Capítulo 13

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Azriel

Maisie está sentada na cama, lendo um livro que eu nunca vi na vida, mas ela parece tão interessada, que eu apenas passo por ela, indo em direção ao guarda-roupa.
-Meus deuses, por que você está sem roupa? - Maisie pergunta, claramente chocada, mas eu apenas olho para a toalha na minha cintura.
-Mas eu estou. - digo, apontando para a toalha.
-Isto não é uma roupa. - ela fala, gesticulando para a toalha, e desviando o olhar.
-Minha nudez incomoda você, querida? - decido me divertir um pouco com isso.
-Não! - ela fala, seu rosto ficando mais vermelho do que tomate. -Não incomoda, muito pelo contrário. Mas o fato de não me incomodar que você precisa vestir uma roupa.
-Vestir uma roupa? Qual o problema com minha vestimenta atual, Maisie?
-Acho que o verdadeiro problema está no seu cérebro. - ela fala, batendo o indicador na cabeça.
-Não preciso colocar uma roupa se você quer tirá-la de qualquer jeito.
-Só porque eu quero tirá-la, não significa que eu vá tirar.
-Então você admite querer tirar minha roupa? - não consigo evitar o sorriso que surge em meus lábios, quando ela fica mais vermelha ainda.
-Seu idiota. Tarado.
-Você gosta.
-Eu nunca disse isso.
-Mas não negou. - ela arregala os lindos olhos castanhos e engasga.
-Pare de mexer com a minha cabeça.
-Não, é bem engraçado ver você com vergonha.
-Pelo menos algum de nós tem vergonha.
-Não preciso ter vergonha disso. - digo, apontando para meu torso descoberto. Ela me encara, e depois desvia o olhar, corando.
-Um homem grande com asas, é só isso que você é.
-Na verdade, isso se chama illyriano. - eu falo, e ela revira os olhos. -E posso te mostrar que não sou só eu que sou grande.
-Do que está falando? - ela pergunta, meio confusa. Um sorriso travesso surge em meus lábios. Ela arregala os olhos e abre a boca, chocada. -Seu tarado!
-Eu diria que sou sincero.
-Está flertando comigo, Azriel?
-Não, estou conversando com você. Se eu estivesse flertando de verdade, você já estaria deitada na cama implorando pra sentir o quão grande posso ser. - ela esconde o rosto nas mãos.
-Não acredito nisso.
-Pode acreditar, querida.
-Pode por favor colocar uma roupa, para que eu possa conversar com você?
-Se você insiste tanto... - eu falo, me virando para pegar as roupas na gaveta. -Mas ainda acho que conversariamos melhor sem roupa.
-Ai não estaríamos conversando, você não me deixaria falar.
-Você talvez possa estar certa. Mas eu deixaria você falar, sim. Só que você estaria implorando. - ela arqueja. -Ou gemendo.
-Azriel! Você é um tarado!
-Por você. - eu respondo, colocando uma calça confortável, mas decido ficar sem camisa. Não costumava usar antes, e não começarei agora.
Me viro para Maisie novamente, e ela me encara com expectativa, enquanto me sento na cama, de frente para ela.
-Pode me explicar sobre suas sombras? - eu esperava qualquer coisa, menos isso.
-O que quer saber?
-Você as sente? Pode controlar? São frias? Quentes? Elas vem de você? Ou você as pega do ambiente? Você sabe fazer isso desde quando?
-Uau, calminha. - eu digo, levantando as mãos pedindo trégua. -Eu as sinto, mas já me acostumei, e não me incomoda, na verdade nunca incomodou. Posso controlar, sim, e as uso para conseguir informações na maior parte do tempo. Elas tem uma temperatura bem específica, e não sei dizer se são mais frias ou mais quentes. Não, elas não vem de mim, eu apenas posso controlá-las, não são como as suas que você conjura. E eu sei fazer isso desde que me entendo por gente.
Ela estende a mão, passando pelas sombras que rodeiam meu peitoral, e minhas asas.
-Incrível. - ela murmura.
-Como funciona o seu poder? - pergunto, de repente, invadido pela curiosidade.
-Ele apareceu por acaso, quando eu tinha cinco anos. - ela diz, estendendo a mão para mim e conjurando sombras nela, que dançavam como se fossem névoa negra, só que muito mais densas e escuras. -Meu irmão tinha tropeçado em uma pedra, e iria cair no rio, então eu só estendi minha mão. E quando dei por mim, ele estava apoiado em um tipo de... travesseiro de sombras, tão densas que o impediu de cair. - ela fala, ficando com um olhar perdido no passado. -Chegamos em casa e contamos ao meu pai. Ele me contou que isso era o poder dele também, e que eu não precisava me preocupar, que eu aprenderia a controlar. Minha mãe não gostou muito da ideia, mas não tinha nada que ela pudesse fazer. Então aprendi a controlar pelo menos um pouco, mas perdi o controle aquele dia.
-Você se salvou.
-Acho que sim.
-Você salvou a si mesma, não precisou de nenhum príncipe encantado.
-Você foi meu príncipe encantado, Azriel.
-Estou mais para o vilão da sua história.
-Bom, você tem um humor sarcástico, se tiver um passado sombrio, já se qualifica. - ela brinca, mas fica séria em seguida. -Desculpe, não quis ser indelicada, eu nem conheço seu passado.
-Não se preocupa.
-Sabe, Az, é bom conversar com você. - ela fala, enrolando a ponta de uma mecha de cabelo no dedo. -Só conversar, brincar, rir um pouco. Me sinto quase como se eu não estivesse quebrada.
-Você não está quebrada.
-Estou tão quebrada que não sei se é possível me consertar de novo.
-Podemos tentar juntos. - ela me olha com certa melancolia.
-Você é bom, Az, você é bom.
-Levarei como um elogio.
-Foi um elogio. - ela responde, bocejando.
-Está com sono? - pergunto, me levantando, e indo arrumar meu lugar no chão.
-Um pouco, sim.
-Então vou deixar você dormir. - digo, me afastando, mas ela engatinha pela cama, e puxa a barra de minha calça, me impedindo de ir.
-Az...? - ela me chama, e eu me viro.
-Sim, Mai?
-Fica comigo, por favor? - ela parece envergonhada. -Na cama, eu digo. Quer dizer, dormir comigo.
-Você quer que eu durma com você na cama?
-S-sim. É que... eu não tive pesadelos quando você me segurou mais cedo. E tenho medo de ter pesadelos de novo. - quando não respondo, ela rapidamente continua. -Não quero t3 obrigar a nada, nem ser egoísta, foi só... uma sujestão boba.
-Eu posso mesmo dormir com você?
-Sim. - ela fala, mas cora, e me olha com um olhar estranho. -Mas só dormir.
-Claro, jamais tocaria em você sem permissão, linda. - ela assente, e eu me deito na cama, cobrindo nós dois com o cobertor, e esticando a asa esquerda sobre Maisie, para dar a ela uma sensação de segurança. Ela se deita de costas pra mim, com uma distância considerável entre nós. Quero encurtar a distância, quero abraçá-la, mas me seguro, e viro de costas também.
Quando acho que Maisie já pegou no sono, ela pergunta.
-Az?
-Sim, Mai?
-Você tem alguma coisa pra me dizer?
Sinto meu peito se apertar. Quero muito dizer a ela, mas não posso. Não desse jeito. Não agora. Tenho medo da reação dela. Então decido esconder por mais um tempo.
-Não. - respondo, torcendo para parecer convincente o suficiente.
-Enrendo. - é só o que ela responde.
-Por que? - pergunto, com medo.
-Não, não é nada. - ela diz, e depois de alguns segundos, sua respiração fica pesada, e sei que pegou no sono. O que me deixa um pouco tranquilo.
Mas por algum motivo, estou com um péssimo pressentimento. Como se algo fosse acontecer.

A Prometida das Sombras (em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora