IV. O pedido

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Leitor, em sua vida, já observou um beija flor? Não me refiro em simplesmente fita-lo, mas em atentar-se para suas mais discretas características. Ele possui um modo de voar bastante singular em relação aos outros pássaros. Fica, em certos momentos, parado no ar. Faz um som ao qual ainda não identifiquei semelhante. Suas asas parecem-se mais com as de um inseto que as de uma ave, a qual realmente é. A cor de suas penas também me aparenta esquisita. O bico, assemelha-se a delicadeza dos dedos de um recém nascido. É um animal bastante curioso e igualmente belo. Tão belo quanto Julie Hans.

Sim, tudo capturado por meus olhos que remetesse à beleza, era sinônimo de Julie Hans. Até mesmo o queijo em cima de minha mesa de jantar poderia expressar a beleza daquela mulher. Essas comparações, certamente, podem soar-lhe como esquisitas ou mesmo esquizofrênicas, mas quero que lembre-se do grau de dominação ao qual estava.

Quando acordei, na manhã de sábado, esperava alguma mensagem de Julie Hans e, anexa nela, alguma proposta para um segundo encontro ou algo do tipo. No entanto, lembrei-me que eu era o único capacitado para tal ação. Afinal, ela não possuía o meu número de celular, mas eu o dela. Fiquei nesse impasse. Enviar uma mensagem notificando-lhe que pretendia dar continuidade as nossas corversas, ou tratar os ocorridos naquele bar como Müller costumava fazer?

Queria, eu, hoje, ter escolhido a segunda. Mas se a fizesse, tu, leitor, não tomaria conhecimento da minha história de desamor a qual exponho. Certamente, deve ser ciente do que fiz naquela manhã. Contudo, darei continuidade aos ocorridos para que desfrute de cada momento ao qual, aqui, relato.

Decidi-me acabar com aquele sofrimento de barroquismo. Escrevi e apaguei tantas mensagens quanto me foram permitidas, até que, finalmente, envie-lhe algo, que aos meus olhos, parecia minuciosamente elaborado:

Gostei muito de conhecer-te ontem, no OZztes. Espero poder, algum dia, discutir mais alguns assuntos aos quais me parecem pertinentes. Aguardo sua mensagem. Abraços.

A mensagem pode torna-se simples para algo em torno de três horas de produção, admitido. Mas gostaria que, antes de julgar-me, recordasse de minha breve descrição sobre o que sentimos quando avistamos aquela pessoa que, talvez, envelhecerá ao nosso lado. Creio que, agora, deve compreender a grande dificuldade em expressar-me diante daquela mulher, mesmo, esta, não estando presente.

Fiquei com o celular em punho. Esperava uma resposta imediata. Se recusasse minha oferta, que a concretizasse logo. Parecia melhor, aos menos, que a ansiedade causada pelos minutos sem resposta. Minutos esses que, para mim, calculavam uma vida. No relógio, passaram cinco contados minutos até que ela retornasse um singelo "adoraria".

Abri um sorriso em meu rosto, já pálido pelo desgosto inicialmente ensaiando, evidenciando o sentimento de " dever comprido ". Teria, ao menos, mais uma noite com aquela mulher.

A princípio, tudo parecia estar bem, até que inseri mais um dilema em minha mente. Para onde a levaria? Em minha primeira conversa com ela, havia captado alguns de seus gostos arquitetônicos. No entanto, a Torre de Pizza estava bastante longe, e não me atreveria à convida-la a uma viagem tão extenuante já de imediato. Deveria escolher algo mais simples, pois soaria mais natural para ela. Natureza, essa era a saída. Ela possuía uma notável simpatia para com os grupos defensores do meio ambiente, agradando-lhe a biodiversidade presente em certos parques. Talvez um piquenique? Seria perfeito. Envie-lhe a proposta a qual pareceu-me alegremente aceita. Tínhamos um encontro. O primeiro, na verdade, já que era algo de conhecimento de ambas as partes.

Seria no domingo. Algo proposto por ela, já que eu adiantaria para a manhã daquele sábado, se possível. Apesar de tudo, estava feliz. Mal podia esperar em rever aqueles olhos verdes, brilhantes como esmeraldas.

Continua....

Meus dias com elaOnde histórias criam vida. Descubra agora