livro

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Já fui chamada de muitas coisas. Papai me deu o nome de Natasha, porque era o nome de uma amiga dele que tinha morrido há muito tempo. Mamãe sempre me chamava de querida, porque aparentemente, ela não gostava muito dessa amiga do papai. Vovó me chamava de Nati, porque ela nunca aprendeu a pronunciar meu nome direito. As pessoas que me viam na rua gostavam de falar Chapeuzinho Vermelho, só porque eu não conseguia largar da minha capa em momento nenhum...

Todos esses nomes foram perdendo seu significado quando passei a ser chamada apenas de "menina".

Acordei sentindo algo molhado na ponta do meu nariz. Lembrei da vovó dizendo que eu fazia uma careta quando ela me acordava assim e por isso eu suspirei antes de abrir os olhos. Quem estava na minha frente era o Filhote, ele estava lambendo meu nariz para me acordar, como um cachorrinho faria. Acariciei sua cabeça antes de levantar, já escutando barulhos na cozinha, mostrando que o Lobo estava acordado também.

Murmurei reclamações enquanto vestia minhas roupas e minha capa e depois segui em direção à cozinha, já começando a preparar algumas coisas para o café. Minhas mãos estavam um pouco queimadas, a vovó nunca me deixava mexer sozinha com o fogo, mas aqui eu não tinha ninguém para olhar por mim, então pequenos acidentes já tinham acontecido.

— Precisa acordar mais cedo, quero que o café já esteja pronto quando eu levantar. - o Lobo falou enquanto eu acendia o fogo e esquentava a água para o café. Apenas o ignorei como vinha fazendo nos últimos anos, eu passava tanto tempo calada que às vezes minha garganta arranhava um pouco quando eu ia falar. — Vamos caçar juntos hoje. Você vai me ajudar.

Isso eu não faria.

Eu até parei de fugir, parei de gritar quando quando ouvia barulhos próximos à casa, parei de me recusar à fazer os serviços de casa. Cada vez que eu fazia algo que o incomodava eu era castigada, já tinha passado semanas com as mãos enfaixadas, tinha cicatrizes na barriga, tinha marcas de ferro quente nas costas e de cigarro nos braços. Fora a cicatriz perto do olho, que ganhei no mesmo dia que cheguei aqui, mesmo não tendo feito nada de "errado" até aquele momento.

Mantive o silêncio, olhando a água ferver como se estivéssemos só eu e ela ali. Como se pudesse apagar a presença daquele homem repugnante, palavra que eu aprendi o real significado apenas depois de conhecê-lo.

Eu sabia que ele ainda me olhava mesmo estando de costas, quando ele nos olhava era como se queimasse, como se não pudéssemos fugir daquela visão, era como estar sendo encarada pelo inferno.

Parece que eu já comecei a falar como velha. Eu nem sabia mais quantos anos eu tinha, quantos aniversários tinham passado. Só sabia que estava crescendo porque pelo menos a minha mudança corporal ele não podia impedir. A água já estava borbulhando à essa altura. O que será que aconteceria se eu jogasse tudo na cara dele?

🐺O conto do Lobo Encapuzado🐺 (uma releitura de Chapeuzinho Vermelho)Onde histórias criam vida. Descubra agora